Um sonho estranho

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O dia estava despontando e os corpos começavam a liberar um cheiro forte.

Decidiram que apesar dos ferimentos de Jiron não poderiam mais ficar ali, de dia não era seguro e outros poderiam aparecer seguidos pelo cheiro.

Jiron foi carregado por Jahil que não parecia se incomodar com o amigo em suas costas, andava no ritmo dos outros.

Lúcia ficava com pena de ver a pressa de Jahil. Ele estava com desespero de chegar a suas terras, e não iria dar sinal de cansaço mesmo que caminhassem o dia todo com Jiron em cima dele e Jiron era uma águia grande, devia ser muito pesado.

Jahil era destemido e teimoso, tinha sido ideia dele de carregar Jiron para não demorarem naquele acampamento pensando em uma maneira de levá-lo sem que ele sofresse muito, e assim andaram em ritmo acelerado naquele dia.

Logo haviam tomado uma boa distância daquele cemitério de seguidores e se sentiam um pouco mais seguros.

A montanha estava mais próxima e a floresta agora era totalmente fechada, não tinha mais estrada. Estavam andando pelo meio dela, para não ficarem expostos, e isso dificultava o avanço. Ádino ia a frente abrindo caminho.

Pararam para comer e cuidar dos ferimentos de Jiron, que já estavam fechadas e começando a cicatrizar, o que mais judiava de Jiron era o cansaço e a quantidade de sangue que tinha perdido.

Caluto apesar de estar fraca ainda, sobrevoava alto, mas não saia de perto deles, voava apenas o suficiente para garantir que poderiam seguir.

Tinham conseguido chegar ao pé da montanha quando a noite já dominava a paisagem, antes de começar a subir pararam para descansar e dormir.

Estavam todos exaustos, dois dias sem dormir direito o sono vencia qualquer vontade de continuar.

Luthiron ficou de guarda aquela noite no primeiro turno, depois seria Balmac.

O vilarejo parecia um campo de destruição, casas pegavam fogo e muitas criaturas pediam ajuda, os zargons gritavam e procuravam em todo o lugar.

Estavam enraivecidos e transtornados, queriam vingança pela morte de muitos do seu povo, Lúcia entendia perfeitamente suas palavras, andava pelo meio deles, estavam destemidos a acabar com aquele grupo de traidores.

Por ordem da feiticeira muitos tinham perdido a vida tentando. Eles estavam com raiva dela, e falavam do espectro com ódio indisfarçável.

Um Zargon de cor amarelada e muito grande rosnava ao soltar as palavras lembrando a ela a maneira de Balmac falar.

— Se tivéssemos alguma chance contra esse maldito espectro juro que o destruiria com as próprias patas.

Por causa dele, muitos dos nossos morreram. Ele mentiu para nós, disse que nos libertaria e até hoje estamos servindo ele nesses corpos imundos.

E agora ainda temos que obedecer aos caprichos daquela feiticeira maldita, enquanto nos mandam a morte, todos os outros estão a trabalhar somente em buscar as riquezas para ele e assegurar que os locais enfeitiçados continuarão, e nós ficamos com o sacrifico de nossas vidas, nada parecido com o que ele prometeu.

Outro lobo de tamanho menor começou a falar. — E ainda perdemos um da nossa raça a cada dia, estamos ficando menores e depois nem vai valer a pena ser liberto se continuar assim, estamos sacrificando nossa raça por uma mentira. Aquele de nossa raça que está do lado deles é que está fazendo a coisa certa.

Está lutando pelo que acredita, mesmo sem saber o que eles andam aprontando contra o espectro, nenhum deles morreu apesar de muitas investidas que fizemos sozinhos ou com ajuda não conseguimos nada além da morte dos nossos. — Muitos daqueles lobos concordavam com ira na voz e o lobo menor continuou. — Agora a feiticeira achou que quer o cavalo branco, apenas por capricho, e estamos aqui a lutar contra um pequeno grupo, mas forte e unido, se ela o quer tanto porque ela mesma não o captura?

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora