48. O tiro

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Eu no meio de uma multidão, dançando.

Luzes piscando, música alta, bebida queimando minha garganta.

Guilhermo dançando comigo. Nós dois rindo como se não houvesse amanhã.

Interações com mulheres desconhecidas na fila do banheiro. Ajudei uma garota a amarrar a alça de seu sutiã que tinha arrebentado. Elogiamos a roupa uma da outra e viramos melhores amigas para sempre.

Dançamos os três até ela dizer: "tenho que ir". Anotou o número de Guilhermo antes do meu e eu a entendia, ele era mesmo um charme.

O nome dela, não me lembro. Alguma coisa rimando com banana.

Uma bebida verde. Eu dançando sozinha como num show solo e Guilhermo ovacionado, me incentivando. Olhares de aprovação em volta e eu sem saber como tinha aprendido a dançar daquele jeito.

Um homem barbudo se aproximou e Guilhermo ameaçou decepar a cabeça dele. O barbudo ergueu as mãos e me deixou em paz.

Uma bebida azul. Algumas partes confusas e desconexas. Dança. Música. Alexander.

Alexander?!

Confusão, briga iminente entre Alexander e um homem imenso. Expressão assustadora que deixou os olhos claros sombrios. Interferência de outro homem segurando Alexander.

Eu no assento passageiro precisando de ajuda para colocar o cinto. Alguma pergunta saiu de mim e Guilhermo respondeu:

— Relaxa, eu dirijo muito melhor bêbado. Fico com cuidado redobrado, atenção total.

Ele dirigiu como uma tartaruga.

Eu com raiva reclamando que Alexander estragou a nossa noite, que eu estava vivendo minha vida de adolescente pela primeira vez e ele não tinha nada que ir atrás de mim; ele só podia ser um bruxo maligno para descobrir onde estávamos ou então me colocou um rastreador.

— Eu queria socar aquele nariz e fazer ele sentir a maior dor da vida dele! — exclamei, enxergando tudo dobrado.

— Quer ver ele sentir dor de verdade? É só falar de Elen.

Quem é Elen?, acho que perguntei.

— Se segura, docinho, porque agora vou te contar a maior dor do coração do estressadinho. Mas você tem que pensar bem antes de atirar, porque essa bala vai atravessar até a alma dele.

Ele começou a contar e bum!

Abri os olhos pesados e encontrei um teto com gesso detalhado.

Onde eu estava?

Por que minha cabeça doía tanto?

E que gosto ruim na boca era esse?

A luz solar atravessando o encontro de cortinas grossas incomodava meus olhos.

Não entendi como fui parar naquele quarto de decoração tão preta — cobertor, móveis e estante dessa cor —, até ver um homem de cabelos escuros dormindo ao meu lado.

— AH! — abafei o grito com as mãos, sentando na cama.

Guilhermo abriu os olhos preguiçosamente e me olhou franzindo as sobrancelhas.

— O que foi, docinho? — murmurou ele, a voz rouca.

Ele sentou na cama, seu tronco estava nu exibindo uma tatuagem de dragão no peito. Olhei para baixo, eu vestia uma camisa masculina.

Entrei em pânico.

— Ah, meu Deus, ah meu Deus — enfiei as mãos nos cabelos.

Fiz sexo com Guilhermo.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora