Aposta maluca

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Ficava mais e mais frio, meus cabelos molhados não ajudavam, nem a blusa do uniforme de Ryan, mesmo com aquele tecido mais grosso já estava gasto e a falta de calças era enorme, eu me encolhia em posição fetal, o rosto entre os joelhos, mas o frio era tanto que chegava a achar que logo flocos de neve cairiam do céu por entre as folhas. Eu não sabia se Ryan estava mesmo dormindo, a respiração dele era lenta e seus olhos estavam fechados, ele já não falava tinha um longo tempo. A fogueira tinha se tornado pequenas brasas persistente na madeira e o frio aumentava. Decidi vestir ao menos a calça, ela não estava tão estragada quanto a blusa com um rasgo enorme nas costas e botões perdidos, tinha apenas alguns rasgos e fios soltos, mas ainda dava para usar. Eu me levantei, os pés apenas com as meias, agora só tinha meu tênis e meias de casa, e segui até o galho onde Ryan tinha estendido meu uniforme acabado, a queda deve ter sido mais feia que eu achava. Peguei a calça e a felicidade me preencheu, ela estava seca, a vesti e fechei na cintura. O que eu estranhei foi o frio ter continuado. Os feixes restantes de luz emanados pelas brasas se extinguiram e um calafrio percorreu minha espinha, a floresta estava escura e assustadora agora. Os galhos descobertos e retorcidos se tornaram mãos com garras e os nós das árvores bocas. Minhas costas doeram novamente e minhas mãos arderam, os novos arranhões no rosto também e meus ombros se encolheram. Era assombroso. Foi quando eu vi uma das coisas mais incríveis em toda a minha vida. Pequenos pontos de luz começaram a brilhar e logo tudo era claro, eram como pisca-piscas em uma árvore de natal, vagalumes acendendo e apagando, eles não se imoortavam com minha presença ali, o que tornava tudo ainda mais incrível, eles voavam por todo lado, em filas desordenadas que pareciam ter sido pintados ali. Girei e observei tudo encantada, eu me sentia um personagem de conto fantástico, era mágico como a Floresta das Cores duarante uma lua cheia.
Mas eles se apagaram, todos de uma vez e tudo ficou escuro mais uma vez. O frio me paralisou, eu tentava ver algo, mas estava ainda mais escuro que antes, a luz havia sido roubada dali. Um barulho estranho ecoou entre as árvores.
Bau bau bau
O que era aquilo?
Algo envolveu minha boca e eu não pude fazer som algum, o ar tinha ficado preso em meus pulmões e um corpo se colou ao meu. Eu pudia escutar sua respiração bem próxima de mim, pensei em me mover, mas temi por minha vida.
- Shh Não se mova.
Ryan sussurrou e eu senti todos os meus músculos relaxarem brevemente.
- Continue quieta. Consegue fazer fogo?
Apenas movi minha cabeça em resposta, sua mão ainda envolvendo minha boca, eu sentia seu peito subir e descer a cada respiração dele, sua cabeça ao lado da minha e a ponta de um de seus pés tocando meu calcanhar. Ele deslisou a mão livre por meu braço até alcançar minha mão, envolveu meu pulso e o ergueu com minha palma exposta para a nossa frente.
- Quando eu disser, faça.
Esperei. O som se tornou mais próximo.
Bau bau
Eu vi dois pontos vermelhos mais à frente.
- Agora!
Me concentrei ao máximo e deixei o medo se alastar por mim, chamas douradas e vermelhas explodiram através de minha mão e eu pude ver a criatura, era enorme e feito quase por inteiro de sombras, exceto pelos olhos vermelhos brilhantes. Ele se encolheu e correu em outra direção. Ryan liberou minha boca e soltou minha mão, o fogo havia se apagado. Ele se afastou de mim, mas eu o agarrei, segurando seu pulso. Eu ainda não podia enxergar bem no escuro, mas já não estava como antes. O segurei por um tempo, sem dizer uma palavra, ainda assustada com o que tinha visto. Eu tinha que parar de me impressionar tão facilmente. Os vagalumes começaram a acender novamente aos poucos, eu pude enxergar melhor o rosto dele. Ele continuava esperando.
- O que era aquilo?
Os vagalumes cintilaram com minha voz baixa.
- Outro errante.
- O que?
- As criaturas da floresta negra estão fugindo. Muitos seres das trevas têm andado pela floresta, eles atacam os da luz.
- Luz e trevas. Por que sempre isso?... Mas, o que era aquilo?
- Um Bauk. A luz os afugenta, assim como o barulho, mas o barulho não funciona sempre.
- Por isso me disse para fazer fogo?
Ele acenou.
- Você me assustou.
Afirmei, ele sorriu.
- Sou assustador, eu sei.
- Não...
Eu percebi que ele realmente não era. Ryan era gentil, apesar de disfarçar isso com uma personalidade convencida. Ele tinha cuidado de mim e me salvado, estava cuidando de mim. Por isso me senti inútil. Eu nunca fazia alguma coisa, sempre era protegida. Um estorvo. O soltei.
- Obrigada.
- Por salvar sua vida e te carregar por aí, além de gastar um precioso remédio com você e te dar minha blusa nesse frio?
Acenei.
- Bom, me deu trabalho. Espero que me compense depois. Afinal, nada é de graça.
Sorri em negação.
- Esta bem. Qual o seu preço, senhor das trevas?
- É assim que me chama? É um nome encantador, exceto pelo fato de eu ser um salvador.
- Mesmo sendo um deus da guerra?
- Exatamente. - ele se calou por uns instantes. - Eu sempre tive curiosidade para saber o que falam de mim. O que Fray disse mesmo?
- Que você eum deus da guerra, da morte ardilosa e da sedução da morte.
- Sedução da morte? - ele segurou o queixo enquanto pensava naquilo, depois olhou para mim com com um olhar sedutor - É, combina comigo. Sou a propria morte e sou sedutor.
Explodi em risos, os vagalumes se apagaram ao meu redor e voltaram a brilhar, estavam se acostumando conosco.
- Sim, você é o deus grego da beleza.
- Na verdade, aquele cara não se compara a mim. Por isso ele me odeia tanto.
- Certo...
Falei em tom incrédulo. Ele se aproximou, deixando o rosto muito próximo do meu.
- Duvida?
Eu encarei seus olhos, eles pareciam brilhar.
- Sim.
- Bem, que tal isso? Vamos fazer uma aposta.
- Aposta?
Minha curiosidade superou a proximidade dele.
- Sim. Se eu conseguir seduzi-la vai ter que me fazer um favor.
- Você é louco.
- É claro, você iria ganhar um favor se resistisse a mim. É uma grande vantagem ter um deus nas suas mãos.
- Louco de pedra. Perdeu todos os sentidos.
- Então, vai aceitar ou não.
- Por que eu deveria? Isso é uma maluquice.
- Então não tem confiança própria. Ou admite que sou irresistível?
- E convencido!
Ele gargalhou.
- E não deveria?
- O que?
Eu continuava incrédula com tudo aquilo. Ele estava fazendo aquela maluquice para aliviar minha tensão e funcionou.
- Tudo bem. A aposta está de pé.
- Eu não aceitei nada.
- Você já deve ter perdido então.
- Nada disso! Vou mostrar para você e seu egocentrismo que não é tudo.
- Por que? Seu coração já pertence a alguém.
Permaneci em silêncio.
- Você não sabia? O coração fraqueja e a mente se engana.

×××
Como amo vcs até durante a viajem dou um jeito.
Esse cap foi grande pq tive bastante tempo pra fazer e eu até mudei o final.
Espero que gostem desse e fiquem ansiosos pelo próximo.
Sim sou egoísta a esse ponto
Gehehehe
Me perdoem por isso! Adoro vcs.
^^

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