SESSENTA E DOIS

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Sofia Guerra dificilmente marcava encontros românticos por mais despretensiosos que fossem. A sensação que tinha enquanto estava sentada na frente de um completo estranho em um ambiente público também repleto de desconhecidos, ouvindo histórias que provavelmente tinham sido inventadas apenas para aquele tipo de situação, era de completa tensão.

Simplesmente não conseguia relaxar, toda a atmosfera lhe parecia fingida demais, encenada demais, como se as duas pessoas envolvidas estivessem ali passando o texto de uma peça que iriam representar no final de semana. Detestava aquilo, não sabia deixar a sinceridade de lado nem mesmo nesses momentos, portanto acabava afugentando o rapaz cedo demais. No fundo a atitude era quase intencional mesmo, como se aplicasse um teste e aquele que resistisse a sua personalidade depois de alguns encontros poderia ganhar alguma chance com ela.

Não era de se admirar que seu estado civil continuasse o mesmo há décadas nas redes sociais e podia contar nos dedos de uma única mão a quantidade de namorados acumulados durante suas trinta e três primaveras.

Apesar disso, não se deixava incomodar, na verdade até gostava dos momentos de solidão e em tempos de completa fossa existia sempre Marvin, seu fiel escudeiro fruto de um extinto namoro que estava sempre pronto para lhe lamber o rosto em suas exaustivas tentativas para animá-la. Quem disse que relacionamentos falidos não deixavam boas marcas?

Analisando tudo isso naquele momento enquanto empilhava roupas que nem lembrava que ainda tinha em cima da cama, se perguntava por que raios havia decidido sair aquela noite com Zuriel, e ainda por cima com iniciativa dela própria. Devia estar completamente fora do juízo, principalmente por não ter ligado até aquele momento para cancelar tudo.

Todas as diretrizes apontavam para um completo fiasco. O cara parecia estar completamente apaixonado, nunca tinha saído com uma mulher antes e o pior, o cara nem era um cara mesmo. Era uma espécie de anjo guerreiro fingindo ser gente e que ainda por cima não gostava de ser chamado de anjo.

Aquilo ia dar em merda. Com certeza.

- Achei a outra mais bonita.

Por um momento havia esquecido que Teresa estava ali para lhe ajudar, a insegurança da situação exigiu medidas extremas e lá estavam elas em frente a um espelho julgando sua aparência enquanto ela trocava incessantemente de roupas e sapatos.

Sapatos. Definitivamente precisava comprar sapatos.

- Você não achou essa preta um pouco decotada não?

- Bom, mas a intenção desse decote é esta mesma, não é Sofia?

- Não tonta, eu quero dizer MUITO decotado. Não quero parecer desesperada.

- Imagina menina, achei essa blusa linda. Decotados são os vestidos da Glória, tem um que ela coloca as vezes que eu tenho até vergonha de olhar diretamente por muito tempo. Parece que vai me cegar.

- Mas também olha com quem você quer me comparar. A Glória só não anda pelada por ai para não ser presa por atentado ao pudor.

- Isso é verdade. – Concordou Teresa rindo enquanto ajeitava o cinto de Sofia. – Hoje mesmo quando sai de casa ela já estava se aprontando para sair.

- Isso é tão corriqueiro para ela, não é mesmo?

- Ô! Mas o mais engraçado é que o cara que vai sair com ela parece que é amigo do teu também.

- Meu o que?

- Ué, do seu... colega? O que te chamou para sair hoje, ué!

- Zuriel?

Elafium: A guerra ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora