Futuros divergentes

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Foi uma noite cansativa e me levantei da cama a contragosto. Vesti o uniforme lentamente, desci as escadas desejando mais horas de sono. Claren estava na cozinha virando panquecas no ar, um monte delas já em um prato. Me sentei à mesa e separeu três para mim e derramei a calda que havia na jarra próxima.
- Bom dia!
- Bom.
Um bocejo me escapou. Claren colocou a última panqueca no monte e tirou o avental. Olhei ao redor ansiosa.
- Onde está Britta?
- Não sei. Quando a chamei ela não respondeu.
Dito isso ela chamou pela irmã, quando não teve resposta começou a se dirigir ao andar superior, mas assim que chegou às escadas a porta da cozinha irrompeu e Britta entrou sorrindo.
- Bom dia!
Claren retornou à cozinha.
- Onde voce estava?
Ela cantalorou a resposta.
- Passeando!
Eu e Claren nos entreolhamos em confusão, dei de ombros e comecei a comer, ela sentou e se serviu, sem tirar os olhos da bruxinha alegre.
- Alguma novidade boa?
- Não. Nadinha. Hummm, Claren, essa comida está deliciosa.
Claren fez uma careta.
- Ok. Obrigada. Eu acho.
Aproveitei o silêncio que se seguiu.
- Adam me convidou para uma festa hoje.
Todo o comportamento animado de Britta foi esquecido e as duas olharam para mim.
- O que foi?
Claren falou timidamente.
- Você... está... - ela pigarreou - namorando com ele?
A panqueca que estava mastigando desceu de uma vez e eu quase me engasguei.
- Eu escutei de uma... amiga que... nossa... protegida estava... namorando com o filho dos Furler.
Então, era agora, sim ou não?
- Não! Quer dizer, sim. Na verdade... eu não sei.
Ela contraiu ainda mais o rosto.
- Tudo bem...
- Você não pode ir.
Britta falou séria e esqueci o constrangimento.
- Por que?
Claren e eu perguntamos juntas. Britta pareceu nervosa.
- Vai ser na véspera do Samhain e... teremos nossa própria comemoração e...
Claren a interrompeu.
- Isso é verdade, mas, Brittany, Tirya não é uma bruxa. Se ela não quiser ir não precisa. - ela se virou para mim - Se foi convidada deve ir. Ainda mais estando... em um relacionamento com o... Adam. Vá!
Sorri para ela e esperei a resposta de Britta.
- Tudo bem, vá.
Ela se expressou derrotada. Abri um largo sorriso para as duas.
- Obrigada!
- Ok. Mas é bom se apressar agora, ou perderá a aula.
Me levantei, peguei a bolsa no sofá e saí. À porta estava Shun.
- Bom dia.
- Maravilhoso.
Deixei escapar. Ele sorriu em resposta.
- Aconteceu algo bom?
Exibi um rosto feliz para ele.
- Acho que sim.
- Que bom.
Começamos nossa caminhada, o silêncio de sempre se instaurou, mas dessa vez fiquei nervosa com ele.
- Para onde você vai?
Perguntei subitamente, mas ele soube a que me referia.
- Ficarei com um tio-avô, ele é a raposa branca mais velha ainda viva.
Ri imaginando ele lidando com um velhinho irritadiço e ele se mantendo pacífico.
- Ele é experiente, acho que tem sete caudas, sabe de muitas coisas, devo conseguir aprender a controlar meus poderes.
- E que habilidades vai conseguir? Vai fazer bolas de fogo?
Ele riu.
- Talvez, mas têm outras. Quando voltar eu te mostro.
- Vou cobrar.
Me lembrei da noite anterior com a menção de sua partida.
- Shun, o que você ia me dizer ontem?
Ele demorou a responder, abriu a boca para falar e...
- Bom dia pessoas!
Me virei e vi Dylan se aproximar.
- Bom.
Respondi nada animada, me virei novamente para Shun, mas ele não parecia disposto a falar com o bruxo ali.
- O que foi isso? Interrompi alguma coisa?
Ele exibiu um sorriso largo de desculpas.
Caminhamos quietos, com exceção de Dylan que falava sobre coisas muito aleatórias, tão desconexas que cheguei a rir quando ele passou a falar sobre lâmpadas usadas em festivais.
Shun se separou de nós quando chegamos à escola, ele teria aula na estufa. Alguns segundos depois de ele ter sumido de vista senti um braço envolver meus ombros. Olhei para o lado e vi Adam sorrir largamente.
- Bom dia!
Reparei que sua aparência havia voltado ao normal, mas algo ainda brilhava nele.
- Bom dia.
- Saindo...
Dylan se afastou se dirigindo a um grupo de garotas multicoloridas, fadas, reconheci. Voltei a olhar para Adam.
- O que provocou tanta felicidade?
Ele começou a caminhar me levando consigo já que ainda tinha o braço sombre meus ombros.
- Saberá hoje a noite.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora