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Laura

Minha mãe havia ido me buscar umas dez da noite e me obrigou a vir para casa.  Passei a noite me revirando na cama. A culpa por ter deixado Eduarda cair da escada só aumentava enquanto o frio da madrugada chegava. Dona Diná insistia em dizer que a culpa não era minha, mas eu sabia que era sim.

Não sabia que horas da madrugada já eram, quando um vento frio invadiu meu quarto pela janela que havia ficado aberta. Me levantei e vi as luzes dos postes acesas e apenas um carro passava pela rua mal iluminada.  Uma estrela candente atravessou destacando-se no céu estrelado daquela noite e eu fiz meu pendido. -Eduarda vai ficar bem!- Fechei a janela e voltei para cama e acabei adormecendo.

"Eu chegava no parque e Eduarda estava sentada jogando pedrinhas no rio. Me aproximava e ela levantava para me abraçar. O cheiro de flores e o barulho do vento nas folhas das árvores dava um ar de paz.  Mas o vento que antes  era de tranquilidade, não estava mais tão calmo e eu tentava correr. Eduarda não se movia e eu a puxava para saímos dali. -Vai! Você precisa ir sem mim, Laura. -Eu insistia em tira-lá dali. -Você precisa ir sem mim.-O vento só aumentava, mas eu não queria deixá-la. -Vem Eduarda! -Eu olhava para tentar saber o que a impedia de vir comigo. Ela estava sangrando. De onde vinha tanto sangue? Ela foi soltando minha mãe e eu ia perde-lá. "

Acordei e o dia já tinha amanhecido. Estava molhada de suor.  Faltavam apenas três minutos para o celular despertar, desliguei e fui ao banheiro tomar banho e fazer minha higiene. Enxuguei meu corpo e vesti uma calça jeans e uma blusa qualquer.

-Bom dia, minha filha! -Minha mãe fala. -Cadê sua farda?

-Hoje eu não vou para escola. Vou ao hospital.

-Não meu amor. Aquele lugar não é para você. Vai colocar a farda que eu vou te deixar no colégio hoje. -Pai fala. Ele está mais carinhoso depois que fiquei internada, mas não quero que ele vá me deixar na escola. Não hoje.

-Mas pai...

-Mas nada, minha querida.  Seu pai tem razão. A tarde nós iremos lá rapidinho. Agora a senhorita vai para escola. -Mãe conclui e já vi que não haverá como argumentar.

Como prometido, pai me deixou em frente a escola antes de ir para o trabalho. Mandou eu me comportar e me beijou a testa. Lembrei de quando eu era crianças e ele fazia isso todos os dias. Me senti protegida e amada. Senti que pai tentaria realizar todas minhas birras como quando era criança. Mas eu não era mais criança.

Entrei para a sala e fiquei quieta no meu canto como todos os outros dias. Mas hoje eu não tinha esperança de ver Eduarda ali. As aulas se passaram em passo de tartaruga e eu voltei correndo para casa.

Kelly

Cheguei na casa de minha vó e procurei um quarto para eu descansar. Acabei encontrando um que tenho certeza ser de Eduarda pelos desenhos na parede, me instalei por ali mesmo. Passei alguns minutos encarando as obras que ela fez e lembrando do quanto ela gostava de desenhar desde pequena. Acabei sendo vencida pelo cansaço e dormi.

Acordei e  faltava poucos minutos para as sete da manhã. Tomei um banho e fiz minha higiene matinal. Minha barriga rosnava de fome e fui a cozinha fazer um lanche antes de ir para o hospital.

-Oi vó, e ai? -Dei um beijo e um abraço nela.

-Ela está instável, mas foi um pouco mais grave que eu pensei. Está na uti -Minha vó estava visivelmente abatida. -Ela ainda não acordou. 

-Vózinha vá para casa descansar, ta bom?

-Eu vou. Mas quando ela acordar me avisa.

-Tá bom.  Beijo! Dorme viu, doninha.

-Tá bem, minha querida. Fica de olho e me avisa mesmo, tá bom? -Vó Diná saiu e eu procurei um lugar para sentar.

Liguei para Rick e ficamos conversando por um longo tempo esperando o médico aparecer.

-Senhorita Sykes? -Uma mulher apareceu com um jaleco e uma planilha de dados na mão. Era uma mulher bonita, apesar das olheiras visíveis ao redor dos olhos cor de mel.

-Sim. Kelly Sykes. -Estendi a mão para cumprimentar a médica. -Sou prima de Eduarda. Como ela está?

-Sua vó avisou que você iria vir para ficar com ela. Bom, ela teve um pequeno traumatismo que se agrava pelo problema que ela já tinha. -Ela olha uns papéis na planilha.-Ela poderá ter alguns lapsos de memória quando acordar. E só receberá alta quando tivermos certeza que não haverá mais problemas.

-Isso quer dizer que será em quantos dias?

-Três ou quatro dias, se ela acordar ainda hoje. Irei deixar o próximo plantonista responsável. Até mais kelly. -Ela pega em minha mão novamente. -Você poderá passar meia hora com ela.

Fui até o a sala que Duda estava e fiquei olhando para ela deitada na cama com tubos ligados alguns aparelhos.

-Acorda, meu amor! Quantas vezes você já deu esse susto na gente heim? Vamos sair daí e correr no parque, vamos? -Peguei na mão fria dela. -Se você acordar ainda hoje eu deixo você me desenhar... -Aproximei minha boca perto do ouvido dela. -Nua.

Fiquei mais um tempo com ela, até a enfermeira aparecer e mandar eu sair. Já era mais de onze horas e minha vó chegou para ficar com ela e eu fui para casa descansar. Com vários casos de internação de Eduarda, vó e eu aprendemos a dividir nosso tempo para não nos cansar demais. Ora ela ficava no hospital enquanto eu ia dormir, ora eu ficava enquanto ela descansava em casa.

A Breve História De Kelly e LauraOnde histórias criam vida. Descubra agora