Cidade de Magia - Contos de Espinhos

Mergulho em água fria

Eu encontrei Lan, apesar de ser mais ao contrário, ela perguntou porque eu senti tanta raiva, disse apenas que o senhor das trevas me irritava. Kane estava por perto, ele riu bastante quando eu disse isso.
- Poucas pessoas gostam de Ryan, o cara é muito convencido, mas no fundo é uma boa pessoa, apesar do egocentrismo e de ser mandão. Pessoalmente, odiei por um bom tempo antes de me acostumar com ele, além de o capitão realmente gostar dele, quando o capitão gosta de alguém essa pessoa tem que ser boa. Mas isso leva tempo.
- Há quanto tempo está aqui?
Ele olhou para cima, vendo números, datas, no ar e calculando mentalmente.
- Não sei. Mas mais de ano, já vi muitas mudanças de acampamento.
- Mudam de lugar com muita frequência?
- Sim, em geral não passamos de um mês em um só lugar. As personagens dos contos gostam de andar pela floresta e encontrar com uma significa mudar a história e isso não é coisa boa. O que Ryan disse?
- Parece que vamos nos mudar.
Lan se empolgou, os músculos do rosto de Kane se contraíram.
- Para... o Frio?
- Acho que sim.
- Sabe quando?
Uma pessoa se aproximou, a garota tímida que tinha visto ao chegar no acampamento.
- Kane, - ela chamou baixinho - o capitão disse que nos deslocaremos em três dias. Temos que começar a preparar tudo.
Ela olhou de relance para mim e Lan.
- Prazer, eu sou Sulia.
- Maika.
- Lan.
Respondemos. Kane prestava atenção nela.
- Ele informou mais alguma coisa?
- Acho que temos uma pista sobre o motivo dos congelamentos, Ryan vai na frente, amanhã, para verificar tudo antes. O reino dos Espelhos pode ser o próximo alvo.
Kane soltou um longo suspiro.
- Obrigado, Sulia. Pode continuar a passar a informação.
Ela acenou e saiu timidamente. Kane se virou para nós novamente, dessa vez me vendo dos pés a cabeça.
- Você precisa de um banho. E você - ele se virou para Lan - É bom ir junto. Banhar é um luxo e no reino dos espelhos não vamos poder banhar com muita frequência. Mas têm que esperar até escurecer, as mulheres só banham pela noite.
- Por que?
Ele sorriu e entortou a cabeça.

◇•°•◇

Eu entendi porque quando ele nos indicou a trilha e chegamos ao final dela. Era um rio, literalmente um rio. Não havia como perguntar a ele se aquele realmente seria nosso local de banho, estávamos sozinhas. Ainda era cedo, por isso não devia haver mais garotas. Eu e Lan nos entreolhamos, ela deu de ombros e desabotoou o uniforme depois de colocar o limpo sobre uma pedra.
- Eu não vou banhar na sua frente!
Afirmei espantada com sua ousadia. Ela já tinha tirado a metade de tudo quando parou para me olhar. Pisquei trezes vezes e me virei, olhando para as árvores que sumiam na escuridão.
- Não temos muita opção e pelo que Kane disse mais pessoas aparecerão logo, então deve achar mais fácil que só eu veja do que um bando de mulheres militarizadas e estranhas.
Me senti em contradição.
- Mas... eu não quero que me veja.
- Faremos assim. Eu entro e me viro, depois você entra e se esconde debaixo da água. Pronto!
Escutei novamente o farfalhar de roupas e o som de algo entrando na água. Hesitei antes de olhar para o rio de águas calmas. Lan estava de costas, a água ainda na altura de sua cintura.
Tudo bem, Tirya. Você pode fazer isso! O que não pode é continuar fedendo a suor e mato.
Entrei em concenso apesar de ainda me sentir extremamente desconfortável. Coloquei minhas roupas em outra pedra e tirei o uniforme, fui para a margem do rio e coloquei um pé na água, estava gelada, então pensei que deveria ser melhor entrar de uma vez. Me apressei e andei para o centro até ter água quase na altura dos ombros e mergulhei. Quando emergi Lan estava um pouco distante, mas pude ver seu sorriso brilhante no escuro.
- Viu? Não foi tão difícil.
- É, não foi tão difícil.
O sorriso desapareceu. Eu não tinha dito aquilo. Afundei até ter água na altura da boca, deixando apenas olhos e nariz sobre a água então procurei a fonte da voz.