Ela cai

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Ergui as duas mãos deixando oa pulsos unidos e faixas finas de fogo surgiram como se brotassem de cada um de meus dedos me tornando o caule e as chamas a flor. Foi lindo. Exceto pelo fato de as pétalas dessa flor fossem muito pequenas. Abaixei minhas mãos e me virei para Akira. Ele tinha passado a manhã empurrando minhas costas, dizendo que um ombro estava mais baixo que outro ou que minhas mãos não estavam niveladas. Ele não me corrigiu imediatamente dessa vez. Depois de um tempo forcei uma tosse e ele pareceu olhar para mim.
- Não está bom.
Ri de lado.
- É, também acho.
Ele desceu da varanda.
- Precisa de estimulo emocional.
- Estímulo? Bom eu já sei de um ótimo. - ele estava me levando a sério, decidi falar sério e tirei o risinho do rosto - Se você tirar essa máscara quem sabe eu acabe colocando a cidade inteira em fogo.
Ele realmente pareceu considerar aquilo.
- Insuficiente. Algo maior.
- Tipo o quê? Se quiser que eu fique com raiva tem muitas coisas...
Lembrei de Serafina e Adam presos nas jaulas de animais. Senti algo aquecer dentro de mim.
- Não. Raiva é ruim. Algo bom.
Eegui uma sombrancelha para ele. Acho que nenhuma lembrança poderia me fazer algo realmente grande. Minha vida desde que chegara ali era conturbada e minhas pequenas felicidades eram mesmo pequenas, antes daquele lugar, daquele maldito acidente, daquele maldito cara minha vida era mais feliz, mas uma mentira.
- Não há nada, Akira.
Suspirei.
- Quer tanto ver meu rosto?
Mordi um lábio enquanto agitava a cabeça positivamente.
- Por que?
Mas que... ele realmente queria que eu respondesse? Será que dizer que imaginava um instrutor bonitão era estranho? Com certeza. Dizer que a máscara era desconfortável e assustadora demais era argumento fraco. E se ele fosse feio? Tipo, muito mesmo, tanto que o fez usar a máscara.
- Acho que é o normal, querer associar um rosto às lembranças que se tem dessa pessoa.
- Existem cegos.
- Sim, mas... - o que dizer daquilo? - ... eles associam vozes. Quem vê usa o que vê. Quando se fecha os olhos visualizamos coisas, não é tão fácil escutar vozes com imaginação.
Ele confirmou e eu achei mesmo que tinha conseguido.
- Ainda não.
Frustração não é o suficiente para descrever o que senti.
- Akira! Por que me dá esperanças quando não há a possibilidade de você me mostrar a sua cara? Qual o problema de ver um maldito rosto? O mundo não vai se desintegrar por eu saber como você é. Sabe como é isso? Ter a visão de uma pessoa como uma ilusão.
Deixei tudo sair. Ele continuou pacífico.
- Você também é uma ilusão.
- Como assim?
- Seu nome...
- É Tirya tá legal! Mas que grande porcaria! Qual o problema disso? Que diferença faz se eu digo ou não meu nome? O que ele pode fazer?
- Nomes dizem muito.
Aquela tranquilidade dele estava me irritando de verdade.
- Quando se recebe um nome ele carrega seu significado e nomes podem mudar seu destino.
- Se eu me chamo Maika ou Tirya, isso não muda quem eu sou nem o que faço.
Ele negou. Senti minha ira se esvair um pouco, mas ainda estava grande demais para aquele pouco ser representativo.
- Maika é quem você é aqui. Maika é uma garota órfã encontrada pelo programa de apoio a mestiços. Maika foi aprovada na Academia Unique e tem um poder incrível.
- Essa sou eu de qualquer forma...
- Tirya está perdida.
Me calei.
- Ela não sabe mais quem é, nem do que é capaz, ela teme a si mesma e tudo ao redor. Não sabe se pode colher a flor de fogo.
- Do que...
- Ela é a garota que está aqui agora, confusa e que teme admitir até mesmo quem é.
Merda, Akira! Ele tinha acertado tudo. Ele tinha dito tudo o que eu evitava pensar. Meus olhos arderam. Desabei na grama abraçando minhas pernas. As lágrimas começaram a descer.
- Não deve chorar.
- Como eu não vou chorar? Eu sou um fracasso. Não sei nem mesmo que coisa eu sou. Devo ser uma aberração, um troll ou qualquer coisa inútil.
- Não fale assim. Trolls são sensíveis.
Passei a mão no rosto limpando a lágrima que tinha descido.
- Ah! É? Nos contos de fadas...
- Por que acha que eles atacam todo mundo?
- Não sei.
- Quando invadem a casa deles ficam muito zangados.
Forcei um riso.
- Espero nunca passar pela ponde errada.
- Tirya.
Ah! Como era bom escutar meu nome. Era como se fosse uma criança novamente e minha mãe oferecesse meu doce preferido depois de cair da bicicleta. Mesmo tendo Claren e Britta me chamando pelo meu nome algumas vezes até mesmo elas me chamavam de Maika por precaução e não era a mesma coisa. Finalmente eu tinha dito para alguém, finalmente alguém sabia. Esperava que Akira não me traísse.
- Tirya.
Ele me chamou novamente. A voz era suave, ele estava sendo paciente. Senti sua mão tocar meu braço e olhei para cima exibindo um sorriso tímido, eu estava chorando na frente do mestre.
Minha boca se abriu, meus olhos ainda mais.
Ele estava sem máscara.

××××
Uhuhhhhh
Finalmente!
Esse Akira foi ousado antes do tempo, mas até eu estava ficando impaciente. Estou feliz por ele ter tomado a iniciativa. Caramba. Foram só 28 caps pra ele mostrar. To triste. O mistério da máscara tinha que perdurar. Acho que na versão oficial não vai ter isso não. Aproveitem meus primeiros leitores.
Hahahaha

Cidade de Magia - Contos de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora