- Por quanto tempo vai continuar assim?
Ele se virou apenas para me olhar, eu ali, naquelas calças rasgadas e a blusa do uniforme dele de braços cruzados e cara fechada.
- Não olhe para mim ou posso te enfeitiçar de novo!
Falei com ironia. Ele suspirou e parou de andar, parei no mesmo instante mantendo distância entre nós.
- Eu já disse que não é assim. Vai continuar com raiva de mim? Pois bem, vou lhe dar um motivo a cada hora. O que acha? Talvez outro beijo...
- Não!
Falei desesperada.
- Tudo bem... Não estou mais com raiva.
Descruzei os braços e ele sorriu.
- Ótimo. Vamos continuar.
Assim que ele se virou e voltou a andar exibi a língua para ele como qualquer criança faria e o xinguei mentalmente. Então voltei a andar.
- Você é mais infantil que eu pensei.
Paralisei.
- Dá muita importância a um beijo.
Ele falava ainda de costas.
- Não é o beijo, mas o que ele representa.
- Não acho que aquele tenha sido seu primeiro. Ou foi?
- Não...
Falei com um sorriso.
- Então, não há porque ficar tão irritada.
- É claro que há!
Ele se virou repentinamente, eu estava a cinco passos de distância e me gratifiquei por ter mantido distância.
- Então é por mais do que por ter sido à força...
Os olhos dele brilharam e eu dei um passo relutante para trás cruzando meus braços novamente.
- Quanto falta mesmo para chegarmos?
- Já chegamos.
Ele me permitia fugir de qualquer assunto com facilidade, me perguntava por que ele não era insistente como a maioria das pessoas, mas agradeci aos céus por ele ser assim.
- O território já é esse, mas falta pouco mais de um quilômetro para chegarmos ao reino deles.
- É o reino de algum... conto?
- Claro! Todos os reinos são. Esse está no ciclo dos espelhos. As vezes mais de um conto está em um reino... Espera, você conhece os contos?
Enchi meus pulmões de ar e falei com orgulho.
- Eu os estudei por toda a minha infância.
- Curioso alguém ter como estudá-los.
- Onde vamos ficar?
Ele se inclinou em minha direção e mesmo com a distância eu me curvei para trás.
- No palácio. O que acha?
Ele tinha me surpreendido.
- Por que?
- É a melhor forma de conseguir informações. Os criados sempre estão dispostos a cochichar perto de você ou atrás de portas. E por uma moeda você consegue mais informações do que conseguiria observando o reino de longe por um mês.
- E por que o palácio?
- É lá onde todas as informações se encontram.
- E como vamos conseguir isso?
- O próprio rei e rainha nos convidarão.
- Por que?
- Somos pobres rei e rainha abandonados pelos próprios serviçais no frio durante uma viajem para encontrar com seus pais, reis de outro reino que estão comemorando o casamento de seu irmão mais novo.
- De onde tirou essa história?
Ele deu de ombros.
- É conveniente para mimhas investigações ter uma história de desculpa para estar em um reino de contos. Não posso dizer que sou da Guarda.
- Mas... isso não vai afetar o conto?
- De maneira alguma. O ciclo acabou de começar, não estaremos intervindo na história real. Quando o ciclo já está no meio é mais difícil, tenho que ter cuidado para não mexer com os personagens... Enfim, vamos.
- Como vamos convencer eles que somos mesmo da realeza? E... Ei! Por que eu tenho que ser sua esposa?
Olhei para ele desconfiada.
- Prefere ser minha filha? Eu não tenho aparência para isso. E mesmo se tivesse seria ruim, por que nos colocariam em quartos diferentes, o que ia atrapalhar nossas manobras. Explicado?
Ryan falava tão sério e tranquilo que não pude questionar mais.
- Já quanto a afirmar que somos da realeza. Nossas aparências servem, e muito. Também tenho um álibi.
- Qual?
- O selo real de um reino verdadeiro daqui. O reino congelou há um ano e o novo rei estava sendo coroado.
Ele tirou da mochila um anel dourado e o entregou para mim. Havia um brasão muito bem trabalhado ali.
- Vou precisar que aja como uma rainha de verdade. Mas uma boa. A rainha daqui ainda é a bondosa.
- Como sabe em que período do ciclo está?
- Eu trabalho por aqui há bastante tempo, mais que o suficiente para saber o tempo de duração do ciclo de cada reino.
- Está se chamando de velho. Quantos anos você tem afinal?
- Bem mais que você.
- Disso eu sei. Não fuja da pergunta.
- Eu permito que você fuja das minhas.
Me calei. Ele se virou e voltou a andar. Talvez ficar com raiva dele fosse mesmo inútil.×××
O próximo capítulo está grande e bem fofinho no final.
Mas tem uma coisa importante.
Aguardem ansiosamente.
Gehehee
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Cidade de Magia - Contos de Espinhos
FantasyTirya está a caminho da Cidade dos Contos, onde nem todo conto tem um final feliz. Além de ter que suportar um superior de uma personalidade complicada e mais uma vez ficar sozinha ela vai ter que enfrentar os perigos e criaturas da Floresta sem f...