32. A impulsividade

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Alexander

— Íris, avisa aos acionistas da Dalton que reservei passagens executivas para eles darem um mergulho refrescante nas lavas do Krakatoa.

Ela se levantou e veio atrás de mim.

— Esse jantar é importante. Não devia cancelar.

Minha têmpora latejava pela pressão do dia, e os saltos dela ecoando aumentavam minha irritação.

— Milano é minha prioridade agora — respondi, torcendo para ninguém cruzar meu caminho até o elevador.

— Vai mesmo assumir essa conta?

O elevador abriu e alguém saiu com comida chinesa. Lembrei que não almocei; faltou tempo. Ia pedir para ele segurar a porta, mas assim que me viu, se atrapalhou e quase derrubou a embalagem. Era o estagiário que tremia de medo de mim. Me lembrou Hugo.

— Acho que não devia assumir essa conta. É demais — Íris insistiu.

— Você é minha secretária ou conselheira?

Consegui segurar a porta. Ao entrar e me virar, vi preocupação no rosto dela.

— Você está sobrecarregado. Me importo com você — disse em tom maternal.

Trabalhávamos juntos há três anos, sempre tivemos boa conexão, mas desde que voltou da licença maternidade, ela começou a bancar a mãe comigo.

— Importe-se com seu filho.

Apertei o botão e a porta fechou, me separando de um olhar magoado. Foi cruel. Eu sabia que ela chorava escondido por saudades do filho durante o turno.

Respirei fundo desejando não ver mais ninguém até chegar em casa e tomar um analgésico.

Mas encontrei a cara carcomida de Edgar no estacionamento, sentado no capô do meu carro.

— Alexander! Como vai, meu amigo? Soube que a reunião do conselho para o cargo de sócio sênior foi antecipada?

Mentira. A reunião seria em sete meses. Não duvidava que Thales estivesse por trás da escolha da data, era um mês após um ano de casamento. A essa altura, eu já estaria com as ações dele — e felizmente divorciado.

Abri a porta determinado a ignorá-lo.

— A propósito, como vai sua esposa? Sofie, né? Nome doce. Será que é docinha também?

Não foi a primeira vez que quis amassar sua cara, mas foi a primeira que parti para cima.

Agarrei-o pelo colarinho com tanta força que um botão arrebentou. Neste momento, o carro do Marcelo, um dos membros do conselho, passou.

Nunca caí em suas armadilhas. Onde, infernos, foi parar minha inteligência emocional?

Soltei o desgraçado e entrei no carro. Quis apagar seu sorriso com o pneu, mas resisti.

Sofie estava se tornando um verdadeiro incômodo na minha vida. Mal podia esperar para me ver livre dela.

Em casa, fui direto para o escritório, onde uma pilha de documentos da conta Milano me aguardava. Tinha passado parte da madrugada neles, mas agora não consegui me concentrar por uma hora. Nem o banho gelado ajudou a recuperar a concentração.

Inferno. Edgar me fez lembrar do outro parasita desgraçado.

Detestava aquele papel, mas infelizmente era meu dever proteger Sofie. Devia isso a Thales, e o faria até ela completar os malditos 18 anos.

Peguei as chaves e saí.

— Alex! Que milagre você por aqui! — Gutierre abriu a porta com um sorriso largo. — Como está Sofie?

O subtexto era: "como está sua esposa?".

— Vamos conversar — falei.

Fomos para o escritório.

Gutierre recostou-se na mesa enquanto eu me controlava para não chamar o filho dele de marginal, vagabundo, cangaceiro do diabo.

— Faça seu filho deixar Sofie em paz — disparei.

— Não vai me dizer que está com ciúmes — ele provocou, sorrindo.

Meu sangue ferveu.

— Não é ciúme, droga! Seu filho não é boa influência.

— Acho que está enganado, Alex. Guilhermo pode ser o amigo que ela precisa. Sofie está muito sozinha, vai ser bom eles se aproximarem.

— Ficou maluco?! — cerrei os punhos.

— Eles podem ser amigos. Nada demais nisso — ele continuou com a expressão divertida.

— Você pensa que o conhece só porque é seu filho, mas eu sei que ele tem segundas intenções!

— Acha que ele está interessado nela? — Gutierre alisou o queixo.

— Não é óbvio?!

Ele refletiu em silêncio.

— Moça gentil, educada, estudiosa... Seria uma honra tê-la na família.

O que você disse?!

Ele ergueu as mãos, sorrindo ainda mais.

— Alex, Sofie não vai te esperar para sempre. Uma hora alguém vai conquistar o coração dela. Se for meu filho, sinto muito, mas ficarei feliz por eles.

Antes que eu explodisse, a porta se abriu. Falando no diabo, ele entrou com seu maldito sorriso debochado.

— Ops, não quis interromper. Só vim pegar a chave da Range. Quero impressionar a garota que vou levar para minha festa — ele passou a mão no cabelo olhando para mim. — Eu te convidaria, mas seria arriscado ter um X9 lá, né?

Mencionar um episódio de sete anos atrás, quando contei ao pai dele que ele escondia garrafas de vodka no quarto, mostrava como ainda era imaturo, apesar dos 20 anos. Ele tinha 13 na época, fiz o que era certo.

Gutierre pegou a chave e jogou, mas Guilhermo continuou me encarando com os dentes arreganhados.

— Valeu, pai. Aposto que Sofie vai gostar do banco de couro macio.

Avancei sem perceber. Peguei o vagabundo pela gola e o forcei contra a parede.

— Fica longe dela — rosnei.

Ele riu, irritantemente calmo.

— Relaxa, nervosinho. Ela aceitou o convite por vontade própria. E não se preocupe, não vou forçar nada. Tudo será... consensual.

Matar. Eu ia matar o desgraçado. Mas Gutierre entrou no meio, nos separando.

— Chega, garotos.

O vagabundo continuou sorrindo maliciosamente.

— Ela tem 17 anos. Se encostar um dedo nela, te mando pra cadeia — ameacei.

— Sou paciente, vou esperar ela fazer 18 — ele piscou.

— Nesse caso, vou te mandar direto para o colo do capeta.

— Por que não tenta a sorte? — ele sorriu ainda mais.

Tentei avançar, mas o maldito Gutierre impediu.

— Alex, se acalme.

Só então percebi que tinha perdido o controle por causa de Sofie pela segunda vez no dia. Me afastei e saí.

Recobrei a calma no caminho para a casa dela. Quando estava prestes a bater à porta, ela abriu.

Mas a imagem daquele vestido contornando a cintura fina de Sofie era algo que não pedi para ver.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora