O brilho dos prateados

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Quando cheguei à mansão Furler segui para a mesma árvore em que ficava vigiando há apenas algumas semanas. Me encobri na escuridão sabendo que todos ali tinham consciência de minha presença, aquilo já não me incomodava mais. Bastou que eu parasse e olhasse ao redor para ver o brilho prateado dos cabelos dele sob a lua quase cheia, no dia seguinte haveria uma floresta prateada atrás da casa de Britta. Ele se aproximou de mim vagarosamente, como se temesse qualquer que fosse o motivo que havia me levado a ali.
- Boa noite.
- Temos que conversar.
Ele estreitou um olho para mim, percebi que a cor de seus olhos estava mais viva e clara, quase brilhante a aquela meia luz.
- Boa noite.
Enfim o cumprimentei devidamente e ele sorriu, com aquele sorriso vi algo diferente nele, além dos olhos os dentes também estavam diferentes, os caninos pareciam mais afiados. Toda aquela combinação o tornava mais exótico, como se eu estivesse diante de uma visão única no universo. Eu tinha lido sobre aquilo, os lobos prateados mudavam com a lua, quanto mais próxima de nova mais humanos pareciam e quanto mais próxima de cheia mais... animais. Fiquei curiosa para saber como seria sua aparência no dia seguinte, mas durante o dia ele ficava normal, teria que vê-lo pela noite para findar minha curiosidade.
- Então, o que a traz aqui? Depois de ser liberada da função de vigia não pos os pés nessa casa.
- Desculpe.
Ele sorriu.
- Tudo bem. De qualquer forma também preciso falar contigo.
- Adam, eu soube que...
Ele me interrompeu.
- ... que toda a cidade sabe sobre um certo romance entre uma mestiça e um lobo?
Me surpreendi por ele já saber.
- Como...?
Ele olhou para o chão.
- As pessoas fuchicam muito quando estou perto. - ele deu de ombros - Acabei escutando uma das conversas.
- Quando soube disso?
A ideia de ele esconder aquilo de mim me deixou triste.
- Eu percebi já tem algum tempo, mas só confirmei mesmo hoje. Já era previsível que um dos empregados espalhasse a notícia.
Cruzei meus braços.
- E por que sua vida é tão pública?
- A família Furler integra o Conselho, além de ser muito importante entre os lobos por ser a única inteiramente pura, ou pelo menos era.
- Era?
- Meu irmão é mestiço de lobo negro e prateado.
Eu fiquei confusa.
- E você não?
Ele negou.
- Grace não é minha mãe, minha mãe verdadeira morreu ao me dar a luz. Grace me criou, a considero minha mãe por inteiro.
Me arrependi de o ter levado a tocar em um assunto que me parecia tão delicado.
- Então, o que faremos quanto a Cidade inteira saber disso? É bem desconfortável ser o tempo inteiro encarada.
Ele riu.
- Sei como é. - ele se aproximou - Você quer acabar com isso?
O olhei. Seus olhos pareciam dizer que ele não queria, imaginei que o tinha causado problemas com toda aquela confusão e ainda o arrastei comigo para um problema maior.
- Ainda não.
Ele se aproximou mais.
- Maika, tem algo que quero lhe perguntar.
Eu olhava um pouco para cima e não via mais nada além do rosto dele.
- Sim?
- Sei que irá partir em breve. - acenei, seria depois do dia seguinte - Mas eu quero lhe convidar para amanhã ir a uma festa comigo. Você iria?
- Festa?
Seu olhar estava permanecia sereno.
- Amanhã teremos uma lua de sangue, os lobos se reúnem para comemorar, é período de festa em todo lugar, é uma época muito importante para bruxos. E a festa dos lobos é realmente agradável... Você quer ir comigo?
Os olhos dele estavam mesmo brilhando ali. O jeito como ele falou era hipnotizante, a voz dele soou doce e profunda.
- Sim.
Não havia como negar o pedido dele, mesmo que eu quisesse dizer não ainda sairia um sim por meus lábios. Ele sorriu abertamente para mim e senti meu coração acelerar. O que era aquilo? Como eu podia me sentir daquele jeito?
- Agora estou ansioso para essa festa.
Eu pisquei.
- Eu também. Devo... usar alguma roupa especial?
- Qualquer coisa serve, mas se usar branco ou vermelho será melhor.
Concordei ainda enfeitiçada. Talvez fosse a proximidade dele, ou aqueles olhos brilhantes, mas algo nele me atraia de um jeito que eu não sei descrever.
- Branco ou vermelho então.
Ele acenou de leve. Sua mão se ergueu e ele a pousou em meu pescoço, eu a senti calorosa sobre minha pele, ele a subiu ao longo de meu pescoço parando entre minha mandíbula e o pescoço. Eu não conseguia tirar meus olhos dos dele enquanto ele diminuía a distância entre nós.
- Boa noite, Maika.
Ele se afastou subitamente e deixou de me tocar, fiquei inerte por alguns segundos tentando entender o que tinha acontecido ou que quase aconteceu.
- Até amanhã, Adam.
Ele se virou e entrou na casa por trás.

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