Sempre evitei passar perto de Yuri, mas ele estava na porta de entrada do pavilhão de aulas com seu grupinho de amigos e só havia aquele caminho.
O sinal do intervalo tinha acabado de tocar e eu precisava ir para a sala. Não tinha escolha, então abracei meu livro e continuei andando.
Assim que me aproximei, a conversa deles baixou o volume. Mantive os olhos à frente e tentei passar reto, mas Yuri esticou a perna justo quando passei.
Tropecei e quase caí; meu livro, por outro lado, não ficou no quase.
— Calma, Sofie a BV. Pra que a pressa? — Yuri zombou. A gargalhada ecoou entre eles.
"Sofie a BV" é o apelido que carrego há quase um ano, desde que minha ex-amiga, com quem compartilhei isso, espalhou pela escola inteira. Tenho dezessete anos e nunca beijei ninguém, e isso, aparentemente, é motivo suficiente para que eu me torne alvo de piadas.
A vontade de me virar e responder que agora sou casada — sim, casada — me queimou por dentro.
Mas não podia me gabar de ter um marido, já que continuava fazendo jus àquele apelido. Continuava sendo uma "Boca Virgem".
Faz um mês desde que assinei o contrato de casamento, e Alexander, como se fosse a coisa mais normal do mundo, seguiu sua vida sem sequer se preocupar em saber como estou.
Mas eu prefiro evitar pensar naqueles olhos azuis frios.
Respirei fundo e me abaixei para pegar o livro, um chute o mandou mais longe.
Eles gargalharam.
Tentei pegar novamente, e outro chute o afastou de mim. Era como um jogo para eles. Um jogo estúpido e cruel.
— Vocês podem parar com isso, por favor? — pedi, tentando manter o tom controlado, mas falhando em esconder a irritação.
Outro chute.
— Parem com essa idiotice — a voz de Ícaro soou firme quando interceptou o próximo chute.
Ícaro pegou o livro e o estendeu para mim. Antes que eu pudesse receber, Yuri o empurrou de forma desdenhosa.
— Qual é, Ícaro, não se mete! — disse Yuri, com seu tom valentão de sempre.
Ícaro não se intimidou, empurrou Yuri de volta, com raiva. Em questão de segundos, os dois estavam no chão, brigando.
E foi assim que nós três fomos parar na diretoria.
Enquanto cada um tentava contar sua versão dos fatos, permaneci calada.
Depois de um sermão daqueles, a diretora saiu da sala, deixando-nos sob a supervisão da vice-diretora em um silêncio insuportável interrompido apenas pelo ruído do ar-condicionado e o pé nervoso de Yuri batendo com o sapato no chão.
Em todos os meus 17 anos, essa era a primeira vez que eu ia parar na diretoria. Não sabia o que esperar.
O tempo passou lentamente até que a diretora voltou e liberou os garotos.
— Eu posso ir para a aula? — perguntei, desconfiada.
Ela me encarou com o olhar piedoso que estou acostumada a receber de todos que sabem que sou órfã.
— Vou dispensá-la das aulas hoje.
— Mas... por quê? Eu não comecei a briga. A senhora ouviu, foram eles que brigaram.
Ela respirou profundamente e tirou os óculos. Sem eles, dava para ver as linhas vermelhas na parte branca de seus olhos.
— Sofie, sei que você tem passado por momentos difíceis. Também sei que apelidos incomodam. Mas você é uma excelente aluna e espero que continue assim. Não se importe com provocações. Não há nada de errado em nunca ter beijado alguém. Você é muito jovem ainda. Não tenha pressa.
Curvei os ombros, derrotada. Não havia como explicar que o problema ia muito além de um apelido infantil.
— Sim, senhora Susana. Vou pegar minha mochila.
— Já está com o seu responsável. Ele te aguarda na secretaria.
Meu estômago gelou.
— Alexander?! — meus olhos quase saltaram para fora.
— Sim, é seu tutor agora, certo?
Tutor. Mal sabia ela o que aquilo realmente significava.
Ou sabia? O que ela e Alexander teriam conversado sobre mim?
E o que a diretora teria contado para ele? Será que, a essa altura, ele sabia o meu apelido na escola? Sabia que eu nunca tinha beijado ninguém?
Saí da sala com o coração disparado e as mãos suando.
Era a primeira vez nos veríamos desde que nos casamos.
Virei a quina que dava na secretaria e lá estava ele.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...