26. O contato

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O cursinho acabou como sempre: alívio e cansaço. Juntei meus materiais já pensando nas revisões que teria que fazer em casa.

A brisa fria me surpreendeu ao sair. Com o céu carregado e sem guarda-chuva, me preparei para um possível banho no caminho.

De repente, no meio da multidão de alunos, eu vi. Meu coração bateu mais rápido.

Encostado no carro, de braços cruzados, Alexander me encarava seriamente.

Não esperava vê-lo tão cedo. Apesar de ter desejado isso quando fiquei observando-o ir embora pela manhã, não acreditava realmente que o veria duas vezes no mesmo dia.

Respirei fundo, segurei as alças da mochila com firmeza e fui em sua direção. Nervosa, mas sem desviar os olhos dos azuis.

Alexander abriu a porta para mim. Um comando silencioso que obedeci.

Dentro do carro, o silêncio entre nós era denso. Ele olhava fixamente para a estrada, as mãos firmes no volante.

Pensei em algo para dizer que quebrasse a barreira gelada entre nós, mas sabia que não adiantaria. Alexander era assim. Suas ações falavam por ele, e me buscar já dizia mais do que ele admitiria em palavras.

Quando o carro parou em frente à minha casa, minha respiração saiu em um suspiro pesado. Ele continuou sem me olhar, mantendo as mãos no volante. Os ponteiros do relógio prateado em seu pulso marcavam os segundos se arrastando.

Por fim, Alexander olhou para mim.

— Seu celular — ele estendeu a mão.

Algo nele me fazia obedecer aos seus comandos sem questionar. Por isso, entreguei o celular sem nem pensar.

Alexander digitou rapidamente. Tarde demais, entendi que ele estava salvando seu número.

Mas já estava salvo. Salvo como Alex.

Desviei os olhos com o rosto quente, me sentindo flagrada.

— Me ligue se precisar — ele estendeu o celular de volta.

Tensa, peguei sem olhar diretamente para ele. E nossas mãos se tocaram.

Cargas elétricas percorreram todo o meu corpo. Mente e sentidos bagunçados, para mim. Mas ele, como sempre, se manteve frio e inalcançável.

— Obrigada pela carona — sussurrei segurando a maçaneta.

Hesitei antes de sair, esperando que ele dissesse algo mais. Mas nada veio.

Caminhei devagar, relutante em me afastar. Cheguei à porta e, quando olhei para trás, o carro já estava partindo sem qualquer sinal de hesitação.

Joguei-me no sofá onde dormimos na noite anterior e fechei os olhos.

Ele foi me buscar. O que isso significava? Estava sendo prático ao garantir minha segurança ou havia alguma sombra de afeto? Me dar seu número foi uma formalidade para emergências ou ele queria criar uma ponte de comunicação entre nós?

Olhei para a minha mão e percebi que segurava a chave da casa dele. Virei a chave lentamente entre os dedos. O frio do metal me lembrava a frieza do dono. Mas também representava uma abertura.

Para a maioria das pessoas, ter a chave da casa de alguém significaria um gesto de confiança. Mas com Alexander, tudo vinha envolto em camadas indecifráveis.

Tomei um banho gelado para despertar emocionalmente, preparei algo para comer e me concentrei em meus estudos. Era arriscado alimentar expectativas em relação a Alexander.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora