Fayla fez questão de me acompanhar no dia da matrícula. Me ajudou com toda a documentação e me apresentou o campus com euforia.
Vê-la sorridente me lembrou alguém que não estava nem um pouco feliz: Guilhermo.
Segundo ele, foi seduzido por uma medusa de cabelo cacheado que só queria usá-lo e depois o descartou.
Já segundo ela... nada. Fayla simplesmente não comentou nada.
Mas ela está certa em não se abrir comigo. Afinal, eu nunca me abri sobre a real natureza do meu relacionamento com Alexander. Confiança é uma via de mão dupla.
Fayla se mostrou uma amiga incrível inúmeras vezes. E, apesar de nossa amizade continuar a mesma, ela já não falava sobre tudo tão abertamente como no início. Eu temia que, se continuássemos guardando coisas uma da outra, perderia ela para alguém em que ela encontrasse mais confiança.
E como se não bastasse, enquanto eu entregava os documentos na secretaria, a funcionária perguntou:
— Estado civil?
Meu coração deu um salto. Em vez de responder, deslizei a certidão de casamento pelo balcão, sentindo minhas mãos suarem. Fayla, ao meu lado, fingiu distração, concentrando-se em um folheto sobre algum evento universitário.
Comemos um cachorro-quente e depois nos sentamos no morrinho gramado ao ar livre, cada uma com seu picolé. De acordo com Fayla, o morrinho era o lugar onde estudantes se deitavam para usar alucinógenos e ficar encarando o céu rodar.
— Nem acredito que sou universitária — comentei mais para mim mesma, olhando em volta fascinada.
— Prepare-se para surtar com provas e trabalhos, virar a noite estudando. E aí, ao fim do semestre, comemorar a sobrevivência em uma festinha duvidosa — ela sorriu maliciosamente. — Espera só até conhecer os gatinhos engravatados de Direito. Mas aconselho a não dar moral para aqueles metidos insuportáveis.
Seu sorriso morreu aos poucos. Guilhermo. Ela estava pensando nele. E nem podia desabafar comigo porque eu não inspirava confiança.
Limpei a mão lambuzada de picolé na calça jeans e me virei para ela.
— Fay... queria te contar uma coisa.
Ela me olhou de canto.
— Que tom sério. Deu até medo — brincou.
Endireitei a coluna, respirei fundo e soltei de uma vez:
— Eu sou... casada.
Fayla continuou me olhando em silêncio. Não ficou impactada, e aquele gesto de erguer as sobrancelhas demonstrava surpresa apenas por eu ter tocado no assunto.
— Alexander e eu nos casamos há quase um ano — continuei devagar. — Mas só no papel e com prazo para acabar. Moro com ele agora, mas... é uma coisa meio confusa. Enfim, só queria que você soubesse que não te contei antes porque a última vez que falei disso com alguém, deu muito errado.
Fayla piscou algumas vezes, processando.
— Você não precisava me contar tudo isso... — o tom dela era gentil e compreensivo.
— Eu sei, mas você é minha amiga e acho que ficar guardando as coisas só para mim estava prejudicando nossa amizade.
Fayla desviou o olhar.
— Para ser sincera, estava mesmo — ela confirmou. — Eu sempre te contava tudo e você mal me falava da sua vida. Comecei a sentir que a confiança era unilateral.
O peso de suas palavras caiu sobre mim.
— Me perdoa. Não quis que você se sentisse assim, Fay.
— Tá tudo bem, Soso. Eu entendo seu lado — ela colocou a mão no meu ombro de leve.
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Meu marido indesejado
Ficção Adolescente"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...