Alisei a saia do vestido branco, insegura e ansiosa. Era o mesmo do casamento, mas não tinha opção melhor. Eu precisava fazer compras.
A porta se abriu e encontrei os gentis olhos verdes de Raquel, esposa de Gutierre.
— Oi, Sofie! — ela me abraçou calorosamente.
Depois me deixou na sala e foi ver algo no forno. Olhei distraída ao redor, admirando a decoração rústica elegante. Nas outras vezes que estive aqui fui direto para a sala de jantar.
Um porta-retratos na estante chamou minha atenção. Seria um Alexander mais jovem?
Me aproximei e peguei a foto. Era um garoto de cabelos escuros, jaqueta preta, encostado numa moto Harley, com os braços cruzados.
Ele era incrivelmente bonito.
— Invasão de domicílio: pena de um a três meses de detenção — uma voz baixa e ameaçadora soou perto do meu ouvido.
Virei rápido, assustada, e o porta-retratos escapou da minha mão. Teria caído no chão, não fosse sua mão ágil. Era o garoto da foto.
Seus olhos verdes me encaravam com uma intensidade desconcertante, tentando me intimidar. Os cabelos escuros caíam desordenados sobre a testa. A tatuagem discreta na lateral do pescoço — uma pequena serpente — quase se escondia sob a gola da camisa preta. Ele exalava perigo, mas de um jeito atraente, como se o perigo fizesse parte do seu charme.
— Eu... eu... só estava olhando... — gaguejei, nervosa.
Ele abriu um sorriso malicioso, mascando chiclete calmamente.
— Eu sei — senti o cheiro fresco de menta quando ele abriu a boca. — Eu vi.
Meu rosto esquentou de vergonha. Ele nem fingiu que não tinha me visto olhando sua foto.
O garoto se inclinou para colocar o porta-retratos no lugar. No processo, seu corpo se aproximou do meu, sem desviar o olhar.
Aqueles olhos verdes escuros pareciam uma floresta densa e perigosa convidando a entrar, mas deixando a dúvida se haveria saída.
Engoli em seco, minhas mãos suaram. Sua proximidade, o hálito de menta e o jeito intimidador me deixaram tonta. Ele sabia o efeito que causava e claramente gostava disso.
— Você já conheceu Guilhermo! — Raquel surgiu ao meu resgate. — Este é nosso filho mais velho, está de férias da faculdade e veio nos visitar. Filho, esta é Sofie.
— Prazer, Sofie — ele estendeu a mão.
Sequei a mão discretamente no vestido e apertei a dele. Ele apertou com mais força do que necessário. De propósito.
Gutierre apareceu, me cumprimentou calorosamente e logo fomos para a sala de jantar. À mesa, enquanto Gutierre e Raquel conversavam animadamente com Cecília, a filhinha de dez anos, eu estava inquieta por dois motivos:
1. Tentava comer devagar para dar tempo de Alexander chegar;
2. A presença de Guilhermo era desconcertante.
Seus olhares ocasionais para mim só aumentavam meu nervosismo. Ele atraía atenção sem esforço. Apenas existia, e isso bastava.
Para piorar, estava sentado na linha da minha visão para a porta. Eu olhava demais naquela direção e, por consequência, para ele.
Vi a tatuagem de rosa dos ventos na parte interna de seu antebraço. Quantas mais ele tinha?
— E então, Sofie, já escolheu o curso? — Gutierre perguntou.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...