Começou ouvindo sons abafados ao seu redor. O corpo todo doía, mas as costas eram o que estava lhe matando realmente. Pontadas agudas atingiam sua cabeça, indo e vindo cada vez mais fortes. A luz começou a lhe incomodar mesmo com as pálpebras fechadas, então aos poucos abriu os olhos para tentar identificar onde estava. Estava deitada em alguma cama, sua vista ainda estava muito turva mas conseguiu identificar duas figuras que conversavam perto dela. Tentou falar alguma coisa mas sua garganta protestou arranhando de cima a baixo. Resolveu então movimentar as mãos para chamar a atenção dos dois.
Um deles se aproximou mais e segurou sua mão enquanto checava algo em seu rosto. Tentou novamente falar alguma coisa, mas dessa vez somente um ruído indecifrável foi possível de se ouvir.
- Calma enfermeira. – Disse a pessoa. – Você está acordando de uma sedação, então é melhor relaxar um pouco.
Apesar de ainda se sentir grogue e sonolenta, Sofia entendia perfeitamente o que a mulher lhe dizia, portanto as palavras lhe trouxeram estranheza imediatamente.
- Você quer que eu levante um pouco o seu leito? – Perguntou a outra pessoa.
Sofia concordou com a cabeça e logo sentiu a cama se inclinar até colocá-la sentada. Aos poucos começou a reconhecer o lugar. Estava na Unida de Terapia Intensiva do Hospital das Almas.
- O Doutor Euclides Amin já vai vir conversar com você. – Continuou o homem que havia levantado seu leito. – Eu acho que não me conhece. Eu me chamo Aurélio e sou um dos enfermeiros responsáveis pelo plantão da UTI adulto.
Sofia olhou então para o homem apenas para constatar que realmente não o conhecia. Aurélio Ottoni era um homem magro e alto que aparentava ter seus quarenta e poucos anos. Mantinha os cabelos bem curtos e tinha um semblante pacifico, apesar de sisudo.
- E essa senhora simpática aqui é a Dora. – Continuou Aurélio apontando para a outra pessoa ao seu lado. – Hoje é ela quem está escalada para cuidar de você.
A senhora apenas sorriu timidamente em resposta. Era uma mulher baixa e gordinha com pequenos olhos azuis desbotados por baixo de estranhos óculos meia lua. Tinha quase certeza que já a tinha visto por ali.
- Então está bem Sofia. – Concluiu Aurélio. – Descansa um pouco que mais tarde nós conversamos.
Os dois então imediatamente lhes deram as costas.
- Aurélio, espere um pouco. - Solicitou Sofia, interrompendo o enfermeiro antes que se distanciasse. - Posso falar contigo só um pouco?
O homem então assentiu e com um sorriso permitiu que a auxiliar fosse embora sozinha.
- Pois não, Sofia. - Disse se aproximando novamente.
- Eu preciso saber o que aconteceu comigo. Não consigo me lembrar direito.
O enfermeiro lhe lançou um olhar de dúvida.
- Talvez seja melhor esperar que o médico venha falar contigo. Quando chegou aqui eu não estava de plantão, então só sei o que me passaram.
- Ainda assim é melhor do que esperar para falar com o insuportável do doutor Amin. - Uma careta esquisita brotou no rosto da enfermeira nesse momento. - Detesto aquele cara, e sei que o sentimento é recíproco.
Aurélio riu.
- Bom. - Disse então se contendo. - Pelo que li no seu prontuário, você teve uma parada respiratória aqui dentro do hospital e te trouxeram às pressas para a UTI. Tentaram te reanimar mas você não estava estabilizando.

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Elafium: A guerra oculta
Mystery / ThrillerCom o intuito de fugir dos fantasmas de seu passado, a enfermeira Sofia Guerra resolve começar uma vida nova longe de sua família, em Anga-Guaçú - cidade do interior paulista que começa a sofrer com o repentino crescimento desordenado trazido por g...