Kane nos levou até um outro círculo de pessoas, haviam seis homens ali, eles falavam sobre o que tinham feito durante a manhã e um contou ter encontrado um barghet e os demais ficaram em silêncio para escutar. Kane os interrompeu.
- Ryan, tenho uma nova missão para você.
Um jovem se virou. Ele encarou Kane e se levantou, percebendo a presença de mais duas ele olhou para mim e Lan.
- O capitão disse para ensiná-las a usar a espada.
Ele olhou para nossas armas recém adquiridas.
- Eu não preciso. Sei usar uma espada muito bem.
Lan disse e eu percebi que ela apenas queria se livrar de ter que ser ensinada por ele. Ryan tinha uma áurea sombria, do tipo que fazia você engolir em seco quando é olhada por ele. A postura dele era relaxada e a expressão também, mas ele causava tensão. Ele tinha o maior cabelo masculino que eu tinha visto ali e estava completamente desgrenhado.
- O que ele disse, exatamente?
Kane estava tranquilo e agia normalmente, devia estar acostumado.
- Eu não sei. Galia que me passou a informação.
Ele voltou a olhar para mim.
- Estava lá?
- Sim.
Minha voz saiu mais fina que o normal.
- O que ele disse?
- "Entregue ela para Ryan, diga para treina-la e a outra também."
Lan respondeu por mim. Ele tirou o olhar de mim e eu finalmente respirei.
- Certo. - ele voltou a falar com Kane como se nós não estivéssemos ali - Eu cheguei hoje e ele já me passa uma tarefa.
Kane deu de ombros.
- Foi você quem pediu para acompanhar ele, você quem pediu para servi-lo. O capitão gosta de te manter oculpado cara.
Ryan levou a mão a cabeça e assanhou ainda mais o cabelo mais escuro que eu já tinha visto, até o brilho parecia escuro.
- Eu nem dormi. Preciso descansar. E ainda tenho que relatar para ele.
Kane bateu no ombro dele duas vezes.
- Boa sorte, cara. E veja pelo lado bom, vai ser só uma, a outra já sabe das coisas, não deve ser tão difícil.
- Ele sempre faz isso, me entrega os recrutas despreparados. Já faz muito tempo que não recebo ninguém, esqueci como se faz.
- Você consegue.
Eu não entendia como eles podiam agir tão amigavelmente, Ryan parecia o senhor das trevas e estava reclamando de ter que me ensinar. Não queria nem imaginar o tipo de treinamento que receberia dele, tinha certeza que não envolveria velas e eu sentada.
- Eu vou indo. Vou deixar a sua missão com você.
Ele me indicou e começou a sair, a alguns passos de distância chamou por Lan.
- Você não vem? Se já sabe usar a espada vou mostrar o que fazemos pela tarde.
Ela olhou para mim e eu vi um desejo de sorte e um pedido de desculpas nos seus olhos. É, eu estava sozinha. Me virei e Ryan me encarava.
- Qual o seu nome?
- Maika.
Ele estreitou os olhos e ergueu uma sombrancelha.
- Ryan.
Acenei e esperei que ele falasse algo mais.
- Primeiro vamos na minha tenda.
Ele começou a andar para a floresta, não entendi muito bem porque ele estava indo na direção oposta às outras tendas, mas o segui.
Logo entendi, ele tinha mesmo uma tenda própria, mas isso só me deixou mais confusa. Por que ele tinha uma tenda só dele? Por que ela era mais afastada?
Ele adentrou nela e eu o segui. Era simples também, uma cama no chão, uma mesa dobrável e uma cadeira dobrável, mas ainda assim, mais luxuosa que a compartilhada. Ele jogou a enorme mochila na mesa e ela fez um som surdo e a mesa rangeu.
- Coloque a Tyrfing na mesa.
Obedeci e fiquei em pé esperando. Ele foi até sua suposta cama e pegou o saco. O ergueu e agitou, poeira caiu dele para todos os lados. Ele jogou o saco mais uma vez no chão e se agachou. Minha boca se escancarou e eu não podia deixar de reclamar daquilo. Ele tinha se deitado e simplesmente fechado os olhos.
- O que está fazendo? Era para me ensinar a usar a espada! Você vai dormir? Ao menos me diga para ir fazendo alguma coisa! Isso é irresponsável! Pensei que...
- Certo! - ele me interrompeu ainda com os olhos fechados - Venha aqui.
Me aproximei relutante. Ele tirou uma mão de baixo de sua cabeça e a esticou para o lado e a bateu no chão três vezes.
- Deite e durma um pouco também.
- O que?
Ele recolheu a mão mais uma vez.
- Eu disse para dormir.
- Eu não vou aprender a usar a espada dormindo.
- Não. Mas também está cansada. Durma logo.
- Eu não vou dormir.
Ele abriu os olhos e se sentou. Eu engoli em seco, por que ele dava medo?
- Essa é sua tarefa: dormir e me deixar dormir. Eu passei uma semana inteira em um dos malditos reinos e não durmo há três dias. Eu vou dormir e você vai dormir também.
Eu gemi, minha brasa estava diminuindo.
- Não pode só me dizer para fazer outra coisa?
- Sei que também está exausta. Não posso ensinar ninguém com sono e você não vai aprender vom sono. Então vamos dormir.
- Você não tem que relatar algo para o capitão?
Ele me deu um olhar frio e eu decidime calar. Ryan se deitou novamente. Eu suspirei. Podia voltar para a tenda compartilhada ou emcontrar com Lan e Kane de algum jeito, mas eu me ajoelhei e passei a mão pela grama silvestre baixa e me deitei. Isso não significa que dormi, até porque o senhor das trevas estava ao meu lado.
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Cidade de Magia - Contos de Espinhos
FantasyTirya está a caminho da Cidade dos Contos, onde nem todo conto tem um final feliz. Além de ter que suportar um superior de uma personalidade complicada e mais uma vez ficar sozinha ela vai ter que enfrentar os perigos e criaturas da Floresta sem f...