Era nossa segunda noite juntos à mesa do jantar. O som suave dos talheres e a luz agradável do lustre acima de nós criavam um cenário pacífico. Por dentro, porém, o desespero gritava:
Como contaria para Alexander sobre a gravidez?
Quase um ano de convivência foi suficiente para ele demonstrar seus padrões de comportamento. Alexander sempre foi grosseiro, rude, insensível, arrogante e me humilhou mais vezes do que pude contar.
Esperar algo diferente dele não seria apenas ilusão, mas ingenuidade. Sua reação seria a pior do mundo. Ele poderia até sugerir um aborto, não me surpreenderia. Porque isso é Alexander.
Comi de cabeça baixa, sem coragem de olhar para ele. Tinha medo que meus olhos entregassem o segredo de que fiz um Beta HCG. E não estava preparada da para sua reação potencialmente devastadora.
Poucas horas antes, Fayla ligou dizendo que a ginecologista conseguiu me encaixar. Ela percebeu meu nervosismo nas frases confusas que gaguejei e se ofereceu para me acompanhar.
Me senti mal ao inclinar a ficha para esconder de Fayla que marquei "casada". Ela estava se mostrando uma amiga de verdade, e eu ali com a dificuldade de confiar.
Na sala rosa suave, a médica se apresentou simpaticamente. Fez perguntas básicas. Então veio a bomba:
— Quando foi a sua última menstruação?
Contei sobre o atraso e a pílula do dia seguinte. Ela explicou que atraso é um efeito colateral comum. Entretanto, não tive tempo de sentir o alívio, ela lançou:
— A eficácia depende da fase do ciclo menstrual. Se você tomou na fase em que a ovulação já tinha ocorrido, a pílula não funciona.
Minha pressão despencou.
Ela tentou me tranquilizar com um "não sofra antecipadamente". Mas como evitar, se fiz sexo desprotegido e agora contava unicamente com a sorte? Convenhamos, a sorte nunca foi minha melhor amiga.
Depois do exame físico, recebi os pedidos dos demais exames, incluindo Beta HCG — o de gravidez.
— Se der negativo, recomendo um método contraceptivo mais seguro. Camisinha sempre, mas associado a anticoncepcional. Aqui está a receita.
Minha respiração falhou.
— Anticoncepcional? Mas eu não... é que eu... não tenho o costume...
— Você pode falar abertamente, Sofie. Este espaço é seguro. Não precisa ter vergonha — disse calmamente.
Puxei o ar bem fundo.
— É que... não tenho vida sexual... assim. Marquei que sou casada, mas vamos nos divorciar logo. Então sobre anticoncepcional... não sei.
Ela uniu as mãos na mesa e me olhou compreensivamente.
— Lamento ouvir isso, Sofie. Mas agora mesmo é que precisa redobrar a precaução. É comum recaídas em relacionamentos. Imagine como seria mais complicado se esse exame der positivo.
Engoli em seco. Não queria tomar anticoncepcional. Era estranho no meu contexto.
— Quero vê-la em um mês com os resultados, ou antes, se o Beta der positivo.
Saí dali tonta, o envelope de exames pesando como chumbo.
— Você tá bem? — Fayla perguntou ao colocar o cinto. — Parece que não gostou da consulta.
Não queria falar, mas com quem mais poderia conversar? Ligaria para Rosa, mas perdi seu número ao jogar fora o celular quebrado.
Alexander. Era com ele que eu deveria ter aquela conversa. Mas estava abalada demais para arriscar receber mais um golpe emocional daquele homem insensível.

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Meu marido indesejado
Ficção Adolescente"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...