CINQUENTA E SEIS (Parte um)

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Apesar de já ter vivenciado as situações mais asquerosas possíveis, aquela cena certamente lhe deixaria impressionada por um bom tempo.

Sem as duas mãos e com uma das pernas virada ao contrário, o corpo de Plínio Bianco jazia de bruços sobre o próprio sangue seco no chão. Suas costas estavam inteiramente carbonizadas e parte de seu rosto permanecia em carne viva revelando pedaços de seu crânio. Os olhos sem pálpebras perpetuaram-se arregalados encarando Sofia, como se suplicasse por ajuda.

Pela segunda vez no dia Sofia presenciava a morte daquele homem que desejara outrora as piores coisas do mundo, mas naquele momento uma certa amargura e remorso se contorciam em sua barriga e pôde perceber que de fato já o tinha perdoado a algum tempo. Sua avó de fato estava certa quando dizia que apesar da boca dura, ela tinha o coração mais mole do mundo.

Zaaria, que permanecia triunfante observando o corpo aos seus pés, sacou o Ovo de Kovarion de um de seus bolsos. Uma pequena faísca cintilante emergiu lentamente do peito de Plínio e então repentinamente, foi sugada para dentro do carisman onde se misturou às demais almas.

- Caskarun! No final teve alguma serventia. – Pronunciou a beriarti irritada, enquanto observava o movimento dentro do ovo.

O breve momento de distração de Zaaria, logo foi interrompido quando uma flecha atravessou o ar frio que cobria aquela noite e lhe atingiu rasgando o dorso da mão.

O Ovo de Kovarion foi imediatamente arremessado longe.

Zaaria, tomada pela fúria, avistou sobre uma das torres o guillen responsável pela flecha, e já se preparava para levantar vôo e ir atrás dele, quando se deu conta que todas suas cafineah estavam mortas no meio do pátio e nenhum de seus prisioneiros estava mais lá.

- Insikirus! Onde foram parar? – Gritou para o vento.

- Logo atrás de você.

Ao se virar, a beriarti encontrou Zuriel e Estéfano imponentes segurando suas kasini, enquanto logo atrás, Maia e Golias ajudavam Sofia a se levantar observados de perto por Amina.

- Inssuri mah duk! – Parabenizou Zaaria salivando o ódio que lhe envolvia a boca. – Conseguiram deixar as coisas ainda mais interessantes.

- Acabou Zaaria, renda-se de uma vez por todas. – Ordenou Zuriel calmamente.

- Isso nunca acontecerá guillen.

- Nós não precisamos continuar com isso, não há necessidade de mais sangue ser derramado.

- Claro que tem! – Intrometeu-se Estéfano. – Minha kasini não sossegará até esfacelar a carne dessa traidora.

- Quieto Estéfano! – Irritou-se Zuriel.

- Ele tem razão. – Continuou Zaaria. – Olhe ao seu redor. Não tem como essa noite acabar de outra maneira a não ser em morte.

Zaaria então com as asas abertas levantou vôo até atingir a altura da torre mais alta do castelo. Estéfano a seguiu imediatamente.

- Pare criatura! Não tem mais como fugir. – Disse então ao alcançá-la em meio às torres.

- Caskarun! Quem disse que pretendo fugir?

A beriarti então soltou um grito estridente que fez o ouvido de todos zunirem. Com as mãos erguidas, arremessou então para o alto uma grande bola de fogo que cobriu todo o céu e tingiu a noite de vermelho.

O súbito silêncio que sucedeu, logo foi quebrado quando o som de ganidos começou a surgir, e então, de repente, o pátio foi invadido por centenas de cafineah e teraks furiosos, que imediatamente atenderam o chamado de sua rainha.

Elafium: A guerra ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora