Seus ouvidos disparavam um alarme alto e agudo, aparentemente com o intuito de enlouquecê-la ou simplesmente explodir seus miolos. Uma dor potente lhe atingia com furor as costas enquanto o vento frio insistia em maltratar sua espinha arrepiando todos os pelos do corpo.
Ainda zonza e confusa, Micaela tentava entender o que lhe havia acontecido. Estava deitada de bruços sobre um desconfortável tipo de vegetação e gotas de água pingavam irritantemente sobre seu rosto. Com muita dificuldade levantou a cabeça e conseguiu perceber que estava deitada aos pés de uma grande cachoeira iluminada pela luz forte da lua cheia.
Aquela era a cachoeira Sestra. Foi ali que a policia encontrou o corpo do rapaz atacado por um gohren há algumas semanas atrás, e então, como se subitamente tivessem enfiado com violência uma agulha em seu cérebro, o raciocínio voltou a funcionar.
Estava seguindo as pistas de Juliana. A garota era namorada do rapaz morto na cachoeira e dizia não saber o que havia acontecido com ele, mas a C.H.As.E. havia encontrado os corpos dos pais dela dilacerados dentro de casa da mesma maneira que o garoto.
Aquilo mudava toda a história, Micaela sabia que a menina não era tão inocente assim e portanto resolveu seguir seu instinto na tentativa de encontrá-la.
Sua intuição acabou lhe levando para aquele lugar e não demorou muito para encontrar algo suspeito. Escondido em meio à escuridão das árvores, viu de costas, como se estivesse de tocaia, um homem baixo e gordo vestindo roupas bastante espalhafatosas. Logo percebeu que era um beriarti, então resolveu se aproximar cuidadosamente para que ele não a visse, mas conseguiu dar apenas alguns passos antes de sentir o golpe rasgar suas costas.
Virou-se já com as kasini em punho apenas para identificar o enorme gohren de pelos negros com as garras embebidas em seu sangue lhe encarando com os três olhos negros envoltos de ódio. Tentou então acertar um golpe, mas imediatamente sentiu as forças lhes serem sugadas por causa do ferimento e caiu de joelhos no chão. O lobo então se aproveitando do momento de fraqueza, pulou sobre ela e a derrubou de costas. Sua ferida latejou como se tivesse em chamas e gritou com a dor enquanto sentia o hálito quente e fétido do criatura lambendo seu rosto.
A confusão acabou chamando a atenção do outro beriarti. Micaela ainda conseguiu ver o momento em que ele se aproximou segundos antes de apagar de vez.
Não sabia quanto tempo ficara desacordada, mas naquele momento já com a visão devidamente restabelecida, pôde observar Zuriel sendo atacado por Juliana a poucos metros dali. A garota desferia golpes desengonçados e num determinado momento, estupidamente se desequilibrou e caiu batendo a cabeça fatalmente em uma rocha.
O guillen então abandonou o corpo já banhado pela vertente de sangue e se aproximou de outra pessoa também ferida deitada no chão a poucos passos dela.
Micaela gritou e acenou para chamar a atenção do kifon, mas ele parecia lhe ignorar. Sentou-se então com certa dificuldade para enxergar melhor o que estava acontecendo e viu o momento em que Zuriel se agachou próximo à pessoa no chão e a ergueu nos braços. Seus olhos se encheram de surpresa e quase perdeu o fôlego ao perceber que ele estava carregando alguém com a fisionomia idêntica a sua.
Desesperadamente ela voltou a gritar. Tentou se colocar em pé, mas as pernas não responderam corretamente.
- (Não adianta gritar ma duk. Ele não consegue te ouvir.) – A suave voz proferindo em savatinah surgiu ao seu lado como se estivesse escondida nas sombras. Micaela logo constatou que o dono era o beriarti gorducho que se manteve ali durante todo o tempo.
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Elafium: A guerra oculta
Mystery / ThrillerCom o intuito de fugir dos fantasmas de seu passado, a enfermeira Sofia Guerra resolve começar uma vida nova longe de sua família, em Anga-Guaçú - cidade do interior paulista que começa a sofrer com o repentino crescimento desordenado trazido por g...