SEIS

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Ao contrário dos outros andares do Hospital das Almas, o sétimo parecia ter um clima um pouco mais leve. O ambiente era bem mais aberto e iluminado o que acabava afastando um pouco a sensação de claustrofobia eminente em todo o canto. Um grande hall dividia os ambientes e na parede era possível ler as informações para os supostamente perdidos. A direita se encontrava a maternidade enquanto a esquerda ficava a direção do hospital. Nos sofás do hall estavam sentados diversos familiares de pacientes que teriam vindo visitar os recém-nascidos e suas mães. Sofia passou por alguns enquanto se dirigia a um estreito e comprido corredor que levava à sala da supervisão.

Em sua cabeça estava se esforçando para acreditar que tudo que havia passado dentro do necrotério três dias atrás não passara de ilusão, uma pegadinha aplicada por sua mente confusa no momento. Apesar de ainda incrédula, parecia estar aos poucos se convencendo do que era mais provável, ninguém tentou sufocá-la, muito menos alguém dotado de enormes pares de asas coloridas. Algo aliás que nunca teria coragem de falar em voz alta para ninguém.

A ideia toda lhe parecia ridícula, isso vindo de alguém que conseguia invadir a memória dos mortos, fato que tentara esconder a vida toda. A primeira pessoa em quem confiou e se empenhou realmente para explicar seu segredo foi Maia, mas a história era tão bizarra e sem lógica que nem mesmo ele conseguiu acreditar. Só se convenceu plenamente ao encontrar o esconderijo do assassino que levava os olhos das vitimas como "souvenir" antes de jogar os corpos no rio. Na mente de uma delas, Sofia pôde ver claramente o local do cativeiro e contou para o detetive que mesmo desconfiado resolveu averiguar. Quando a policia chegou a uma velha casa aparentemente abandonada, encontrou um porão secreto onde o maníaco guardava suas relíquias dentro de vidros com formol no melhor estilo Hannibal. Por fim descobriu-se que o assassino não passava de um rapaz jovem solteiro e atlético que seduzia meninas e as mantinham presas em seu cativeiro durante a noite antes de sacrificá-las. No mesmo dia da descoberta Maia e sua equipe invadiram a agência bancária onde o homem trabalhava e o prenderam ali mesmo.

Depois disso o policial pareceu mudar a forma como enxergava a enfermeira, como se começasse a admirá-la mais. Foi então que o romance começou a engatar de fato.

Apesar de gostar bastante do policial, Sofia tinha uma dificuldade natural em assumir compromissos e se entregar aos relacionamentos. Parecia estar sempre desconfiada que a outra pessoa fosse lhe trair a confiança a qualquer momento. Podia ser até paranoia de sua parte, mas a experiência sempre lhe alertava que todos os seus relacionamentos haviam acabado em grandes decepções. Infelizmente Maia estava começando a lhe mostrar que não era muito diferente ao mentir e usá-la apenas para tentar solucionar um de seus casos. Sentia-se dando um passo para trás novamente.

Ao chegar em frente à sala da supervisão, não conseguiu evitar de se questionar novamente porque raios sua chefe queria falar com ela. Ainda desconfiada bateu à porta e a abriu.

Logo que entrou, ouviu a voz esganiçada da pessoa beirando o histerismo gritando com a secretária, que aparentemente assustada, ouvia tudo sentada à sua mesa.

- Isso já é palhaçada kamikaze. Eu tenho mais o que fazer da vida, se as duas rainhas desta pocilga querem falar comigo, tem que ser na hora em que eu posso. Agora me deixar plantado aqui durante todo este tempo já é abuso, não é mesmo?

- Ferdinando, infelizmente o dia está muito agitado e elas não conseguiram ainda te atender, mas elas me pediram que não o deixasse sair antes de conversar contigo. – Tentou defender-se a secretária das supervisoras, uma moça com cabelos negros e compridos, olhos puxados e um pequeno par de óculos que deixavam seus olhos ainda menores do que realmente eram.

Elafium: A guerra ocultaOnde histórias criam vida. Descubra agora