Yadviga

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Ela sorriu e andou pela sala, vi que os alunos ficaram tensos e até Adam se remexeu em sua cadeira, um garoto mais gordinho no lado amarelo começou a suar terrivelmente.
- Acredito que todos já tenham escutado sobre ela.
Seus olhos, idênticos aos meus, avaliaram cada rosto no cômodo e parou no meu.
- Você... Não sabe, não é mesmo?
Neguei e ela sorriu.
- Ótimo! Será um prazer aterrorizar uma mente nova e lhe causar pesadelos.
Ela riu como se tivesse escutado uma piada.
- Yadviga, a Dama negra, possui muitos nomes, Jezibaba, Edviges, Yadviga, Jaga Baba e, como seu nome mais conhecido, Baba Yaga.
Meu sangue gelou e meu coração provavelmente parou antes de voltar a bater em um ritmo muito lento, minha pressão com toda a certeza caiu, não, dispencou. Baba Yaga, Vó Yaga, a velha que tinha me ajudado na floresta. Não! Não podia ser, afinal estávamos tendo aula de criaturas sombrias, ela não devia ser uma.
A sra Damilor continuou a falar.
- Uma velha solitária, um dia ela já foi uma bruxa, poderosa e que servia aos seus deuses fielmente, levando sua justiça ao mundo. Ela se tornou tão poderosa que chegou a ser adorada, ela mesma, como uma deusa e isso lhe deu ainda mais poder. Porém o que aconteceu?
Ela fez uma pausa.
- Com o passar dos anos foi abandonada, mas ao que sei até hoje ela ainda tem seus adoradores. Foi essa adoração que a tornou ainda mais diferente das demais bruxas, ela se tornou imortal, e vive julgando a todos que têm o azar ou sorte de encontrá-la. Ela possui seu proprio senso de justiça e é capaz de ver o seu verdadeiro eu, assim como os pássaros, mas ela é ainda mais precisa. Se você for puro, ela o ajuda, mas se for mal...
Ela não precisou terminar de falar.
- O problema está no fato de que as pessoas puras são praticamente inexistentes hoje e quem a encontrar não é mais visto. Enfim, voltando para a bruxa. Ela, com o passar dos anos, se tornou integrante de diversas histórias e contos humanos e tem papel importante em nossa existência por isso, ela disseminou ainda mais as histórias pelo mundo e as tornou mais sólidas, graças a isso temos a Cidade dos Contos, mas a cidade agora está em caos e ninguém além da guarda pode entrar lá. Vocês sabem que contos ocorrem por lá?
Ela perguntou abaixando o tom de voz e quase todos negaram, olhei para Adam, ele sabia de alguns graças a mim, que se não fosse por meu afinco em estudar contos de fadas jamais saberia também. Todos ficaram ansiosos.
- Bem, isso não importa e vocês não podem saber. Vamos voltar para a senhora Yaga. Ela tem grandes poderes e é conhecida por saber a verdade de cada um. Sua casa também é muito famosa.
Ela foi ao quadro e começou a desenhar, uma casa primeiro e abaixo dela...
- A casa viva, com sua bocarra que é a porta e seus pés de galinha. A casa por si só é muito forte e pode matar. Alguns dos convidados a entrar que dela saiam disseram ser uma casa bastante aconchegante por dentro e que era como qualquer outra.
Engoli em seco. Eu realmente tinha estado com ela, a Baba que eu tinha conhecido, a Baba que me oferecera ajuda e havia me dado um pedaço de lã era a mesma Baba, a mesma Yadviga que causava terror e fazia aquele menino gorducho suar só de ouvir seu nome.
Um pensamento me ocorreu. Se eu a tinha visto e tinha voltado, estava ali naquele instante então eu deveria ter um coração puro. Eu devia ser realmente boa. Um sorriso brotou em meus lábios, uma sorriso de alívio.
- Eu escutei que ela costuma vir por essas redondezas, sua casa já foi avistada ao longe na Floresta das cores. Então, crianças, cuidado se forem entrar nela, e se virem uma casa com estranhas projeções, se afastem e não escutem nenhuma senhora, principalmente vocês, meus caros amarelos.

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