Um "Plim" agudo despertou Sofia assustada de seus pensamentos. Com os olhos rapidamente checou o sinal luminoso do elevador. Dentro de um visor branco destacava-se o numero três, e então a porta se abriu permitindo que dois truculentos e tagarelas técnicos de manutenção deixassem o ambiente. Quase que no mesmo instante que os dois saíram, seus lugares foram ocupados por uma senhora baixinha com cara de poucos amigos e um rapaz pouco mais alto e triplamente mais gordo, que ao menos lhe cumprimentou com um quase inaudível bom dia. O elevador emitiu outro sinal sonoro e as portas começavam a se fechar quando uma mão quase que violentamente as forçou a abrir novamente. Entrou então um homem alto com cabelos negros e olhos escuros e brilhantes.
- Me desculpe! – Solicitou educadamente o rapaz a todos no recinto. – Com licença! – Disse à Sofia com um sorriso perfeito. Posicionou-se imediatamente à sua frente antes de apertar o número cinco.
Sofia permaneceu imóvel e espremida entre a parede do elevador e as largas costas do homem que tinha quase duas cabeças a mais de altura que ela. Ele exalava um perfume que nunca havia sentido e suas feições eram quase perfeitas. Não se lembrava de tê-lo visto antes, mas devia ser funcionário do hospital já que rapidamente pôde perceber um crachá em seu pescoço e parecia estar vestindo a tradicional camisa azul com o emblema da instituição. Mesmo de costas Sofia continuou contemplando o rapaz, algo parecia lhe chamar a atenção, algo além da beleza óbvia, o que lhe forçava novamente a pensar como nunca havia visto aquela criatura antes, apesar de parecer impossível esquecer aquelas feições.
Glória provavelmente já o conhecia. Ela era a primeira a notar qualquer homem diferente que entrasse naquele hospital, fosse paciente ou funcionário, todos já haviam ao menos passado pelo seu olhar. Não se lembrava dela comentando de ninguém com aquelas características, apesar que já havia até desistido de prestar atenção em tudo que ela falava. Era tanta gente diferente que acabava se confundindo.
Caso Glória não conhecesse aquele ali, era provavelmente porque trabalhava há pouco tempo no hospital, mas pouco tempo mesmo, porque se estivesse há apenas algumas horas com certeza ela já o teria visto.
"Plim" fez o elevador raptando Sofia novamente de seus pensamentos. Era o quinto andar e junto com a senhora mal-encarada, o estereótipo de homem perfeito deixou o ambiente.
No quinto andar ficava a administração. Talvez ele trabalhasse por ali. Fez uma anotação mental para se lembrar de perguntar a Glória quando a visse, mas no fundo não sabia por que estava tão interessada assim. Normalmente a beleza não era algo que lhe interessava de imediato nas pessoas. Lembrando disso resolveu desistir de perguntar qualquer coisa, não queria sujar sua imagem e começar a ser vista como uma desesperada à caça de homens clichês. Nunca precisara disso, não seria diferente agora.
O elevador continuou subindo e abriu novamente suas portas. Dessa vez no oitavo andar, e finalmente Sofia pôde sair. Ali se encontrava a ala pediátrica do hospital que aparentava ser um local muito mais alegre do que de fato era. Pintado com cores mais vivas e vistosas, era possível se observar presos em uma parede a presença de um Sonic convivendo harmoniosamente - e estranhamente também - ao lado de um Cebolinha dando sorridentes boas vindas a quem passava. Apesar disso, o clima na ala era bastante pesado, crianças tristonhas e fracas se encontravam deitadas em seus leitos vigiadas normalmente de perto pelos pais aflitos e cabisbaixos.
A sinfonia de choros e gritos de quem não entendia o que estava acontecendo consigo era absurdamente desesperadora e irritante. Nesse momento Sofia deu graças a Deus por não trabalhar ali, nunca levara o menor jeito para lidar com crianças, por esse motivo há muito tempo já havia optado por não ter filhos. Nunca teve paciência ou disposição para esse tipo de cuidado.
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Elafium: A guerra oculta
Mystery / ThrillerCom o intuito de fugir dos fantasmas de seu passado, a enfermeira Sofia Guerra resolve começar uma vida nova longe de sua família, em Anga-Guaçú - cidade do interior paulista que começa a sofrer com o repentino crescimento desordenado trazido por g...