Cidade de Magia - Contos de Espinhos

Como uma sereia

Eu ainda não podia acreditar. O aviso para Titania, a rainha das fadas. O assassino era o homem na festa. Ele tinha falado comigo e tinha me visto antes, ele... tinha olhos...
Eu esqueci tudo quando escutei um canto estranho, a voz parecia vir de outro mundo, era áspera e soava triste e distante. Olhei para Ryan, querendo lhe perguntar o que era aquilo, mas assim que me virei ele não estava mais ao meu lado. Ele continuava andando, mas em outra direção, quando observei para onde ele estava indo percebi movimento mais à frente, estreitei meus olhos, mas ainda não pude ver.
- Ryan!
O chamei, mas ele me ignorou e continuou andando. Corri para alcançá-lo, fiquei mais à frente.
- Para onde está indo? Pensei que fôssemos em frente.
Os olhos dele estavam vazios, o azul opaco e seu rosto sem expressão. Ele continuou andando e permaneceu calado. Eu soube que algo estava errado. Ryan gostava de falar. Ele não tinha parado de pensar comigo em voz alta por quase todo o caminho. Me preocupei e voltei a olhar para onde ele estava indo. Dessa vez pude discernir um pouco melhor a figura dançante. Parecia um cadáver, a pele era azul e verde, se movimentava de um jeito estranho e era aquilo que cantava. Ryan estava indo para aquilo, como se estivesse enfeitiçado. Agarrei seu braço e ele tentou continuar andando. Eu não podia segurar ele, era fraca. Abracei seu braço e o puxei para trás, mas era simplesmente arrastada com ele, a neve ficando marcada atrás de nós. O soltei caindo na neve e tive uma ideia. Me levantei com pressa, ele estava ficando mais próximo daquilo e eu tinha certeza que coisa boa seria a única coisa que não aconteceria. Corri mais à frente e depois me virei para ele, estava a uma distância de uns dois metros. Disparei na direção dele me chocando com força e velocidade, consegui o derrubar sobre a neve, ele caiu de costas comigo sobre ele, quando abriu seus olhos vi que ainda estavam opacos, ele ia tentar de novo. Ele tentou se levantar, mas usei meu peso contra ele e tentei o segurar, ele tentou me empurrar, mas agarrei seus pulsos e me aproveitei da posição em que estava e usei as leis da física contra ele, mas ele continuava se remexendo, o canto de fundo aumentou e nossa pequena batalha era quase silenciosa com apenas eu resmungando. Minhas costas latejaram, elas estavam curvas de um jeito muito desconfortável e o hematoma gigante latejava. Ele enfim conseguiu ficar por cima, tinha menos de dois segundos com ele ainda próximo à mim. Pensei em tudo o que podia fazer. As imagens de milhares de filmes que tinha assistido com Annie passaram por minha cabeça e só tinha uma coisa que eu poderia fazer, mas ia doer, muito. Não me dei tempo para pensar mais naquilo e bati com toda a força que consegui minha testa na dele.
Vi estrelas e um pequeno Shun sorrindo para mim. A dor foi instantânea e quando escutei uma reclamação deixei tudo de lado.
- Que merda foi essa?
Vida tinha voltado aos olhos dele. Me aliviei, mas ao escutar o canto se tornar mais alto levei minhas mãos com desespero aos ouvidos de Ryan tentando bloquear qualquer som.
- O que está fazendo?
Balancei a cabeça negando. Ele levou uma mão a uma das minhas. Balancei a cabeça mais uma vez. Aquele som era horrivel, aquele cadáver feminino era horrível, a dança dela era horrível. Mordi o lábio inferior para suportar tudo. Ryan deixou minha mão e a usou para se apoiar, a pousando bem do lado de minha cabeça. O olhar dele mudou, estava mais sereno.
- Você faz ideia de como é difícil para mim ficar desse jeito.
Acenei, entendendo como ele estava tendo que forçar os braços para continuar erguido acima de mim. Eu queria que aquele cadáver parasse de cantar, eu queria soltá-lo, mas não podia enquanto ela continuasse, por isso continuei cobrindo suas orelhas. Ele se abaixou um pouco.
- Você não sabe mesmo... Durante toda a minha imortalidade eu já vi muitas formas de beleza.
O que ele estava dizendo?
Ele se abaixou mais. Eu esperava que estivesse só cansado. O canto continuava.
- Mas, agora, do jeito que você está... eu nunca vi nada igual.
Ele se abaixou mais e estava a menos de trinta centímetros. Eu entendi o que ele estava prestes a fazer, desviei o olhar para a figura dançante. Se eu tivesse o fogo... talvez pudesse queimá-la. Aquilo não era vivo de qualquer forma.
- Olhe para mim. Quero ver seus olhos. Eles são a coisa mais bonita que já vi.
Eu realmente olhei para ele, mas estava preocupada. Por que ele estava falando aquilo. Instantes atrás ele não me diria um elogio, ele era convencido demais.
Ele se abaixou mais e nossas respirações se mesclaram, se ele se movesse mais um centímetro eu deixaria de protegê-lo daquele canto. A mão que estava ao lado de minha cabeça roçou em meus cabelos soltos.
O canto se tornou um urro e então um grito. Fechei meus olhos com a dor que me atingiu os tímpanos e algo macio tocou meus lábios. O grito sumiu e abri novamente os olhos, era Ryan ali, me beijando. Deixei de protegê-lo e o empurrei. Na primeira vez não fez efeito, então coloquei mais força no segundo e ele enfim se afastou de mim. Ele abriu os olhos para ver minha expressão de raiva.
- Eu o protego do que quer que seja aquela maldita coisa e você me beija a força!
Ele estava assustado, mas não me importei com aquilo. Estava zangada. Eu não gostava dele. Meu coração palpitava por Shun. Apenas Shun! Mas minha raiva não era só com ele, era justamente com esse mesmo cotação enganador que acelerava nas horas erradas e que estava naquele instante em um ritmo desordenado.
- E-eu... eu não fiz isso!
Ele falou com firmeza.
- Ah! Então quem estava em cima de mim e com a cara na minha?
Ele coçou a cabeça com uma inspiração.
- Eu não fiz isso de propósito! Você acha mesmo que eu faria? Tinha alguma coisa agindo sobre mim. Eu... eu só via você e... achava que tinha encontrado-
O interrompi, porque não queria entendê-lo. Queria poder continuar jogando a culpa sobre ele, a culpa de aquilo ter durado mais de dez segundos.
- Por favor! Não vai me dizer que a culpa é minha?
Ele me encarou, um olhar que dizia que ele tinha pensado em algo. Um olhar que eu não gostei de ver.
- Pode ter sido. Você está assim já fazem várias horas. É uma aparência muito boa. E deve estar ligada ao seu inscius, então você pode ter algum tipo de atração, um feitiço, como as sereias, ou...
- Eu não sou uma sereia.
Era uma das coisas que eu menos queria ser. Ser parecida em algum aspecto com Lissa.
- Eu não disse isso, só que seria um mesmo mecanismo. Sereias não têm habilidades ligadas à natureza.
Estava ficando irritada e naquele instante eu não queria saber mais. Apontei para a direção onde mais cedo havia o cadáver dançante.
- O que era aquilo?
Ele olhou na direção que apontei.
- Uma Rusalka, claramente.
- E...?
- Elas atraem viajantes para afogá-los em rios ou lagos. Para morrerem do mesmo jeito que elas. - ele parou por breves instantes. - Ela não devia estar aqui. É inverno. Elas só saem no verão e... - ele olhou para mim. - Estava muito fraca. Normalmente elas atraem todos os viajantes, sejam homens ou mulheres. Mas você não foi afetada. E pela batida na testa, - eu senti minha cabeça doer e temi que se formasse uma protuberância - obrigado.
- Bato em você sempre que quiser.
Falei com um sorriso inocente. Ele manteve o olhar sério.
- Tirya, não é mesmo? Eu realmente não fiz aquilo de propósito. - seu olhar se suavizou - Se eu fosse beijá-la não seria a força.
Sorri sarcasticamente.
- É mesmo. Até porque você é o senhor sedutor.
Estreitei meu olhar para ele, fui retribuída com um sorriso encantador.
- Você está mesmo muito atraente desse jeito. Não faz idéia.
Não conseguiu evitar olhar para meus braços cruzados, eles continuavam brancos demais. Como estaria meu rosto?
Me recompus e voltei a olhar para ele.
- E por que ela sumiu do nada?
- Percebeu que tinha perdido a vítima. O grito final foi de raiva. Ela viu que eu... - ele tossiu intencionalmente - tinha sido capturado por você.

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Hj foi mais cedo pq vou sair. E eu tive bastante tempo para escrever. Amanhã será no horário normal.
Espero que tenham rido nesse cap e tenham ficado um pouquinho desse tantinho aqui () assustados. A rusalka é realmente assustadora, queria descrever ela melhor, mas não tive espaço. Esse cap ficou do tamanho de 2 normais. Aproveitem.
E o Ryan foi mesmo enfeitiçado pela Tirya. Viram como ele ficou elogiando ela? Eu escrevi isso morrendo de rir. Realmente gosto muito do Ryan, é o tipo de personagem que tem que ter em todo livro. E ele é lindo, muito mesmo. Mais que o Akira, Shun, Adam, Lark, Trent, Than e qualquer um que vier à mente de vocês. Apesar de eu achar que o Akira até pode chegar a alcançar ele. Tem um outro personagem muito bonito. E feminina tem uma que alcança ele tranquilamente, essa é a Fray, ela é linda mesmo. A Tirya não fica para trás do jeitinho que ela está agora...
Aigoo (sei de alguem que está sorrindo agora) vou me calar.