A mulher das pernas cumpridas disparou batendo os saltos no piso. Hugo foi junto. Permaneci a três passos, deslocada, observando os dois falarem simultaneamente.
Alexander, com um simples gesto com a mão, os fez se calarem imediatamente.
— Um relincho de cada vez — disse Alexander.
— Senhor, a senhora Sofie chegou primeiro — Hugo falou depressa.
— Senhor Monteiro, preciso falar sobre o Grupo Átria. Estou negociando para incluí-los em nossa cartela de clientes — ela cruzou os braços como se isso selasse sua importância.
Alexander lançou um olhar rápido em minha direção e disse:
— Espere um minuto.
Então deu as costas e entrou na sala. A mulher me olhou vitoriosa antes de segui-lo e fechar a porta.
Com um suspiro de derrota, me larguei na cadeira.
Foi tão fácil para ele decidir por ela e não por mim.
Logo o "um minuto" virou dez. O que tanto eles tinham para conversar? Aposto que ela estava tentando seduzi-lo.
Hugo me ofereceu café, chá, biscoito, até balinhas, mas recusei com um sorriso educado.
Ele estava se esforçando para amenizar minha chateação. Mas por que? Duvidava que soubesse quem eu era. Ser casado comigo era uma informação que Alexander não teria prazer em contar.
Finalmente, a mulher de pernas longas saiu com um sorriso satisfeito. Pelo menos o batom vermelho continuava intacto.
Alexander disse secamente:
— Vem.
Fui atrás dele.
Ao entrar na sala, encontrei um ambiente organizado, cores sóbrias, tudo minimalista. Um reflexo da personalidade controlada e impassível dele.
— Senta.
Me sentei na cadeira à sua frente, tensa. Meu nervosismo cresceu com os olhos azuis intensos fixos em mim, esperando que eu dissesse algo que valesse seu tempo.
Apesar de intimidada com seu olhar, não pude deixar de notar como a gravata azul marinho fazia um tom sobre tom interessante com seus olhos claros.
— Eu queria... falar sobre a babá — comecei, hesitante.
Ele continuou me olhando, aguardando.
— Não preciso de uma babá. Quero que a dispense, por favor.
Ele voltou a atenção para o notebook e começou a deslizar o mouse.
— Não vou fazer isso — respondeu, sem emoção.
Eu precisava ser mais firme. Ou ao menos aparentar. Corrigi minha postura e tentei novamente.
— Tenho 17 anos, posso me cuidar sozinha.
— Você tem 17 anos, não tem idade para morar sozinha — ele nem olhou para mim.
Quis rebater que sou uma mulher casada e nada proíbe que eu more só. Mas não tinha coragem de tocar no assunto "somos casados".
— Eu morava sozinha antes — argumentei.
— Você morava com Thales.
Ouvir o nome dele machucou, como uma ferida que não cicatriza. O estranho foi ver algo diferente na expressão de Alexander. Algo como... dor? Mas ele rapidamente mascarou.
Se eles eram mesmo melhores amigos, por que Alexander não apareceu no enterro?
— Ele quase nunca estava em casa — minha voz saiu mais fraca agora. — Sempre me virei sozinha. Não preciso de supervisão.
— Eu decido isso — com os dedos batendo no teclado e os olhos na tela, ele encerrou o assunto assim, com frieza absoluta.
Senti uma onda de raiva crescer no peito. Ele estava sendo um tirano. Só aceitei o casamento para não perder o pouco de controle que tenho sobre minha vida e ele estava ali, dizendo que podia decidir sobre ela de forma arbitrária e fria. Eu não podia baixar a cabeça como sempre fiz.
Meu coração acelerou pela vontade/medo de reagir. A raiva de vê-lo tão indiferente, digitando no computador, ajudou a romper a válvula.
— Você não pode tomar decisões assim! Eu não sou sua mulher! — exclamei, me levantando, mas não saiu tão alto quanto eu esperava.
Ele parou de digitar e olhou para mim.
— Você nem é mulher ainda.
Aquilo doeu. Muito. Era assim que ele me via: uma criança.
Me virei para sair, sem saber se estava mais furiosa ou magoada.
— Sofie, espera.
O som do meu nome saindo da boca dele me fez parar. E me fez virar.
— Sente-se. Precisamos falar sobre o que aconteceu na escola — ele fechou o notebook.
Respirei fundo para acalmar meus batimentos acelerados e me sentei, mas com uma sensação confusa entre derrota e vitória. Eu tinha conseguido a atenção total dele e isso, estranhamente, parecia um tipo de prêmio; mas também um tipo de prejuízo.
— Disseram que você quebrou o nariz de outro aluno — seus olhos desceram para a minha mão enfaixada.
Ele claramente não se importava, só estava perguntando por obrigação. E por isso mesmo eu não ia contar. Seria muito humilhante.
Mas será que ele sentiria ciúmes de saber que alguém pegou na bunda da esposa dele?
— Ele me... provocou — desviei os olhos, escondendo a mão sobre a outra.
— Não importa. Quebrar o nariz de alguém não é a resposta. Você não devia deixar provocações banais te afetarem desse jeito. Aprenda a ter inteligência emocional.
Inteligência emocional? Ele nunca entenderia o que é ser invadida fisicamente a ponto de perder o controle.
— Nunca ter beijado alguém não é ofensa que justifique esmurrar outra pessoa.
Meu rosto ardeu de vergonha. Ele sabia do meu apelido na escola. Que humilhação.
— Não foi por isso que eu bati nele — murmurei, envergonhada. — Eu bati porque ele pegou na minha bunda.
Alexander ergueu as sobrancelhas, surpreso, depois as franziu, e eu quase podia dizer que ele estava indignado, mas para isso ele precisava se importar comigo.
— Ele mereceu o nariz quebrado — disse ele, me surpreendendo.
Meu coração bateu mais rápido. Alexander validou a minha atitude, concordou e, de certa forma, isso foi um apoio. Ele me apoiou.
— Mas não quero que faça justiça com as próprias mãos de novo. Fale com um professor da próxima vez que tiver algum problema — emendou, neutro, e isso me fez murchar.
Me senti ainda mais invisível. Para ele, eu era só um problema a ser gerido.
Antes que pudesse responder, o telefone tocou. Ele atendeu, murmurou algo, se levantou e, olhando seriamente para mim, finalizou:
— Não quero ter notícias da sua escola amanhã.
Me levantei e saí, tentando não demonstrar o quanto aquilo tudo me abalou e como eu me sentia ainda mais sozinha.
Tio Thales errou feio em me fazer casar com esse homem.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...