Sopa quente

2.6K 344 11
                                    

- Como anda o treinamento?
Soltei um longo suspiro.
- Sem resultado.
Claren ficou sem jeito.
- Bem, - Britta interrompeu - leva um tempo para controlar o inscius. E você é mestiça o que aumenta ainda mais a dificuldade.
- Isso mesmo! Não pode desanimar ainda!
Concordei com as duas sem ter meu ânimo mudado, ainda estava convencida de meu total fracasso. Talvez Akira devesse desistir de mim. Tinha passado a tarde inteira olhando para as três velas e nada aconteceu e ainda por cima não conseguia nem mesmo meditar, o livro ainda caía de minha cabeça e minha caligrafia era torta e confusa como meus desenhos. Suspirei.
- Ora! Vamos, tem que comer para recuperar as energias.
Claren serviu meu prato com mais sopa. Mergulhei a colher no caldo e a ergui. O caldo era dourado como mel, brilhava na luz do globo que eu ainda não entendia. Haviam tantas coisas que eu ainda não entendia. Não sabia como aquela geladeira funcionava, como as luzes apagavam durante a noite, como os espaços eram maiores por dentro que por fora, como eu tinha ido parar ali, como as coisas tinham acontecido, aquele enigma louco de uma mulher meio árvore que apareceu só para mim, porque minha mãe não me levou com ela, porque ela tinha fugido, o que ela é, eu queria saber, eu tinha que saber, não era justo eu ficar ali parada simplesmente esperando enquanto ela emfrentava o que quer que fosse. Não era justo eu ficar sozinha! Pisquei, a colher estava vazia.
- Tirya!
Olhei ao redor atordoada, Claren estava afastada, horror estampado em seu rosto. Pisquei mais algumas vezes. Entendi o que tinha acontecido, o prato a minha frente pegava fogo. Um fogo laranja forte, apesar de não ser inflamável a sopa e o prato nutriam o fogo como se fosse um coração que bombeada sangue com oxigênio para cada célula dele. Em segundos tudo se apagou e água escorria pela mesa. Olhei para o lado, Britta ainda segurava a panela no ar. Olhei para Claren, ela continuava assustada. Era culpa minha. De algum jeito eu tinha feito aquilo. Por que eu não tinha controle? Me levantei.
- Me desculpem!
Claren apenas me olhou, ainda pasma, Britta olhava para a irmã.
- Não se preocupe com isso, Maika.
A forma como ela falou o nome foi estranha. Deixei meus ombros caírem. Eu realmente era um desastre.
- Vou para o quarto.
Deixei para trás as duas únicas pessoas naquele lugar que me acolheram e sabiam o que estava acontecendo, agora elas estavam assustadas, nunca tinham visto eu fazendo algo daquele tipo, talvez agora se afastassem de mim, talvez elas entrassem em uma batalha que eu desconhecia.

◇•°•◇

- Me desculpe.
Ele se virou para mim.
- Eu... Nós não almoçamos ontem. Eu...
- Tudo bem. Drake falou que você tinha ido embora. Vamos outro dia.
Exibi um sorriso de alívio para Shun.
- Obrigada.
- Não fiz nada.
- Hey! Vocês vão em um encontro?
Nos viramos para o lado. Dylan estreitava os olhos para nós.
- Na-na-não. Imagine! É-é só um almo-moço.
Ele fez uma careta.
- Você tem certeza disso? Porque não parece.
- Claro-ro! - procurei uma forma de mudar o assunto - Então... por que me-mesmo veio com a gente?
- Por que pergunta? - olhei para os lados e percebi ele se aproximar - Não me diga que preferia vir sozinha com ele! Como um ca-sal.
Dei um pulo para o lado.
- Não é isso! Uma pergunta. Uma simples pergunta.
Ele gargalhou.
- Sei... Bom, já que perguntou, eu estou indo visitar um amigo.
Voltei a andar mais perto dele já que quando me afastei fiquei perto demais de Shun.
- Amigo?
- Sim. Está doente já faz alguns meses e estou preocupado. O visito toda semana, mas hoje fui convidado para o almoço.
- Vocês devem ser bem próximos.
- O quê? Ficou com ciúme? Não se preocupe, é um homem.
- Não é nada disso!
Voltei a me afastar dele.
- Mas se é seu amigo deve mesmo se preocupar. Como é ele?
Dylan estreitou um olho.
- O que foi agora?
Ele riu.
- Nada. Ele... ele é bem... normal.
- Como pode definir um amigo apenas como normal?
Ele deu de ombros.
- Não é fácil definir pessoas. Por exemplo, como você me definiria?
Pensei um pouco. O olhei de cima a baixo.
- O bruxo engraçado?
Ele se afastou fazendo uma cara de surpresa.
- Mas por quê?
Dei de ombros.
- Você é engraçado.
- Tá legal. Essa foi fácil. Então, como definiria o Shun?
Eu parei. Dylan parou logo depois.
- O que foi?
Olhei para Shun, ele estava parando e se virando para trás. Como eu poderia definir ele? Ele olhou nos meus olhos. Ai não, minha cara estava esquentando.
- Maika?
- Ah! Tudo bem.
Voltamos a andar.
- Então, como definiria o Shun?
Eu sorri.
- A raposa branca.
Sim era perfeito para ele.
- Mas por que só ele ganha uma definição legal? Eu não gostei da minha. E bruxo me faz parecer mau. Deveria ser algo como Feiticeiro encantador ou Galã mágico.
- Eu tenho que concordar com a Emi.
- Até você Shun! Sua raposa traiçoeira!
Eu ri pelo resto do caminho. Até encarar as três velas mais uma vez.

×××
Viram? O dobro do ultimk cap, como prometido.
Eu quis descontrair um pouco nesse cap, trazer um pouco da historia do Dylan, eu adoro ele.
Qual o personagem preferido de vcs? Mas e Fem.
Espero poder avançar mais na história no próximo cap. Bye bye.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora