Por mais que tentasse entender o que estava acontecendo naquele momento, o raciocínio de Sofia Guerra parecia estar tão confuso que nada mais lhe fazia sentido. A realidade era que realmente nas últimas horas havia absorvido tantas novas informações que seu cérebro fadigado estava a ponto de explodir, e talvez por causa disso não estivesse conseguindo compreender porque aquele pobre homem que conhecera visitando um leito de UTI há poucos dias atrás e que quase a fez chorar com a triste historia de seu filho moribundo, hoje estava dentro da casa de sua amiga fazendo das duas suas reféns por motivos que até agora não havia lhe explicado.
Sofia estava sentada em uma cadeira na sala, amarrada pelos pés e mãos como uma fina corda de cânhamo enquanto Plínio descia do quarto no andar superior trazendo Tereza para junto dela. Por diversas vezes pensara em gritar ou tentar escapar, mas lhe faltavam as forças, estranhamente ela, que sempre se considerou uma pessoa guerreira e incansável, estava ali sentada apática e imóvel.
- Anda logo garota! – Ordenou Plínio puxando Teresa pelo braço.
Ao chegar à sala ele a empurrou no sofá fazendo-a cair sentada e desengonçada. Imediatamente então se agachou e começou a amarrar seus pés novamente.
- Se eu ainda tenho direito a alguma coisa, gostaria de saber por que você está fazendo isso com a gente. – Solicitou Sofia desanimada.
- Infelizmente vocês não tem este direito. – Respondeu o homem ainda agachado sem se virar para a enfermeira.
- Mas que merda Plínio, o que foi que eu te fiz? Eu estava disposta a te ajudar e você simplesmente me apunha-la dessa forma com se fosse um psicopata fingindo ser um imbecil. – Irritou-se Sofia.
- Se eu fosse você, teria mais respeito por quem a ameaça com uma arma. – Disse Plínio apontando o revólver para a cabeça de Sofia.
- Sofia, pelo amor de Deus se acalme! – Suplicou Teresa. – Isso não é hora para se descontrolar.
Ela então olhou para a amiga com certa desaprovação e indignação mas seguiu seu conselho e se manteve calada.
- É assim que eu gosto, boa garota! – Zombou Plínio. – Agora quero as duas quietinhas. Vou precisar ir lá fora e vocês ficarão sozinhas por um instante, mas se tentarem alguma coisa... Bom vocês já sabem, né?
O homem fez questão de exibir a arma mais uma vez antes de dar as costas às duas e sair pela porta da frente da casa.
- Nós precisamos fazer alguma coisa para sairmos daqui. – Sussurrou Sofia assim que ouviu a porta bater.
- Não Sofia, nós não sabemos do que este cara é capaz. – Respondeu Teresa amedrontada. – É melhor você ficar quieta.
- Este cara é um tonto Teresa. Não tem coragem de fazer nada não.
- Como você sabe? Da onde você o conhece?
- Eu não o conheço, apenas trocamos algumas palavras duas vezes que nos encontramos, uma vez no hospital assim que tive alta e outra hoje à tarde no cemitério.
- Mas então o que ele quer contigo?
- Eu não faço idéia Teresa, devo ter nascido com um imã para gente maluca.
- O pior é que logo a Glória vai chegar em casa. Tomara que ela perceba que algo está errado antes de entrar.
- A Glória não vai dormir em casa hoje. Parece que ela encontrou uma velha amiga no velório e as duas combinaram de sair. Ela até deixou a chave comigo porque disse que ia dormir na casa da garota.
- Menos pior, assim ela não corre nenhum risco.
- De qualquer forma a gente precisa fazer alguma coisa, tentar avisar alguém.
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Elafium: A guerra oculta
Misterio / SuspensoCom o intuito de fugir dos fantasmas de seu passado, a enfermeira Sofia Guerra resolve começar uma vida nova longe de sua família, em Anga-Guaçú - cidade do interior paulista que começa a sofrer com o repentino crescimento desordenado trazido por g...