Ainda sentia o abraço dele — desesperado, quente, como se sua preocupação ainda me envolvesse. Só de lembrar, borboletas batiam no meu estômago e um calor subia pelo rosto.
Passei a noite revirando na cama. A sensação de estar em seus braços me mantinha acordada. Acabei estudando física até as três, tentando escapar dos meus pensamentos.
Quando o despertador tocou às seis, a primeira coisa que me veio à mente foi a imagem de olhos cor das águas cristalinas que beijam as praias Maldivas.
Na escola, a concentração se perdia em flashes do cheiro dele. No cursinho, me forcei a focar nas fórmulas para esquecer seu calor.
Estava indecisa sobre ir à festa. Alexander não ficaria feliz, mas por que moldar minhas decisões ao que ele queria?
Ele não me via como esposa, nem digna de respeito. Vivia fingindo que eu não existia. Em seis meses, todo contato que tivemos foi por iniciativa minha, enquanto ele me tratava como um inconveniente em sua agenda.
Não foi justo ele me recriminar por ter saído por algumas horas ontem, sendo que ele some por longos períodos sem se preocupar comigo. E mesmo que eu lhe devesse satisfação quanto ao horário de chegar em casa, aquela grosseria foi desproporcional.
Considerei ir à festa só pelo lazer, sem o propósito de descobrir informações sobre ele. Queria mesmo ir? Tinha tanto para estudar, mas não queria desmarcar.
Guilhermo é filho de Gutierre, e mesmo que às vezes me assustasse, duvidava que fosse má pessoa. Tio Thales provavelmente o conhecia, e permitiria minha ida. Mas agora eu não precisava de autorização.
— Por hoje é só, pessoal — disse o professor de filosofia. — Deixo com vocês um pensamento de Baldwin: "A mudança não ocorre sem um despertar".
Anotei a frase, como todas que ele dizia no fim da aula. O barulho de cadeiras arrastando ecoou.
— E lembrem-se: intercalar lazer e estudos ajuda o cérebro a não sobrecarregar. Aproveitem a sexta-feira!
Comecei a anotar automaticamente até perceber que era só um conselho, o qual decidi seguir ao mandar mensagem para Rosa: "Quer ir ao shopping comigo?". Ela aceitou na hora.
Rosa escolheu um vestido vinho. Era curto, mas ela estava tão animada com o quanto ficou bonito que não consegui rejeitar. Minha meia-calça equilibraria o comprimento.
Estava faminta, queria comer com Rosa, mas ela tinha que trabalhar. Me aconselhou a deixar o cabelo solto e passar bastante gloss, que compramos.
— Você vai brilhar hoje — ela me deu um abraço caloroso antes de sair do carro.
Rosa era um presente, uma presença feminina em meio ao meu mundo cercado por homens. Ela mesma disse que era boa ideia eu ir à festa fazer amigas.
O motorista sempre dirigia devagar, e cheguei em cima da hora. Na pressa, girei errado a torneira da pia do banheiro, que travou e ficou pingando. Minha força foi insuficiente para consertar. Quando Guilhermo chegasse, pediria sua ajuda.
De vestido vinho, meia-calça preta e gloss de cereja, confiei na escolha de Rosa tentando silenciar a insegurança.
Saí do quarto e ouvi a porta do carro batendo. Guilhermo era pontual, pelo visto.
Ao abrir a porta, no entanto, dei de cara com alguém que fez meu coração gelar.
O olhar de Alexander deslizou por mim, uma avaliação rápida, mas fez minhas bochechas queimarem.
Ele foi entrando e eu recuando. Fechou a porta e me encarou de braços cruzados. A expressão carregada fez os olhos claros parecerem escuros.
— Onde pensa que vai? — A voz gelada cortou o ar como uma lâmina.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...