O que eu fiz de errado?
Repassava nossa última interação tentando entender onde errei, mas nada encontrava:
Ao fim da aula intensiva de química, desci as escadas lentamente, olhos ardendo, a mente turva. Todos eram borrões, exceto ele.
Até então, jurava que Alexander não tinha calças jeans. Mas lá estava ele, dentro de um jeans claro perfeitamente ajustado que ressaltava seu porte físico. A camisa de algodão cinza demarcava o peitoral.
Senti um calor estranho subir pelo corpo.
O vento mexia seus cabelos. Os olhos, tão vívidos quanto o céu claro, capturaram os meus, e a expressão no rosto — atenção e preocupação — acelerou meu coração.
Altamente atraente, e melhor, acessível. Logo percebi: era Alex.
O jeito firme e protetor como segurou minha cintura me deu frio na barriga. Com paciência, ajudou-me a andar, depois afivelou o cinto de segurança em mim com delicadeza.
Através de olhos pesados, observei as veias do seu braço enquanto ele segurava o volante e dirigia atentamente, e aí...
Nada. Não me lembro de mais nada. Acordei na cama, quase quatro da tarde, coberta e descalça.
Uma sensação doce e confortável me envolvia. Tinha sonhado com Alexander. No sonho, ele acariciava meus cabelos com ternura, como se pudesse apagar qualquer memória dolorosa. O toque de seus dedos gentis parecia real.
Seu carinho deixava claro que ele tinha um afeto genuíno por mim. Me senti cuidada, protegida, talvez até... amada.
Mesmo sabendo que no mundo real isso jamais aconteceria, o sonho mexeu comigo. Passei o fim de semana sentindo saudades de alguém que só existia em sonho.
Na segunda-feira, não aguentei a saudade, liguei para ele. Uma voz fria atendeu — Íris, a secretária. Deixei recado, sem retorno. Aquela pequena brecha que ele pareceu começar a abrir se fechou subitamente. A sensação de que fiz algo errado só aumentava.
Então veio o golpe:
Alexander contratou um motorista para mim.
A notícia doeu em diferentes camadas, principalmente por ter vindo de Gutierre, não dele.
— Não é bom andar sozinha com tantos livros pesados. E a escola já está retornando. Imagine dormir mais uns minutinhos sabendo que alguém te levará pontualmente às aulas? — disse Gutierre, otimista, como se fosse um presente.
Ele estava certo, mas esquecia do motivo por trás da atitude de Alexander: eu era apenas uma tarefa a ser delegada.
Por isso não esperava que hoje ele aparecesse na minha casa e dissesse: "feliz seis meses de casamento!". Era sim nosso aniversário de casamento, mas não havia felicidade em lugar nenhum.
O dia estava horrível. A escola foi opressiva. No cursinho, meu professor favorito de história — que sempre elogiava minha organização ao pedir minhas anotações para saber onde ele havia parado — sentiu-se mal e precisou sair para o hospital.
Agora, sentada nos degraus, triste e preocupada, esperava o motorista que só chegaria em uma hora. Coloquei a mochila ao meu lado e apoiei as bochechas nas mãos, assistindo alunos irem embora enquanto carros chegavam e portas batiam — mas nenhum para mim.
Não podia ir andando. Após um mês com o carro sempre me esperando, acostumei-me a levar mais peso na mochila.
Suspirei, frustrada com minha falta de independência. Assim que completasse dezoito, compraria um carro com o dinheiro que tio Thales me deixou, o qual estava sob tutela de Alexander.
Cerca de meia hora depois, um carro passou. Nada demais. Até que voltou de ré. O vidro escuro abaixou lentamente.
— É você, docinho?
Meus ombros tensionaram.
Ele saiu do carro. De jaqueta preta, caminhava em minha direção exalando confiança. Mascava chiclete despreocupadamente, e a lembrança do hálito de menta automaticamente me veio à mente.
Guilhermo parou diante de mim fazendo sombra. Tive que inclinar bem o pescoço.
A visão dele de baixo para cima já era impactante, mas não era só isso. O problema é que...
— O que faz aí sozinha?
— Estou... esperando alguém... — minha voz soou fraca. Desta vez não era apenas sua presença que me desconcertava.
— O estressadinho? — seus olhos brilharam cheios de provocação.
— Não... meu... motorista. — De tão tensa, prendi a respiração. E eis o motivo do meu nervosismo:
A cintura dele estava na altura dos meus olhos e, mesmo mantendo o olhar fixo no dele, minha visão periférica informava que a barra mal ajustada da camisa preta exibia um pedaço de sua roupa íntima com os dizeres: Calvin Klein.
— Vou ser seu motorista hoje — ele pegou minha mochila e saiu andando.
Me levantei e fui atrás.
— O que está fazendo?
Ele abriu a porta de trás, jogou minha mochila, depois abriu a do passageiro.
— Entra, docinho.
Aquilo me irritou. Estava farta de homens decidindo e controlando cada passo meu.
— Não quero ir com você — respondi, mas não saiu firme. Não dava para ter firmeza sob a intimidação quase ameaçadora desses olhos de esmeralda negra.
Pouquíssimo da tatuagem estava visível sob a gola da jaqueta, de uma forma que a serpente parecia ainda mais instigante, um convite, como se o pescoço fosse uma tentação.
— Não me diga que está com medo do estressadinho — um sorriso provocador curvou seus lábios.
Desviei o olhar.
— Relaxa, docinho. Aquele ali não assusta um coelho.
— Se diz isso, não o conhece nenhum pouco — murmurei pensando nos olhos frios e cortantes.
— Conheço o senhor certinho mais do que você imagina — o tom de suspense me fez olhá-lo imediatamente.
— Como? — mal contive a curiosidade.
Ele percebeu minha mudança e deu um sorrisinho torto.
— Vamos supor que já dividimos quarto — disse com ar de mistério.
Meus olhos cresceram.
— Em que contexto vocês dividiram quarto?
— Entra, vai — ele indicou com a cabeça para o veículo. — Conto tudo o que quiser.
Com o sorriso malicioso e o olhar atiçador, ele sabia que dizer isso me motivaria. E deu certo.
Entrei no carro.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...