38. A tormenta

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Alexander

Aqueles dois meses foram um verdadeiro inferno.

E não me refiro apenas à agenda esmagadora; o que realmente infernizou a minha vida foi ela.

No intervalo de cada reunião, eu conferia o celular com uma frequência que beirava o patético. Sempre esperando — implorando — qualquer sinal de vida dela.

Cada pausa era uma desculpa para verificar obsessivamente o celular.

Ela está bem? Almoçou? Precisa de dinheiro? Perguntas dessa natureza piscavam em minha mente o dia inteiro.

Gutierre dizer que ela estava bem era o mesmo que nada. Só uma resposta dela, uma única palavra, seria capaz de acalmar algo em mim que eu nem compreendia.

Sofie decidiu que eu não existia, e eu não podia culpá-la. Dei motivos suficientes para ela me ignorar.

Respeitei sua vontade de não falar comigo ao máximo que consegui. Mas havia dias — muitos dias — em que meu travesseiro parecia uma rocha, e os pesadelos com ela me perseguiam: algo terrível acontecia, e eu nunca conseguia chegar a tempo para protegê-la.

Acordava sobressaltado, necessitando desesperadamente ouvir sua voz para acalmar aquela preocupação desmedida, mas ela me negava a paz.

Como eu disse, aquela viagem foi infernal. E Sofie era minha diaba particular.

Quando ela rejeitava uma chamada, dava vontade de entrar em um avião e ir cara a cara perguntar o que ela pensava que estava fazendo ao me deixar louco de preocupação.

Meu único desejo era uma confirmação de que ela estava viva. Seria pedir muito?!

No instante em que voltei ao país, tudo o que eu queria era vê-la. Mas, àquela hora, ela ainda estava na aula. Um impulso irracional passou pela minha mente: invadir a escola, tirá-la de lá e encará-la de perto. Só precisava ver com meus próprios olhos que ela estava bem.

E depois iria brigar com ela por ter feito aquilo comigo.

Cheguei na maldita escola vinte minutos antes do horário. Enquanto a esperava, me preparava para comparar o rosto dela ao que minha memória guardava. Dois meses sem vê-la e minhas lembranças já mentiam, transformando seu rosto no mais angelical do mundo.

Sofie é bonita; fato.

Mas a mente enfeita memórias, intensificando aspectos agradáveis e suavizando imperfeições. O cérebro faz isso para que chamemos de inesquecível o que não passou de comum. É uma ilusão para nos fazer crer que algo foi mais bonito do que realmente era.

Os detalhes ganham nuances irreais, como o modo que o cabelo caía suavemente no rosto dela, emoldurando sua face com perfeição, e isso não passava de uma imagem falsamente enfeitada.

Então, finalmente, eu a vi.

E eis a primeira coisa que pensei: preciso ir ao cardiologista.

Logo em seguida veio o impulso irrefreável de abraçá-la. Ia fazer isso ali mesmo, e dane-se.

Mas nossos olhares se cruzaram, e não havia nada em seu rosto que indicava que ela estava feliz em me ver. Havia um distanciamento, uma calma que eu não reconhecia. A postura dela já não era a mesma. O olhar não era o mesmo. Sofie havia mudado.

E essa nova versão nitidamente não estava interessada em um abraço meu. Ela passou o trajeto completamente indiferente.

Quando olhou para mim e respondeu "estou ótima", finalmente encontrei uma única coisa na Sofie real que era diferente daquela da minha memória: a melodia da sua voz não era incerta; era decidida.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora