46. O vilão

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Tio Thales era um gênio.

Ele estipulou doze meses de casamento mesmo que o suficiente para mim fosse apenas dez. E o motivo estava claro:

Eu tinha Alexander na minha mão desde o início.

Se tivesse percebido isso antes, teria feito ele beijar meus pés com a ameaça de que aos dezoito pediria o divórcio e o deixaria sem as ações.

Mas não ia me autojulgar por isso. Aquela garota boazinha não teria coragem para algo assim. Eu, no entanto, tenho coragem para coisas bem piores.

Ao sair do banco — onde o próprio gerente fez questão de me atender e oferecer cafezinho e biscoito — consultei minha lista para aquele dia:

1. Ter acesso ao fundo financeiro

2. Devolver o colar estúpido

3. Comprar um celular

4. Contratar um advogado de divórcio

5. Comprar um carro

6. Descobrir o endereço de Anselmo Vilarino

7. Fazer uma tatuagem

O último item acrescentei na hora da raiva ao sair da empresa. Estava tão agitada que nem me despedi de Hugo direito. Mas talvez eu fizesse mesmo uma tatuagem. Algo significativo, não sei.

Parti para a tarefa da sequência, precisava logo de um celular após ter atirado o meu na parede. Entrei em uma loja e comprei. Caro. À vista. Doeu ver aquele todo dinheiro saindo da minha conta, mas lembrei que não fazia cócegas na quantidade de zeros dela. Seria difícil acostumar-me à ideia de ter tanto dinheiro.

Ele não teria meu novo número. Mas eu também não tinha o número de ninguém para salvar. E que bom. Sem ninguém na minha vida, não havia quem pudesse me machucar.

Desviei o foco dos meus pensamentos depressa, tentando soterrar o que descobri com o gerente: Alexander nunca movimentou um centavo do fundo. O dinheiro que me sustentou esse tempo todo foi do bolso dele. Por isso os depósitos que eu recebia não eram identificados. É como se desde o início ele estivesse cuidando de mim.

Mas eu não ia me deixar afetar por sua falsa generosidade. Certamente só fez isso porque me via como seu bilhete premiado que lhe garantiria acesso às ações de tio Thales, e sentia que me devia algo.

Agora, ia ficar sem as ações. Ele merecia isso. Eu não ia ter pena dele. Não ia.

Fui a uma cafeteria e pedi algo bem forte para ajudar a descer aquele nó na garganta. Puxei meu bloquinho de notas para riscar tudo o que já tinha cumprido. Em seguida, fiz uma busca na internet pelo item 4.

Mais cedo, quando fui conversar com Gutierre para preparar os papéis do divórcio, ele ficou todo cauteloso me explicando o que aconteceria com as ações e como isso prejudicaria Alexander a conquistar o cargo de sócio sênior na empresa. Logo entendi de que lado ele estava.

Mas não fiquei magoada com Gutierre, ele era advogado de Alexander e estava certo em defender os interesses dele. Ficou claro que preciso de um para defender os meus também.

A busca na internet se mostrou frustrante em meio a tantos nomes. Queria um pitbull como advogado. Um que destruísse Alexander caso se recusasse a assinar o divórcio.

Então tive uma ideia. Dei uma gorjeta generosa para o garçom simpático e saí com um destino em mente.

A praça do fórum estava movimentada, advogados engravatados andando apressadamente, parecendo máquinas de resolver problemas. O plano era abordar o advogado com mais cara de malvado.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora