Alexander
Ligação na madrugada nunca é notícia boa.
Quando é do seu advogado, então, esteja preparado para o pior.
Não fazia nem um ano que Gutierre me ligou na madrugada de um sábado para dizer que a única pessoa com quem eu me importava no mundo tinha parado de existir.
Então, quando vi o nome dele na tela do celular, meu corpo congelou. Soube imediatamente que algo ruim tinha acontecido com ela.
A voz dele pedia calma, mas como, infernos, eu não ia surtar com as palavras "Sofie" e "desaparecida" na mesma frase?
Começamos uma busca desenfreada. Eu cobrindo uma parte da cidade; Gutierre e o vagabundo do filho, outra. Descobrir que ela havia trocado de número de nada me serviu se ela também não atendia nesse.
Cada segundo sem respostas sobre ela era uma mortificação que doía nos ossos.
Hospitais. Eu irrompendo portas como um furacão contra funcionários que não estavam nem aí para o meu desespero; me mandavam esperar, apenas para, no fim, balançarem a cabeça. Ninguém com aquele nome ou descrição deu entrada. Ou talvez ela estivesse irreconhecível de tão desfigurada.
Estradas. O breu da madrugada zombando da força com que eu segurava o volante. O carro rugia pelo asfalto, a cada curva as mãos tremiam mais com os cenários grotescos em minha mente: Sofie caída em uma vala, o rosto pálido, ensanguentada.
Delegacias. Atendentes com expressões de pedra como se eu fosse um louco qualquer exigindo informações que eles não estavam minimamente dispostos a fornecer, mesmo eu berrando que tinha o direito de saber porque ela era MINHA ESPOSA.
Que madrugada infernal.
Finalmente, Gutierre ligou com a informação:
— Sofie está presa.
Respirei aliviado.
Uma onda de relaxamento que quase me fez desabar no chão. O coração aos poucos saiu do ritmo de escola de samba. Ela estava viva. Só isso importava.
No entanto, enquanto seguia a localização no GPS, a culpa encontrou espaço para me rasgar por dentro. Minha consciência acusava: Você falhou.
Se eu tivesse cuidado dela como deveria, nada disso estaria acontecendo. Eu era a droga do marido dela. Aceitei esse papel quando assinei o maldito contrato de casamento. Ninguém me obrigou a assinar. Assinei porque quis. Devia ter sido homem para assumir toda a responsabilidade que vinha junto.
Ao invés disso, o que fiz foi piorar a vida dela. Abandonei-a sozinha por meses. Depois a machuquei de todas as formas possíveis. Levei Sofie ao extremo, portanto, eu a empurrei para este momento.
Mas agora eu iria cuidar dela. Se ela me permitisse chegar perto outra vez. Se o ódio dela por mim não fosse irreversível. E mesmo que fosse, eu não desistiria de tentar. Em algum lugar dentro dela ainda existia a Sofie doce e gentil.
O que havia de bom em mim desapareceu há muitos anos. Ainda assim, Thales nunca desistiu de mim. Por que eu desistiria dela?
Não esperava que ela me perdoasse. Afinal, eu perdoaria as pessoas que, quando deveriam ter sido meu suporte no momento de vulnerabilidade, me trataram como um lixo?
Nunca. Eu nunca perdoaria aqueles três desgraçados.
Então Sofie também não tinha que me perdoar.
Cheguei na delegacia como um tornado. E lá estava ele. Guilhermo. O infeliz que levou Sofie para uma festa e deixou ela desaparecer, bêbada e vulnerável. Só de pensar na quantidade de coisas ruins que poderiam ter acontecido com ela, me dava vontade de transformar aquela falsa cara de culpa dele em papel de parede.

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Meu marido indesejado
Roman pour Adolescents"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...