Festa de lobos

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Quando saímos da proteção da casa eu o vi se transformar. A lua da lua sangrenta o fez ficar inteiramente... diferente. Os olhos ganharam mais brilho e o dourado se mesclou a um tom vermelho leve, os cabelos prateados também ganharam uma nova vida, os fios cintilavam e refletiam a luz o fazendo parecer ruivo, além disso ele, instantaneamente ficou mais altivo e... Não tenho outra palavra para descrever como ele ficou além de atraente. A cor vermelha era perfeita para ele. Percebendo meu olhar ele se voltou para mim.
- Essa é a sua primeira lua de sangue, não é mesmo?
- Sim. - Respondi quase me derretendo. Ele ergueu as sombrancelhas, o que me fez perceber o quão boba devia parecer - Eu nunca tinha visto uma.
- Curioso, pelo que estudei, a lua também fica vermelha do lado de fora.
- Mas não tanto quanto essa.
- Você tinha que ver a lua do lobo. Todos se reúnem e comem como uma família, todos devem ir. As crianças assistem seus pais se tranformarem e é quando nos tornamos mais poderosos e as crianças se transformam pela primeira vez. Fazemos uma dança e o uivo coletivo.
Ele parou de andar e se virou para mim, ficamos frente a frente e mais uma vez ele me tocou no pescoço. Fechei meus olhos. Senti meu coração disparar e minha respiração diminuir. O que era aquilo?
- É a lua da cor de seus olhos.
Ele falou com uma voz tão doce, foi tão gentil. Abri meus olhos e me deparei com os dele.
- Adam...
Mais uma vez ele se afastou subitamente.
- É melhor andarmos. É aqui perto, vamos chegar logo, até já sinto o cheiro dos outros.
Ele entortou o nariz forçando um sorriso. Retribuí, mas bastante desconcertada. O que eu esperava? Continuamos andando e ele falou mais sobre a lua do lobo. Como preparavam comidas especiais, que aquela era a lua da tranquilidade, quando até mesmo os lobos queriam dançar. Falou sobre as amizades que se podia fazer e a certeza de que seriam fiéis e eternas.
- Adam, e essa lua? A lua de sangue é a lua de quê?
- Da fartura e fertilidade além de ser a que une o passado e o presente. É quando se uiva pelos ansestrais.
Quando ele terminou de falar chegamos a uma casa gigantesca, maior até que a dele, mais sombria também.
- Normalmente quem recebe os lobos é nossa família, mas esse ano um senhor pediu. Ele não mora aqui, por isso a casa deve estar tão mal tratada.
Ele colocou o braço em volta de meus ombros quando eu comecei a tremer, não sabia se era frio ou medo, então bateu à porta.
Ela se abriu quase simultaneamente e um homem idoso nos recebeu sem realmente nos notar. Ele olhava fixamente para a frente e eu não o vi piscar. Entramos sem apresentações. O senhor fechou a porta e o longo corredor em que estávamos ficou escuro, exceto por um candelabro sobre uma mesa lateral. Olhei para Adam e mais uma vez me surpreendi com sua mudança de aparência, ele tinha voltado ao normal, mas não completamente, percebi, ele ainda mantinha uma postura diferente, mais altiva e que lhe dava mais confiança.
O senhor pegou o candelabro e andou à frente. Seguimos atrás dele escutando apenas o som de nossos passos sobre a madeira, até que um som abafado de conversas se tornou audível. Quase no fim do corredor o senhor mais uma vez parou e abriu enormes portas duplas.
O som das vozes mescladas se tornou alto quando entramos no salão repleto de pessoas em vermelho e branco, um lustre enorme iluminava o espaço com a ajuda de gêmeos menores, havia fuas escadas ao lado oposto do salão que se uniam em um corredor mais alto que seguia para mais corredores e quartos escondidos. A madeira do lugar era diferente, com formas geométricas criando padrões por todo o chão. Na parede lateral, que ficava oposta ao lado que devia ser a frente da casa, havia portas gigantes de vidro e janelas tão grandes quanto as portas.
- Vamos. Vou lhe apresentar uma pessoa.

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