Alexander
Epistemologia é o ramo da ciência que estuda o conhecimento, como o adquirimos e como sabemos se algo é verdadeiro.
Epistemologicamente falando, Sofie é minha esposa.
Em termos de conhecimento e lógica, não há dúvidas. O vínculo que nos une transcende o simples contrato social ou os rótulos impostos pela sociedade. Não apenas porque há um papel assinado, uma certidão de casamento, ou pela consumação. Mas porque cada momento ao lado dela constrói uma base irrefutável de evidências.
O sorriso dela é uma prova empírica de que a felicidade conjugal existe. Seu toque gentil é uma demonstração tangível de conexão. O olhar que ela me dirige à mesa do jantar é uma lembrança constante de cumplicidade. O abraço que ela me dá quando chego em casa é a síntese entre acolhimento e pertencimento.
É nesse abraço que fica provado o quanto o conceito de lar vai além das paredes e do endereço. É ela. O calor dos braços dela. A maneira como sua respiração sincroniza com a minha na hora de dormir. O jeito como ela consegue dissolver o peso do dia, da vida.
Portanto, se o conhecimento se constrói a partir da experiência, da percepção e da razão; se a epistemologia busca entender como sabemos o que sabemos, tudo o que sou e tudo o que aprendi aponta para uma única conclusão irrefutável: Sofie é minha esposa.
Só há um problema nisso:
Relacionamento nunca fez parte dos meus planos.
Sentimentalismo atrapalha grandes objetivos. E eu mirava alto: ser sócio majoritário. Um feito que nem Thales ousou almejar. Exigia muito sacrifício, disciplina, foco absoluto, dedicação total.
Mas Sofie tinha se infiltrado na minha cabeça de um jeito que eu não conseguia olhar para o futuro e ver minha vida sem ela.
Cada plano de viagem, lá estava o rosto dela. Não era possível passar um dia inteiro sem trocar uma mensagem. Completamente impossível dormir sem sentir o cheiro de flor dela.
Sofie fazia parte da minha vida de maneira irrevogável. Eu a desejava e não era apenas seu corpo curvado. Era sua personalidade, seu riso fácil, seu jeito carinhoso. Tudo nela. Eu a queria. Eu a ansiava.
E isso era assustador.
O medo de perdê-la me paralisava. E havia inúmeras formas disso acontecer. Ela podia se cansar de mim e ir embora, podia encontrar alguém mais interessante, e podia... ser levada deste mundo por uma fatalidade.
Esses pensamentos eram tão sufocantes que muitas vezes eu pensava em fugir. Não literalmente. Fugir para dentro de mim de um jeito que Sofie não conseguisse me alcançar e, assim, não pudesse mais me afetar.
No entanto, toda vez que nos encontrávamos, eu desistia. Porque ela ficava tão feliz em me ver. E eu mais ainda em vê-la.
Com o passar dos dias, essa luta pela resistência foi ficando cada vez mais difícil.
E agora, o que eu era? Um homem casado que olha para o relógio questionando se está funcionando direito, porque precisa terminar todos os prazos a tempo de ir para casa onde sua esposa o aguarda com um sorriso doce.
Mas essa hora estava longe de chegar. Meio da tarde, uma pilha de contratos para revisar, e minha mente era constantemente roubada por uma preocupação:
Completaríamos um ano de casamento em sete dias.
Batidas à porta. Marcelo entrou. Respirei fundo. Visita de um membro do conselho, coisa boa não era.
Ele caminhou até minha mesa e parou. Felizmente não se sentou. Me encarou em silêncio por um instante até abrir a boca para lançar:
— Você não será indicado para sócio sênior.

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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...