NOVE

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Desde pequeno Alexandre Maia sentia dificuldade em seguir regras que simplesmente não compreendia. Por esse motivo sempre ouvia broncas de sua mãe quando resolvia comer doces antes do almoço ou mesmo de suas professoras que tentavam a todo custo lhe ensinar que existiam horários certos para as brincadeiras e para os estudos. Por algum motivo não conseguia entender porque não podia fazer o que julgava melhor para si a hora que quisesse.

Com o tempo entendeu que o que não poderia ser feito na verdade apenas não precisava ser visto, porém enquanto esperava sentado naquela pequena sala o sermão infindável de seu chefe terminar, lembrou-se de como sua impaciência e impetuosidade lhe causaram problemas no decorrer de sua vida. Aparentemente não havia aprendido a lição e assim como nos velhos tempos, lá estava ele novamente na sala do diretor tomando uma bela bronca.

- Você está me ouvindo Alexandre?

- Sim delegado! – Mentiu. – Completamente.

- Então o que o senhor tem a me dizer sobre o assunto?

O delegado Gregório Bonanssa, ao contrário do que indicava seu nome, era uma pessoa bastante irritada e rabugenta, sua fama era tamanha que todo o distrito às escondidas, caçoava de seu jeito dizendo que o que lhe faltava na verdade era um bom par de pernas que lhe distraísse. Tinha os cabelos grisalhos e sobrancelhas grossas sempre cerradas. Viúvo há quase dez anos, dedicara boa parte da vida a criação das duas filhas, agora adultas.

- Perdeu a língua investigador? – Irritou-se o delegado.

- Não senhor!

- Então me diga, porque raios o senhor teve essa idéia genial de invadir o Instituto Médico Legal junto de uma civil?

- Eu estava investigando o caso do incendiário.

- Com que autorização?

- Senhor, eu não podia esperar mais um documento para poder entrar no local novamente. Não tínhamos tempo hábil para isso. O senhor sabe como as coisas funcionam.

- Eu não sei nada! Não coloque palavras na minha boca.

- Desculpe senhor! – Arrependeu-se o policial.

- Agora você acha coerente atrapalhar os serviços de outras pessoas usando desculpas e mentiras?

- Não senhor!

- Pois fique sabendo que não é dessa forma que este departamento trabalha. Aqui nós seguimos os procedimentos e não ficamos desperdiçando o tempo das pessoas que nada tem a ver com as investigações por conta de achismo de uns ou outros.

- Mas eu estava indo colher evidências senhor. Meu trabalho se baseia nisso.

- Que tipo de evidências são essas que lhe obrigaram a envolver uma pessoa que não faz parte dessa corporação em uma investigação sigilosa?

Por um momento Maia permaneceu em silêncio.

- Ficou sem palavras, não é? – Continuou o delegado. – Então você sabe que não existe desculpas para seus atos, policial!

- Senhor, eu sei que não deveria ter envolvido a Sofia nessa história, mas eu tenho pistas que relacionam o caso do incendiário com o do vigia dos galpões. – Defendeu-se Maia.

- Que pistas Alexandre? Que pistas são essas que você nunca mencionou antes? E você deve estar maluco por achar que os dois casos podem estar interligados. Isso não é nenhum tipo de assassinato em série. Nos dois casos os suspeitos morreram no local.

- Eu sei, mas acredito que de alguma maneira existe uma ligação nos fatos. Senhor, eu tenho certeza que algo de muito estranho está acontecendo.

Elafium: A guerra ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora