Eu acordei em um susto, o ar me faltando e meus pulmões lutando para puxá-lo para dentro. Me sentei de uma vez e algo caiu de cima de mim, parecia que eu estava coberta por terra. Estava quase tudo escuro, mas minha vista se acostumava aos poucos. Percebi que conseguia me ver claramente. A pele branca demais dava mais destaque às marcas que agora me cobriam, estavam por toda a extensão de meus braços e continuava subindo, me desesperei ao ver os espinhos desenhados em toda a minha pele, tentei apagá-los com as mãos, mas o que senti foi uma pele estranha, não era macia, mas lisa e dura. Pareciam escamas, como as de uma cobra ou um lagarto. O desespero se tornou ainda maior quando percebi que aquelas mãos pareciam mais garras. Me levantei em agonia tentando enxergar ao meu redor.
- É isso o que lhe aguarda.
Me virei ao escutar a voz familiar. Era a garotinha ruiva. Ela tinha um grande corte no rosto que ainda sangrava.
- Veja! Você mesma fez tudo isso. Por que você não é a salvadora. Você é a que destrói. Nunca será a heroína.
Eu olhei ao redor e eu pude enxergar. O que me cobria eram cinzas e sangue e neve e terra. E ao meu redor estava um campo infinito de corpos queimados e dilacerados. Cabeças com rostos que eu conhecia. Eu senti meu sangue gelar, senti minha alma se desmanchar e algo dentro de mim se quebrar.
Os rostos, inúmeros rostos, sobre o chão coberto de restos e sombras. Eu conhecia todos eles. E um único estava acima do chão, a cabeça erguida por uma lança. Os cabelos castanhos cortados irregularmente e uma boca aberta em eterno grito, os olhos fechados, eu sabia que cor eram aqueles olhos. Azuis. Caí de joelhos. Aquele era o rosto de minha mãe. O grito saiu de minha garganta sem que eu chamasse por ele.- Tirya!
Abri meus olhos e vi dois azuis, eles expressavam alarme. Senti as mãos de Ryan em meus ombros e me assustei. Então senti alívio. Um sonho, tinha sido um sonho.
- Ande! Levante. Temos que ir!
Espantei os resquícios do sono e me sentei.
- O que foi?
Ele pegou algumas roupas e me olhou por um breve instante.
- Está acontecendo. Esse conto está congelando e nós vamos junto se não sairmos logo daqui.
Me levantei apressada e procurei meus tênis. Os tomei na mão no instante em que Ryan agarrou a minha outra e começou a correr. Ele abriu a porta do quarto com pressa e corremos pelo corredor vazio com pressa. Logo que chegamos às escadas um criado se espantou conosco. Ele derrubou um pano e quase caiu quando passamos correndo por ele. Virei o rosto a fim de pedir desculpas, mas o vi começar a tomar um aspecto petrificado e congelar em uma posição impossível enquanto se levantava. Fiquei assustada, mas logo me toquei que seria a próxima se não me apressasse. Então corri o máximo que pude com Ryan, fazendo o possível para acompanhá-lo.
Os guardas nos portões se assustaram conosco e tomaram pose para se dedenderem e impedir nossa fuga, mas algo aconteceu com eles e todos caíram no chão. Os portões estavam abertos então não tivemos que rodar a gigantesca roda com cordas para abrir os pesados portões de madeira e ferro. Quando saímos do castelo ele correu em frente, as pessoas na rua se assustavam conosco, mas sua surpresa era logo transferida para as pessoas petrificando e logo entravam em pânico, mas então se congelavam.
Foi assim, um desespero, falta de fôlego e suor no frio.
Quando saímos dos limites da cidade e eu olhei para trás pude ver uma cúpula roxa quase transparente cobrir toda a cidade e então se fechar logo no ponto atrás de nós e então um símbolo roxo brilhar sobre a neve. Falei com Ryan ainda arfando.
- Então... é... isso?
Ele se recuperou muito rápido.
- Quem quer que seja é um bruxo poderoso, para conseguir fazer isso em uma velocidade tão grande. Você...
- O que?
Consegui parar de me apoiar nos joelhos e me ergui, ainda um pouco ofegante.
- Você... estava gritando mais cedo e se debatendo. Até sentou na cama, mas... parecia que ainda estava dormindo.
Engoli em seco ao lembrar do sonho.
- Um pesadelo.
Assim esperava.
Ele esperou que eu me recuperasse por completo.
- Ora, ora, ora! Temos dois fugitivos! Tsk Tsk! - eu me virei, não era Ryan quem falava - Acho que vou ter que cuidar dos dois eu mesma.
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Cidade de Magia - Contos de Espinhos
FantasyTirya está a caminho da Cidade dos Contos, onde nem todo conto tem um final feliz. Além de ter que suportar um superior de uma personalidade complicada e mais uma vez ficar sozinha ela vai ter que enfrentar os perigos e criaturas da Floresta sem f...