OITO

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Sentada ao lado de Alexandre Maia dentro daquela viatura em direção ao instituto médico legal, Sofia constatou que se encontrava presa em algum tipo de desespero emocional.

Na manhã daquele dia acordou ao som de seu celular despertando às seis horas da manhã. Aparentemente havia se esquecido de avisá-lo que estava de férias. Tentou resgatar o sono perdido, mas os minutos passaram feito horas sem que sua mente já desperta voltasse a descansar. Resolveu levantar-se então. Em um colchão ao lado de sua cama, reparou deitados no chão Maia abraçado a Marvin. Aparentemente o barulho do despertador não havia sido suficiente para acordá-los. Deixou-os dormindo e desceu as escadas rumo à cozinha. Uma dor de cabeça insuportável indicava que precisava de um gole de café urgentemente. Enquanto deixou a água fervendo, correu ao banheiro para fazer xixi e escovar os dentes.

Sentada em sua poltrona na sala, já saboreando o café fresco, ouviu os passos do policial e do cachorro preguiçoso descendo as escadas. Maia já estava de banho tomado e devidamente uniformizado para trabalhar, tomou então um gole rápido de café roubou umas fatias de bolo que tinha comprado na noite anterior e correu para o carro despedindo-se de Sofia e Marvin. Foi só naquele momento de roupão em pé na varanda junto com o Pug e observando o carro do namorado se distanciar que se deu conta que aquele dia seria mais comprido do que os normais. Uma angustia misturada com inveja lhe tomou o corpo, tentou até se controlar por alguns minutos, mas sem nem ao menos perceber já estava com o telefone em mãos fazendo a ligação.

- Maia, você pode vir me buscar? Eu te ajudo com o caso.

Sendo assim, após alguns minutos de completo silêncio os dois chegaram ao Instituto Médico Legal de Anga-Guaçú. Maia se aproximou com a viatura da portaria e logo foi liberado para entrar. O prédio de poucos andares do IML se encontrava próximo ao Hospital das Almas.

- Quer rever os dados? – Questionou o detetive ainda estacionando o veículo.

- Não precisa. – Respondeu Sofia aparentemente insatisfeita.

- Tem certeza?

A enfermeira apenas o olhou visivelmente irritada antes de disparar:

- Roberto da Costa, quarenta e seis anos, casado, três filhos. Trabalhava a mais de vinte anos na fábrica de papelão Ravencroft. Descrito como gentil pela família e como funcionário exemplar pelos colegas de trabalho. Testemunhas disseram ter visto Roberto da Costa esparramar um líquido em alguns pontos da fábrica, o homem não demonstrou nenhuma reação mesmo sendo questionado sobre o que estava fazendo. Logo após acendeu um fósforo ateando fogo em todo o galpão. O fogo teve inicio aproximadamente as 16:23 da segunda-feira. Dezesseis pessoas foram encontradas mortas no local – inclusive o próprio Roberto da Costa - vinte e três apresentaram algum tipo de ferimento e quatro morreram após a internação no Hospital das Almas. Tem mais alguma coisa que eu precise saber?

- Não! Meus parabéns! – Impressionou-se o policial. – Tem uma memória boa, não é mesmo?

- Meu filho, eu sou enfermeira de pronto socorro. Dou conta desse seu serviço mequetrefe com um pé nas costas.

- Você é muito insolente mesmo, não é Sofia Guerra? Pois fique sabendo que desacato dá cadeia.

Sofia deu de ombros enquanto saía do veiculo. Maia trancou a porta e correu atrás da garota.

- Eu não estou entendendo porque você está tão irritada. – Esbravejou o detetive segurando o braço da namorada. – Você só veio atrás de mim porque quis, eu não te obriguei a nada não. Tenho muito mais coisa a perder com isso, minha carreira pode estar em risco caso algo dê errado.

Elafium: A guerra ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora