27. O ciúme

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Alisei a saia do vestido branco, insegura e ansiosa. Era o mesmo do casamento, mas não tinha opção melhor. Eu precisava fazer compras.

A porta se abriu e encontrei os gentis olhos verdes de Raquel, esposa de Gutierre.

— Oi, Sofie! — ela me abraçou calorosamente.

Depois me deixou na sala e foi ver algo no forno. Olhei distraída ao redor, admirando a decoração rústica elegante. Nas outras vezes que estive aqui fui direto para a sala de jantar.

Um porta-retratos na estante chamou minha atenção. Seria um Alexander mais jovem?

Me aproximei e peguei a foto. Era um garoto de cabelos escuros, jaqueta preta, encostado numa moto Harley, com os braços cruzados.

Ele era incrivelmente bonito.

— Invasão de domicílio: pena de um a três meses de detenção — uma voz baixa e ameaçadora soou perto do meu ouvido.

Virei rápido, assustada, e o porta-retratos escapou da minha mão. Teria caído no chão, não fosse sua mão ágil. Era o garoto da foto.

Seus olhos verdes me encaravam com uma intensidade desconcertante, tentando me intimidar. Os cabelos escuros caíam desordenados sobre a testa. A tatuagem discreta na lateral do pescoço — uma pequena serpente — quase se escondia sob a gola da camisa preta. Ele exalava perigo, mas de um jeito atraente, como se o perigo fizesse parte do seu charme.

— Eu... eu... só estava olhando... — gaguejei, nervosa.

Ele abriu um sorriso malicioso, mascando chiclete calmamente.

— Eu sei — senti o cheiro fresco de menta quando ele abriu a boca. — Eu vi.

Meu rosto esquentou de vergonha. Ele nem fingiu que não tinha me visto olhando sua foto.

O garoto se inclinou para colocar o porta-retratos no lugar. No processo, seu corpo se aproximou do meu, sem desviar o olhar.

Aqueles olhos verdes escuros pareciam uma floresta densa e perigosa convidando a entrar, mas deixando a dúvida se haveria saída.

Engoli em seco, minhas mãos suaram. Sua proximidade, o hálito de menta e o jeito intimidador me deixaram tonta. Ele sabia o efeito que causava e claramente gostava disso.

— Você já conheceu Guilhermo! — Raquel surgiu ao meu resgate. — Este é nosso filho mais velho, está de férias da faculdade e veio nos visitar. Filho, esta é Sofie.

— Prazer, Sofie — ele estendeu a mão.

Sequei a mão discretamente no vestido e apertei a dele. Ele apertou com mais força do que necessário. De propósito.

Gutierre apareceu, me cumprimentou calorosamente e logo fomos para a sala de jantar. À mesa, enquanto Gutierre e Raquel conversavam animadamente com Cecília, a filhinha de dez anos, eu estava inquieta por dois motivos:

1. Tentava comer devagar para dar tempo de Alexander chegar;

2. A presença de Guilhermo era desconcertante.

Seus olhares ocasionais para mim só aumentavam meu nervosismo. Ele atraía atenção sem esforço. Apenas existia, e isso bastava.

Para piorar, estava sentado na linha da minha visão para a porta. Eu olhava demais naquela direção e, por consequência, para ele.

Vi a tatuagem de rosa dos ventos na parte interna de seu antebraço. Quantas mais ele tinha?

— E então, Sofie, já escolheu o curso? — Gutierre perguntou.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora