Fraca

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Eu não dormi, mas depois de uma hora estava tentada e depois de mais meia hora sonhava acordada. Quase me entreguei ao sono, me virei de lado e quando o fiz dei de cara com um par de olhos azuis gélidos e depois senti um peteleco na testa.
- Eu disse para dormir.
Levei a mão à cabeça e massageei o lugar. Tremi com a proximidade do senhor das trevas, mas logo ele se levantou. Girei novamente e me sentei.
- Primeiro preciso saber do que a moça é capaz. Mostre seu inscius.
Eu olhei ao redor, principalmente para o tecido da tenda.
- Aqui?
- Aqui, agora.
Dei de ombros, talvez pudesse penaliza-lo por não me ensinar logo e me fazer perder mais de duas horas deitada ali enquanto ele dormia, podia ao menos ter me mandado cortar uns troncos. Fiquei feliz com aquela idéia e a usei como impulsionadora do poder. Fiz uma parte do movimento que Lark tinha me ensinado, fechei a mão em punho e soquei o ar enquanto mantinha o outro braço recolhido ao lado do corpo. Chamas ascenderam, mas não intensas o suficiente para atingir a tenda. Fiquei triste e decepcionada por não ser capaz de fazer algo maior. Meus sentimentos não tinham sido intensos o suficiente. Tornei a olhar para Ryan orgulhosa. Talvez ele também se impressionasse, como o vampiro que havia me avaliado no teste da Unique.
- É um poder útil.
Meus ombros caíram junto com meu ego. Ele se levantou e limpou parte da poeira da calça, depois se voltou para mim e estendeu a mão. A ideia de toca-lo me pareceu assustadora e se ele fosse frio como um morto ou quente como fogo? Ergui minha mão e quando estava alcançando a dele ela se fechou em volta de ar.
- Demorou demais. Hesitar, isso não é algo bom em uma batalha. Quando estiver frente a frente com o inimigo será a sua morte ou a dele e, diferente de você, ele não irá hesitar.
Eu tinha ficado irritada, logo minha boca não pode ser fechada.
- E o que garante que ele não vá hesitar?
- Nada. Apenas não se pode contar que ele vá, pois as chances de dois hesitantes cruzarem espadas em uma batalha dentre tantas em meio a centenas é miserável. Na guerra, para evitar a culpa, o melhor é pensar em seu inimigo como alguém cruel, do seu ponto de vista é claro, afinal ninguém quer saber que matou um bom pai ou um bom filho ou todos hesitariam, mas o outro lado ainda o verá como cruel e esse é o fim.
Ele falava com tanta indiferença que parecia herança de muitas batalhas.
- O que você é?
Ele tinha pego Tyrfing e a analisava enquanto tinha feito seu discurso. Agora a apontava para mim, mas eu não tive medo, não daquilo, não da espada.
- Quando se juntar aos círculos em volta das fogueiras repita essa pergunta.
- Por que não me diz agora?
Ele recolheu a espada novamente e passou os dedos na parte achatada da lâmina.
- Acredito que o mistério é o que move os vivos, é a realidade dos mortos e o desejo dos imortais.
- Qual o seu caso?
Ele olhou para mim.
- Vejamos se eu a instiguei e deverá saber em breve a resposta se eu tiver obtido sucesso.
Me levantei e uma leve tontura me atingiu, tudo ficou escuro por alguns segundos, me apoiei nos joelhos até tudo voltar. Quando me recuperei e abri os olhos Ryan estava muito perto.
- Isso é um indício de como você está despreparada. Seu corpo está fraco. Vamos trabalhar nele primeiro.
- Eu não sou fraca.
Ele sorriu de mim.
- Está sim, por isso não conseguiu queimar minha tenda.
- Eu não...
- Você mirou no ponto mais próximo e estava muito satisfeita em usar seu poder em um lugar tão frágil. - ele enlargueceu o sorriso - Gostei disso, garota incendiária. É assim que a chamaram não é?
Me encolhi, ele ia mesmo acabar comigo.
- Você não pode ter gostado mesmo. Ou seria...
- Loucura? Na verdade não. Apenas aprovei seu espírito, mas querer queimar a tenda de seu superior, ou mesmo tentar, deve ser punido.
Engoli em seco. Ia morrer no meu primeiro dia.
- Relaxe, vou escolher algo apropriado para minha nova discípula. Mas por enquanto vamos começar com um pequeno teste.
- O que?
- Corrida.
Ah não! Florestas e corridas me perseguiam.

Cidade de Magia - Contos de EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora