Mal havia espaço em minha mente para me preocupar se estava com a roupa adequada para aquele restaurante.
Passei o trajeto de carro revivendo cada questão que marquei e depois mudei no gabarito, cada resposta que parecia óbvia demais. Meu cérebro estava preso em um labirinto. Alexander escolheu meu prato, percebendo que eu não tinha condições de raciocinar.
Enquanto aguardávamos os pedidos, melhores argumentos para a redação inundavam minha mente. Por que não vieram antes? Agora era tarde.
O fracasso doía nos ossos. Eu havia decepcionado a memória deles.
— Sei como está se sentindo, Sofie — a voz de Alexander me puxou de volta.
Olhei para ele e encontrei algo raro nas piscinas claríssimas: empatia.
— Também achei que tinha ido mal. Mas, de um nerd para outro, acredite, você vai passar — sua certeza parecia ter o poder de arrancar qualquer dúvida de mim.
Alexander era sempre tão certo de tudo.
— Como foi quando você viu o resultado? — perguntei, querendo me agarrar a uma esperança.
Ele soltou um suspiro quase imperceptível.
— Como se um peso de dez toneladas saísse dos ombros.
Me inclinei um pouco.
— E como comemorou? Se pintou com tinta e tudo?
— Não porque eu quis. Thales e Gutierre me emboscaram com um banho de tinta — ele revirou os olhos.
Uma risada me escapou com a imagem.
— Queria muito ver isso — coloquei a mão na boca para esconder o riso.
Um esboço de sorriso surgiu nos lábios dele.
Considerando que Alexander concluiu a faculdade em três anos, aos dezoito, deve ter entrado com quinze. Passar no vestibular tão cedo parecia fácil para ele, tão inteligente.
— Como foi ser um prodígio na faculdade? — perguntei, tentando esconder meu ressentimento comigo mesma por não ser boa como ele.
Alexander ficou sério.
— Não veja isso como algo impressionante. Já te disse que eu precisava da faculdade — pausa breve. — Mais especificamente, da residência universitária.
Peças do quebra-cabeças se movimentaram. Ele morou com Gutierre temporariamente, depois a faculdade como saída. Mas e antes disso?
Seus pais morreram quando ele tinha sete anos. Poderia ter ido para um abrigo de menores? Improvável. Uma vez sob tutela do Estado, pedidos de emancipação são praticamente impossíveis.
A comida chegou e o assunto morreu. Comemos em um silêncio tranquilo. Mesmo ele sendo tão reservado, eu gostava de sua companhia.
Um piano suave começou a tocar. Como estávamos próximos do instrumento, as notas graves sutilmente vibravam nossas taças.
Apreciar a sobremesa com um enigma de olhos azuis, ao som de uma bela melodia, era mágico, e me fez esquecer o mundo.
Não me iludia, sabia que ele só escolheu aquele restaurante afastado para evitar encontrar conhecidos e ter que fingir... que me ama.
De qualquer forma, a suavidade do piano tinha um efeito notável sobre Alexander.
— Você toca tão bem quanto ele? — perguntei.
Olhos claros migraram para mim.
— Não.
Mas não acreditei. Alexander era um homem dedicado demais para ser mediano em algo.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...