Amaldiçoadas

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A dor era latejante. Quando olhei para meu braço não o vi, era como se eu o tivesse colocado em um lugar e estivesse apenas metade visível, mesmo no escuro eu me via, exceto pela mão. Me encolhi e agarrei meu pulso contorcendo meu rosto e sentindo a dor. Eu apertava o escuro, sentia meu braço, mas não o via me deixando em agonia ainda maior.
Lágrimas escorreram. Fechei meus olhos para afasta-las e quando os abri novamente a dor tinha sumido e eu via mais uma pessoa, não, duas pessoas. Lan e Britta. A bruxinha se pronunciou.
- Seus corpos são um e o que uma sofrer a outra sofrerá. Amaldiçoadas estão e pela eternidade continuarão a se entrelaçar. Com essas palavras encerro meu feitiço e dado o aviso, nada retrocederá.
Ela sumiu e encarei Lan. Britta tinha soado assustadora. E agora?
Eu pisquei e mais uma vez minhas redondezas transmutaram. Agora eu via a chinesa em minha frente, uma agarrando o pulso da outra. A sala da casa de Britta que agora tinha me acostumado a chamar de lar, ela tinha soltado nosssos ombros, o odor pungente de lavanda no ar. Soltei Lan e obervei meu braço esquerdo dolorido e me surpreendi. Em volta de meu braço havia três linhas, uma reta e fina ao meio e duas laterais a essa ondulando com pequenos pontos aqui e acolá. Virei o braço e bem no pulso havia um símbolo estranho, parecia aqueles brasões de famílias inglesas antigas. Um semi círculo com uma cruz o partindo ao meio simetricamente. Olhei para Lan, no pulso direito dela estava a mesma tatuagem.
- É a marca das Nithal, não se preocupem.
Olhei para Britta enquanto envolvia o pulso com a outra mão.
- Então agora tenho outra tatuagem só que de maldição?
O indicador direito repleto de padrões espinhosos ao lado da pulseira gravada na pele. Ela olhoi para mim de soslaio.
- Sim. Mas não encare como uma maldição, veja apenas como um... acessório.
Olhei para Lan e voltei a encarar a bruxa multicolorida.
- Mas você disse que sentiríamos o que a outra sentisse.
- Vampiros são muito resistentes a dor. Quem vai levar mais essa sou eu.
- E... - engoli em seco tentando afastar a ideia, mas ainda tinha que perguntar - ... se eu morrer?
- Eu morro.
Me virei para ela.
- Então...
Ela me interrompeu.
- Ninguém pode saber. Nunca conhecemos de verdade uma pessoa. Estamos presas uma a outra, não queremos nos prejudicar, então podemos confiar entre nós mesmas, mas mais ninguém pode saber. Ok?
Acenei.
- Mas e na Floresta sem fim?
Ela se levantou.
- Não vou morrer.
Neguei.
- Vamos ter que contar para algum superior, certo? Para que deixem ficarmos juntas.
Ela acenou.
- o grandalhão disse que o capitão do regimento que foi designada é alguém confiável. Ele vai enviar uma mensagem a ele explicando a situação.
- Mas... estarmos amaldiçoadas, isso... é incomum. Vão querer saber como aconteceu. É um crime certo?
Ela negou.
- Aconteceu quando foi atacada pelo wendigo. Ele era um bruxo antes de virar aquilo de qualquer forma. É perfeito. Estávamos juntas.
Acenei.
- Então... o que isso faz mesmo?
Ela sorriu.
- Muitas coisas. - se virou para nossa feiticeira "cruel". - Brittany?
Ela bufou ao ser chamada pelo nome correto.
- Basicamente suas mentes foram ligadas, principalmente a parte da dor e dos sentimentos muito fortes como o medo. No geral pode ser um pouco chato, principalmente para Lan que é menos sensível à dor e como você é mais ela vai sentir tudo no mesmo nível. Mas também pode ajudar. Se alguma se separar pode sentir onde a outra está. Algumas pessoas se amaldiçoavam de propósito, outras sofriam isso por não compreender oa demais e serem cruéis. Dá para conviver. A maldição que lancei foi mais leve, tem um nível que até mesmo sensações são transmitidas é como se recebesse estímulos o tempo inteiro e as pessoas ficam loucas.
Ela deu de ombros e saiu. Claren não estava mais lá. Olhei para Lan.
- Então... o que mesmo estava dizendo lá?
- O que?
- Sobre eu ser centro de fofocas... mais uma vez.
Completei atrasada. Ela deu o risinho mais uma vez.
- Isso vai ser divertido.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora