Querido Troye

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"Querido Troye...

Eu sempre achei que não conseguiria viver esperando uma resposta de uma carta longa e escrita a mão, como meus pais faziam quando namoravam, e eu também nunca achei que teria a coragem de parar e escrever uma carta longa e manda-la pelo correio, mas aqui estou eu. Aqui estamos nós. Eu não escrevi para a Kayla, porque faz pouco mais de um mês e eu não sei como ela vai reagir. E eu só queria dizer que eu sinto muito. Eu cresci em uma cidadezinha no Minessota menor que o seu bairro, então não pode me culpar por querer ir embora, conhecer o mundo. Oito meses atrás, quando meu pai disse que estávamos indo para Perth eu quase fiquei maluco. Eu finalmente ia deixar La Crescent e o meu jardim. E eu sabia que ainda assim não seria suficiente. Eu estou em Zagreb, há duas semanas. Perto da casa que eu estou ficando tem esse café, de uma única portinha que vende o melhor café que eu já tomei, e se você virar a esquina você encontra um sebo com livros de todos os lugares do mundo por cinco kunas, o que não é nem um euro, e eu gosto de passar lá, se sobrou algum dinheiro no final do dia. Eu passei as cinco primeiras semanas em duas cidades diferentes da Bélgica. A primeira foi Antuérpia. Eu conheci uma senhora lá. Ela me contou a história dela. Em 1943 ela conheceu um rapaz aos 16 anos. Demorou uma semana para que se apaixonassem perdidamente e ai ele foi lutar na guerra. Ele morreu em combate e ela se casou, por ordem dos pais. Trinta anos depois a filha dela se casou com o filho dele. Você pode imaginar, Troye? Ele tinha vinte, quando se conheceram, mas já tinha um filho com outra mulher. Eles iam fugir para a Inglaterra depois da guerra, mas ele morreu. Como ela soube disso? Eles trocavam intermináveis cartas de amor, e quando ele parou de responder ela entendeu. Depois das três semanas que eu passei com ela decidi ir mais longe e trabalhei por duas semanas em uma plantação de morangos no interior do país. Eu não sei o que me levou para lá, mas era temporada e o produtor que eu conheci precisava de ajuda, então eu fui. E quando as coisas ficaram mais tranquilas eu peguei um trem de quinze horas até chegar em Zagreb. Eu vou muito ao sebo, a procura do livro do Steibeck que você me recomendou, mas a mulher vendera o último uns oito dias antes de deu chegar. Eu o procurei na Bélgica. Talvez tenha entrado em uns vinte sebos naquelas três semanas, mas não consegui encontrar a primeira edição. Ou qualquer outra edição, mas eu achei um outro livro que eu acho que você ia gostar, então ele estará sendo enviado para você. A mulher do sebo não fala inglês, mas o filho dela fala, então eu e ele temos conversado bastante.

Connor.

P.S.:Hoje já é o dia seguinte. Eu ia mandar a carta para você, maaas... O dono do café me deu um emprego. Acho que vou ficar aqui por mais quatro semanas antes de escolher meu próximo destino, então... Eu não sei quando volto. Por favor, me responda, para que eu saiba que você não está morto..."


-Troye? TROYE! - A voz de Kayla foi ouvida no andar de cima. - TROYE! ANDA LOGO! - Ele guardou a carta na gaveta, dentro de um caderno qualquer e agarrou a câmera.

-O que você estava fazendo?

-Terminando de me arrumar. Podemos ir? - Os dois entraram no carro de Kayla em silêncio e a garota o ligou.

-Kay? - Troye estava com a câmera desligada.

-Hm.

-Você acha que teremos uma história de amor?

-Do que você está falando?

-Hoje eu li sobre essa senhora, certo? E ela se apaixonou por esse rapaz aos dezesseis anos, mas uma semana depois ele foi lutar na guerra e morreu em combate. E esse cara tinha um filho e trinta anos depois a filha dessa mulher se casou com o filho desse cara, tipo... Você acha que um dia teremos uma história assim para contar? Acha que nós podemos ter o tipo de relacionamento que... Inspira outras pessoas?

-Talvez se você lutar na guerra. - Troye ficou em silêncio por alguns segundos.

-Kay? Você o ama?

-Do que você está falando?

-Connor. Você... Ama o Connor? - Ela ficou em silêncio.

-Podemos não falar sobre isso?

-Kay? Você é minha melhor amiga. Eu estou perguntando para a minha melhor amiga se ela ama o namorado dela...

-O namorado dela a deixou para correr o mundo. Eu não sei, Troye, tá legal?

-Você não pode culpá-lo.

-Por que você está tão interessado no Connor, de repente?

-Por que ele é meu melhor amigo? - Eles ficaram em silêncio.







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