Ele nos guiou até um lugar que eu não conhecia.
Era uma casa velha, devia estar abandonada, era como a cabana que tinha me levado a aquele plano, mas não tão degradada.
Ele me levava contornando a casa, chegamos na parte de trás onde haviam muitas flores, elas eram como um tapete azul avermelhado sobre a grama. Ele me sentou nos degraus da varanda depois sentou ao meu lado. Minha consciência já tinha voltado e ido denovo, enquanto a tinha tentei falar com ele, mas Adam se recusava a falar até chegarmos ali. Eu não estava em um dos bons momentos. Eu via coisinhas brilhantes pularem de flor em flor e não parava de sorrir para Adam.
- Seu nome não é Maika?
- Não. Nem um pouquinho. De jeitinho nenhum. Nop. Jamais.
- E qual é?
Ele me interrompeu. Fechei meus olhos, me inclinei sobre ele e sussurrei em seu ouvido.
- Tirya. Não conte para ninguém. É segredo.
Me afastei rindo como uma palhaça. Ele se endireitou no degrau, encarou as próprias mãos por um bom tempo depois suspirou e voltou a me olhar. Ah! Aqueles olhos vermelhos lindos.
- Por que não pode contar?
- Não sei. Foi coisa da bruxinha de porcelana.
- Do que você está fugindo ou se escondendo?
- Não sei. Minha mãe só disse para correr. Por que estamos falando disso? Vamos planejar nosso futuro, deve ser mais divertido.
- Não! - ele falou alto e eu me afastei - Maika! Voce mentiu para mim! Sobre quem é! Não sei se posso confiar em você. Não sei em que acreditar, se...
Minha consciência voltou, a dor pelo que ele tinha dito apenas aumentou. Ele não me olhava e me arrendi por ter tomado a maldita bebida. Me arrependi por ter dito o que não devia. E mais ainda, me arrependi por ter mentido.
- Adam, - sefurei sua mão, mas ele se desvencilhou de mim - eu não fiz nada de errado. Tudo bem, mentir foi errado, mas eu não o fiz por querer esconder algo, eu só fiz o que me disseram que devia fazer, não fiz por ser uma criminosa ou qualquer coisa do tipo.
Ele me olhou de canto.
- Então o que você é? Meio alf não, não é mesmo?
Neguei.
- Eu não sei o que sou.
Ele se virou bruscamente.
- Como? Como alguém pode não saber nem mesmo o que é? Sua mãe nunca lhe disse? Nunca sentiu algo diferente? Nunca fez nada de diferente?
- Não! Adam. - gritei de volta - Eu não sei. Nunca senti coisa nenhuma até chegar aqui. Eu não sei o que sou. Minha mãe nunca me disse nada. Ela nunca me mostrou nada.
Terminei falando baixo. Ele suspirou.
- Tudo bem, Maika. Ou Tirya. Mas ainda não consigo acreditar. Me sinto um maldito idiota.
Ele desviou o olhar, o puxei de volta.
- Eu só não disse meu nome e menti sobre saber o que era e minha mãe está viva em algum lugar. Mas eu não menti sobre mais nada. Eu sou eu. E não fingi ser quem não sou.
Ele suspirou mais uma vez e quando segurei suas mãos ele não me afastou.
- Então o que é isso?
Ele passou os dedos sobre as marcas.
- Uma eu realmente não sei, já a outra... - ele ergueu uma sombrancelha - Tudo bem. Lan me disse para não contar, mas... eu já escondi o suficiente. É uma maldição. - ele se exaltou - Mas, calma. Foi a Britta que fez. Ela ligou a mim e Lan, para que ela pudesse ir para a Cidade dos Contos comigo. É só isso.
- Mesmo?
Acenei.
- Então... sua mãe está viva?
Confirmei triste.
- E seu pai?
Neguei ainda triste.
- Onde... onde ela está?
- Não sei. Ela de repente transformou minha vida em um mistério. Não sei o que sou, do que me escondo, estou em um mundo mágico e contos de fadas são reais.
- Você... não acha que sua vida está sendo controlada pelos outros?
Neguei.
- Por mais que pareça eu sei que não é. Eu... acho que eu escolho meu destino e que por mais que eu já estivesse atrelada a ele deve ser um caminho que no fundo eu decidi percorrer.
Lembrei das palavras de Akira e as vi se dissolver, mais uma vez eu via pontos brilhantes e um Adam surrealmente perfeito.
- Eu já disse que você está lindo?
Ele deixou a cabeça pender e a ergueu sorrindo fracamente.
- É, acho que tenho que desistir, Tirya, você é mais forte que eu.
Ele levou a mão ao meu pescoço pela terceira vez. Ele se aproximou pela terceira vez. Mas não houve um terceiro distanciamento brusco. Ele beijou ao alto de minha cabeça e me olhou fundo nos olhos.
- Você também é linda.
Passei meus braços ao redor dele e o abracei.
- Deixe de bancar do galante. Sei que você adora brigar comigo. Não venha me elogiar do nada. Idiota. Quem está elogiando sou eu. E você está lindo, sabia?
- Acho que você bebeu demais.
- Não importa. Estou feliz. E você está lindo.
Ele gargalhou.
- Também acho que vou te dar mais dessa bebida outra vez.
- Vou querer uma garrafa. Mas não vou beber sozinha. Eu nunca tinha bebido nada assim. Eu pensei que Grace bebia sangue e na verdade era uma vampira que saia sugando sangue das pessoas. Ela é bonita demais. E o que é aquilo de ela ficar me encarando? Parece até que eu tenho um pato na cabeça. Quem anda com patos sobre a cabeça? Isso é insano. Pessoas loucas são estranhas. Não gosto de acordar cedo, sabe? Mas desde que cheguei aqui a falta de sono me persegue. Ah! Quando eu ficava em casa com minha mãe ela gostava de cantar enquanto pintava. Será que faremos isso de novo?
Comecei a chorar.
- O que foi?
Adam acariciou minha cabeça.
- Eu sinto falta dela. Por que ela tinha que fugir? O que ela fez? Por que me deixar sozinha? E ainda tem aquela coisa louca da mulher na árvore. Como se eu fosse resolver um enigma bobo. Eu quero ir para casa.
- Tudo bem. Ela vai voltar. E você não está sozinha, ok? Eu estou aqui com você, não estou?
- Mas você me odeia por ter mentido! Eu não menti por querer está bem? Eu queria contar para todo mundo, mas disseram que era perigoso. E quem é Eric? E por que eu estou usando a droga de um vestido? Eu quero uma calça. Por que mulheres tem que usar vestido? Adam, me dá uma calça? Ah! Não, mas foi a Claren que me deu o vestido. Não precisa. Adam, eu estou com sono.
- Certo, já estava na hora. Vou levá-la para casa.
O agarrei com força.
- Não. Vou ficar sozinha se você for.
Senti meus olhos pesarem.
- Eu não vou embora então.
- Mas você tem que ir, ou Grace vai me odiar.
- Então eu vou, mas volto. Tudo bem assim?
- Tudo.
Meus olhos se fecharam.
- Vamos então.
Gemi em protesto.
- Não. Aqui está... bom.
Senti um solavanco e já não estava mais nos degraus, mas não tinha me levantado.
- Estamos indo.
- Adam?
Eu quase podia me sentir escorregar para a escuridão do sono.
- Sim?
- Você está muito lindo hoje.
- Eu sei. Você já me disse.
- Mas não é só hoje.
Então eu dormi.
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Cidade de Magia - Contos de Espinhos
FantasyTirya está a caminho da Cidade dos Contos, onde nem todo conto tem um final feliz. Além de ter que suportar um superior de uma personalidade complicada e mais uma vez ficar sozinha ela vai ter que enfrentar os perigos e criaturas da Floresta sem f...