5. A sombra

25.8K 1.8K 311
                                    

Alexander

Uma chamada direta do conselho era tudo o que eu não precisava naquele dia. Aqueles velhos idiotas só ligavam quando algo estava à beira de explodir. Pelo visto, alguém na empresa tinha achado inteligente me deixar de fora da situação até que estivesse no ponto de ebulição.

Esse tipo de problema só iria acabar quando o conselho finalmente entendesse que a minha experiência era mais relevante que a minha idade para me tornar sócio sênior. Ou quando eu pudesse exercer os poderes sobre as ações de... Thales.

Sofie.

Enquanto dirigia, esqueci completamente a presença irritante dela no banco do passageiro.

No elevador da empresa, minha mente disparava com mil caminhos para resolver a crise, e mais uma vez esqueci a presença dela, só me lembrei ao escutar seus passos me seguindo.

Havia algo de incrivelmente perturbador em como ela passava despercebida por mim, como uma sombra que se move nas margens da minha visão, mas nunca chega a ser o foco.

Mandei ela sentar na recepção e foi um alívio não ter que me preocupar com uma sombra, mas assim que entrei na sala de reuniões, encontrei um caos que fazia Sofie parecer um problema simples.

Documentos esparramados sobre a mesa, rostos tensos e olhares desesperados esperando que eu, como sempre, resolvesse o que eles não conseguiam.

— Por que isso não chegou até mim antes? — perguntei, controlando o impulso de chamá-los de patrimônio histórico da incompetência.

Ninguém respondeu. Eu sabia que não teria respostas, só rostos pálidos esperando que eu tomasse uma atitude.

Hugo, meu maldito secretário novo, chegou todo atrapalhado com a cara de confusão de sempre. Respirei fundo já prevendo que ia soltar alguma idiotice.

— Senhor, o helicóptero está aguardando para levá-lo ao hangar. Me antecipei e pedi para prepararem o voo no jato. Já levei seu laptop.

Finalmente um acerto.

Foi inteligente da parte dele antecipar que uma reunião presencial com o cliente era a resposta imediata. Não havia mais margem para conversas por telefone ou e-mails redigidos às pressas.

Apontei para cada pessoa ao dizer:

— Jurídico, prepare um relatório detalhado sobre todas as cláusulas violadas. Comunicação, faça um levantamento completo de cada interação com o cliente nos últimos doze meses. Quero saber onde está cada erro. Agora. E você, cancele o resto do meu dia.

Eles acenaram, sem fazer perguntas.

A saída de emergência que levava ao terraço era um atalho mais rápido que o elevador. Segui por ela automaticamente, como de costume.

Entrei no helicóptero, o motor roncou, as hélices começaram a girar. Enquanto ganhávamos altitude, eu sentia o peso daquela crise se acumulando nos meus ombros. Ajustei o fone de ouvido e olhei para a paisagem da cidade abaixo. Tudo parecia pequeno, irrelevante. O silêncio entre mim e o piloto era bem-vindo. Precisava de silêncio para organizar meus pensamentos.

A razão de eu estar ali no alto era tão clara quanto irritante: um contrato multimilionário que estava prestes a ruir por causa de uma falha de comunicação com um dos nossos principais clientes internacionais. O tipo de emergência que não podia esperar.

Mas salvar aquele contrato não era apenas uma questão financeira. Era preservar a reputação que Thales e eu havíamos construído com uma frente comercial inteira.

Thales...

Sofie.

Droga.

Simplesmente a esqueci.

Era para eu levá-la para casa, mas não me dei ao trabalho de pensar duas vezes antes de subir direto para o terraço.

Mas agora, a lembrança dos seus olhos me atingia. Aqueles olhos grandes que me encararam cheios de perguntas que eu não estava disposto a responder. Eu sabia que tinha falhado com ela, de novo. Não como marido — esse papel era uma piada desde o início —, mas como ser humano.

Maldito Thales. Isso tudo era culpa dele.

Mas pelo menos eu podia sentir raiva dele. Era só o que eu me permitia sentir em relação a ele desde que se foi: raiva.

A urgência da situação com a empresa deveria dominar meus pensamentos, mas de algum modo, a imagem dos olhos magoados dela, deixada sozinha na recepção com seu uniforme de colegial e aquela mochila lilás ridícula, continuava me rondando. Mas eu não me importava o suficiente para voltar.

Droga. Não havia tempo para distrações.

Ela seria capaz de ir embora sozinha. Não era uma criança.

Foi tão irritante a forma como a diretora disse que eu tenho o dever de instruir Sofie sobre a vida. Instruir? Não sou pai dela.

Sofie era uma carga indesejada que Thales colocou sobre mim. Um fardo que eu não queria ter que carregar, mas sabia que não podia ignorar completamente.

A não ser que eu encontrasse alguém a quem delegar esse problema.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora