Promessa

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Eu estava impaciente. Andava de um lado para outro no quarto havia alguns minutos. Depois da saída de Lan tinha ficado daquele jeito, o que ela havia me dito...
Eu precisava falar com Adam e não podia esperar, ou podia? Não. Tinha que ser logo, mas já era noite. Olhei pela janela, eu definitivamente não podia esperar. Eu estava prestes a sair quando uma voz me atraiu de volta.
- Boa noite.
Me virei e vi a raposa branca que eu tanto adorava.
- Boa noite, Shun.
Ele estava sobre o parapeito da janela, fiz o mesmo na minha, assim ficava mais fácil escutarmos um ao outro.
- O que tanto a preocupa?
Minha cara de surpresa o incentivou a continuar.
- Está caminhando assim já faz bastante tempo. Eu posso escutar.
Exibi um sorriso fraco.
- Desculpe, eu o acordei.
- Não, eu não durmo a essa hora.
Fortaleci meu sorriso.
- Então, está nervosa com a ida à Floresta sem fim?
Será que ele também já sabia daqueles boatos bobos?
- Sim. - mais uma mentira, aquela viajem não me afetou o dia quase todo. - Mas Lan irá comigo.
Ele passou os olhos por mim, pelo menos por tudo o que a janela permitia ser visto.
- Essa marca no seu pulso...
"Não vamos contar a ninguém" A voz de Lan soou em minha mente como um aviso, uma censura, mas eu podia confiar em Shun, certo?
- Essa apareceu do nada também. - mais uma mentira, outro sorriso fraco - Parece que essas coisas vão continuar acontecendo comigo.
Me xinguei mentalmente por não ter contado logo a verdade, mas Lan não saia de minha cabeça, parecia que ela estava bem ali me dizendo aquilo no mesmo instante.
Shun desviou o olhar, deveria saber que eu era uma mentirosa e estar decepcionado comigo.
- Com certeza são alguma coisa importante.
Ele sabia, eu podia sentir, mas não podia majs voltar atrás e dizer a verdade. Aquele olhar quase vazio me despedaçou por dentro. Quando voltou a olhar para mim o senti se afastar.
- Também farei uma viajem.
Eu pisquei surpresa.
- Para onde?
- Em cinco dias irei para a Clareira, ficarei lá por tempo indefinido.
Um aperto em meu coração doeu. Se ele também partiria e não sabia quando iria voltar podia ser que quando eu voltasse ele não estivesse aqui.
Minha tristeza foi evidente.
- Por que?
Foi tudo o que consegui dizer.
- Tenho que dominar minhas habilidades. Qualquer outra raposa de minha idade já consegue ter sua forma animal, mas eu nem mesmo sou capaz de mudar a idade.
Minha respiração se tornou pesada.
- Voltarei assim que puder.
Pisquei tentando desembaçar a vista.
- Emi, não chore. Sabe que não gosto...
Afastei as lágrimas passando as costas das mãos no rosto e ergui a cabeça exibindo um sorriso.
- Tudo bem. Espero que fique forte. Me esforçarei na Floresta e você na Clareira e quando voltarmos podemos ter aquele almoço.
Tentei demonstrar animação, mas o olhar dele continou expressando angústia. Ele estendeu um braço, mas quando fui erguer o meu também ele recolheu o seu como se lembrasse de algo horrível.
- Vou voltar logo, e quando eu voltar iremos almoçar juntos diversas vezes.
Acenei. Ele me mostrou um de seus raros sorrisos abertos. Ficamos daquele jeito por alguns segundos, quando ele começou a falar algos.
- Emi, tem algo que quero...
- Shun!
O chamado um pouco distante o interrompeu. Ele soltou um longo suspiro e se afastou do parapeito.
- Boa noite, Emi.
- Boa noite, Shun.
Ele se virou e saiu. O que ele iria dizer? Essa pergunta me dominou por bastante tempo enquanto eu permanecia à janela parada, como se ele fosse voltar a qualquer instante.
Mas me lembrei de outra angústia. Decidi não esperar e segui para a casa do licantropo prateado.

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