49. O arrependimento

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Uma sensação ruim me acompanhava desde que fiz atravessar em olhos azuis uma dor tão aguda.

Há três dias lancei o "e Elen?", e Alexander continuava desaparecido da minha vista.

A questão do divórcio pairava em um limbo que eu não tinha coragem de enfrentar. Minha consciência já estava pesada demais para adicionar outro golpe, seja fazendo Alexander perder as ações de tio Thales ao dissolver o casamento antes do prazo estabelecido no testamento; seja jogando-o na fogueira dos Vilarino.

Tio Thales não iria querer que as ações pelas quais ele tanto trabalhou fossem diluídas no patrimônio da empresa. Menos ainda que eu prejudicasse a carreira de seu melhor amigo.

Mas ele também não ficaria feliz com tudo o que aquele homem fez com sua sobrinha. Se soubesse dessas coisas, ele revogaria a herança de Alexander sem hesitar.

Então, sim, eu tinha o direito de ir adiante.

Mas não agora, um sábado à noite, enquanto me arrumava para sair com Guilhermo e Faylana (aquela amiga que fiz na porta de um banheiro).

Ainda não estava pronta quando Guilhermo chegou. Em vez de me esperar na sala, me seguiu até o quarto e se jogou na minha cama sem cerimônia.

— O que está fazendo?! — reclamei, incrédula.

— Você conheceu a minha cama. Nada mais justo que eu conhecer a sua — e abriu um sorrisinho malicioso de canto.

A visão de outro homem em minha cama era desconfortável.

Alexander invadiu meus pensamentos, trazendo com ele o peso da culpa. Respirei profundamente, os ombros curvaram.

— Tá, não precisa fazer drama, eu saio — disse Guilhermo, levantando-se com um suspiro exagerado.

— Não é isso... é que... você estava certo.

— Eu sempre estou certo, docinho — ele sorriu, convencido. — Mas sobre o que desta vez?

— Elen mexe com Alexander — murmurei, mais para mim mesma do que para ele. Um ciúme bobo incomodava por ele ainda guardar sentimentos pela ex.

Guilhermo ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Você não devia ter falado disso com ele — a seriedade repentina dele me deixou inquieta

— Elen é uma ex tão importante assim? — perguntei, cruzando os braços para disfarçar a insegurança.

Ele hesitou por longos segundos.

— Elen é a mãe adotiva dele — pausa carregada. — Que o abandonou.

Aquelas palavras caíram como uma bomba em meu peito. Precisei me apoiar na penteadeira.

— Ela... o deixou sozinho? — minha voz saiu fraca.

Guilhermo hesitou novamente.

— Com o pai adotivo. E deixá-lo sozinho seria bem menos ruim que isso.

Meu coração despencou.

O que isso significa? Que Alexander ficou sob os cuidados de um homem horrível?

— Como você sabe disso, Guilhermo? — perguntei, lutando contra o nó na garganta.

Ele caminhou até a janela e se encostou, apoiando as mãos no parapeito atrás de si. Sua hesitação estava nítida, e durou tanto tempo que achei que não sairia mais nada.

— Lá pelos meus treze anos eu era meio rebelde — ele começou, a voz introspectiva, passando uma perna na frente da outra. — Brigava com meus pais o tempo todo. Alexander morava lá na época, ficava na dele, quieto. Um dia a briga foi tão feia que decidi ir embora de casa. Entrei no quarto transtornado pegando minhas coisas e dizendo que ia sumir no mundo. Alexander tentou me dissuadir, dando uma de irmão mais velho.

Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora