Branca de Neve

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Quando nos juntamos ao rei e à rainha eles nos receberam com sorrisos. Eram tão gentis. Ryan tinha me dado luvas, para cobrir as marcas que definitivamente não eram comuns em rainhas. Eu tentava sorrir como a rainha, mas era difícil passar tanta felicidade em um sorriso.
Tinha um banquete diante de nós e eu me sentava à frente de Ryan, eu só comia depois dele, para garantir que não iria pegar nenhum talher errado. Ele conversava com o rei sobre assuntos que eu sabia que eles não tinham realmente em comum. A rainha estava sentada ao meu lado e em um momento, entre um prato e outro ela se inclinou para falar comigo.
- Seu rei parece ser um homem bom. E é encantador. Seus pais lhe concederam um bom casamento.
- Sim!
Falei assustada. Eu não tinha ideia de como manter uma conversa como Ryan, não sem levantar suspeitas.
- Ele também teve sorte. Nem todos os reis conseguem uma rainha tão bela.
A olhei surpresa, mas me lembrei do reflexo que tinha visto no espelho, até eu me achava bonita daquele jeito.
- Obrigada. Seu rei também tem sorte.
- Oh! Tem sim. Ele não encontraria uma esposa tão dedicada quanto eu em nenhum reino.
Ela sorriu e eu pude me juntar a ela. O novo prato foi servido e eu me vi diante de uma ave assada. Era muito pequena. Me lembrei de Kane lançando a flecha no ar e o pássaro caindo. Meu apetite se foi.
- Não precisa comer tudo que colocarem à sua frente. Se não quiser, basta esperar.
- Obrigada.
A rainha sorriu gentilmente.
- Percebi que não comeu nenhuma carne. Deve ser uma verdadeira amante dos animais.
- Não é isso...
- Eu quero ter uma filha assim.
Ela me interrompeu e eu fiquei surpresa.
- Com a pele branca como a neve e lábios vermelhos como uma maçã, mas gostaria que ela tivesse os cabelos negros, como os do pai. Ela seria linda...
Ela começou a tossir e eu soube em que conto estávamos. O rei deixou de falar com Ryan.
- Querida! Você está bem?
A rainha se recompôs, mas com esforço.
- Estou, querido. Mas gostaria de me retirar antes.
- Sim! Repouse.
- Com sua licença...
Ela se levantou com esforço da cadeira e eu me entristeci. Ela iria morrer. Um destino já escrito que não tinha escapatória. E nasceria uma criança, uma menina exatamente como ela desejou, mas ela só a veria uma vez, uma vez antes de a vida se esvair dela.
Eu olhei para Ryan, ele me retribuiu com um olhar solidário. Ele já sabia.

◇•°•◇

Quando o rei não tinha masi assuntos com Ryan e quando já não haviam mais pratos a serem servidos ele nos deixou, para se juntar a esposa. Nós fomos levados ao quarto por dois guardas e uma criada, eu suspeitava ser a mesma que tinha entrado no quarto mais cedo, pois ela nos olhava frequentemente e uma das vezes eu vi um sorriso em seus lábios. O constrangimento era enorme e ainda maior por Ryan ter colocado minha mão em volta de seu braço. Ele queria que parecessemos um casal apaixonado. Talvez meu rubor contribuisse.
Quando estávamos sozinhos no quarto, Ryan amdou por todo ele, procurando por algo que eu não sabia, empurrou móveis, levantou tapetes e ao final de tudo abriu a porta do quarto e olhou para o lado de fora. Quando ele fechou a porta se virou direramente para mim.
- Eu já tenho informações para confirmar minhas suspeitas, só preciso me garntir que estão certas.
- Já? O que falou tanto com o rei?
- Sobre muitas coisas, mas principalmente caça. Ele disse que na última caçada ele e os homens viram um lobo, lobos não são comuns por aqui, e era maior que qualquer um que ele pudesse já ter visto. Quando falei com um dos criados pude escutar a conversa de alguns. Eles diziam que um lobo gigante andava rondando pela muralha e acha que foi o forasteiro que esteve por aqui que atraiu ele. O melhor foi isso, um forasteiro, ele aparentemente não tinha a moeda daqui e do nada conseguiu ela, depois ele fazia perguntas estranhas sobre criaturas claramente mágicas e não tem aparência comum da região. É um perfeito suspeito.
- Realmente... as informações se encontram todas aqui.
- Eu disse. E o rei me deu a melhor de todas. O forasteiro é um bruxo.

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