Meu marido indesejado

9. O calor

O suor descia do rosto e molhava a gola da camisa. Usava uma roupa esportiva: camiseta cinza clara, shorts e tênis de corrida. Os músculos dos braços e pernas se moviam com força e controle enquanto ele seguia um ritmo constante.

Alexander estava ali, correndo a poucos metros, com fones intra-auriculares sem fio. Que música ele estaria ouvindo?

Era estranho vê-lo assim, quase como se fosse uma pessoa comum e não aquele homem formal de olhar gélido que eu estava acostumada.

Impressionante como o terno escondia seus bíceps e o contorno das panturrilhas.

Como um homem de negócios que com certeza não passava horas na academia, ele não era altamente atlético, mas tinha, sem dúvidas, um corpo tonificado.

Fiquei estática observando o suor brilhando em sua pele e os cabelos bagunçados pelo vento.

O fundo verde das árvores, o cheiro da relva, o som dos passos firmes e decididos ecoando com o ritmo frenético do meu coração.

Alexander passou reto, sem olhar para mim.

Será que me viu quase beijando Ícaro?

Ele não pareceu ter notado a minha presença. Parte de mim sentiu um alívio imediato. Outra parte, no entanto, ficou inquieta, talvez desejando que ele tivesse visto que outro homem me notou como mulher, provando que não sou uma criança.

— Sofie? — Ícaro chamou, em tom preocupado. — Tá tudo bem?

Pisquei algumas vezes, voltando à realidade. Alexander agora estava mais distante, e aquele breve momento de tensão se esvaía, mas meu coração se recusava a voltar ao ritmo normal.

Ele era apenas um homem correndo no parque, nada além disso. Eu precisava me lembrar desse fato.

— Tá tudo bem. Acho que só... me perdi nos meus pensamentos — respondi, forçando um sorriso.

Ícaro me olhou com as sobrancelhas franzidas, mas não insistiu. Ele sempre sabia a hora de recuar, era uma das coisas que eu mais apreciava nele.

— Acho que... tá na hora de eu ir — falei, pois precisava ficar sozinha para processar aquela avalanche de emoções.

Afinal, eu quase beijei o meu único amigo na frente do meu marido. Era muito para digerir.

— Tudo bem, eu te levo para casa — Ícaro deu um sorriso meigo de lábios fechados, como se quisesse me garantir que tudo estava bem apesar do quase beijo de segundos atrás.

Só esperava que nossa amizade não mudasse depois disso.

Começamos a caminhar para a saída do parque, e enquanto Ícaro tentava puxar assunto sobre o novo vídeo no canal de trocadilhos do YouTube, minha mente vagava para Alexander. Vê-lo fora daquele ambiente frio e corporativo foi diferente. Ele parecia mais humano. Parecia mais... quente.

O calor que emanava de Alexander quebrou a imagem fria que eu tinha dele.

Talvez houvesse um outro lado dele que não fosse uma pedra de gelo. Talvez eu pudesse tentar descobrir um pouco mais sobre esse lado na segunda-feira, quando levasse meu boletim para ele assinar.