Lúcia sentia raiva do tempo que nunca mais passava, os ossos agora poucos, ainda eram muitos para dar esperança a ela de poder sair dali.
Sentia uma sede que lhe doía a garganta e com a chuva que havia caído o dia inteiro, a sede parecia ainda maior.
Já não se preocupava com a fome, apenas com a garganta seca pedindo água.
Dávolo percebia sua aflição. — Precisa dormir um pouco para esquecer a sede e a fome Lúcia.
Ela já havia tentado dormir várias vezes, mas a angústia não deixava.
Já estava ali há muito tempo, e mesmo ao deitar seu corpo reclamava.
Colocou mais tantos ossos na pilha na fogueira e deitou se mexendo em várias posições, tentando encontrar uma que ainda não tivesse usado para descansar partes de seu corpo dolorido.
Depois de um longo tempo se ajeitando, se sentiu relativamente confortável, ficou quieta pensando em seus amigos lá fora, se preocupava com a falta de notícias, depois daquele silêncio que se instaurou após a batalha ela imaginou que viessem trazer noticias, mas nenhuma criatura apareceu.
Ficou ainda mais nervosa quando sentiu um cheiro estranho, algo sendo queimado e depois que perguntou o que era Linade simplesmente tinha lhe dito que estavam queimando os corpos dos companheiros mortos em combate. Uma singela cerimônia em homenagem à bravura deles.
Lúcia imaginou seus amigos no meio daquela pilha de corpos, e isso lhe deu arrepio.
Dávolo havia acalmado Lúcia dizendo que eles estavam bem, mas eram apenas palavras de conforto e ela sabia, vendo o olhar preocupado que ele lançava pela janela.
Voltou a pensar em Luthiron por um longo tempo, depois em Balmac e Ádino, Jiron e Caluto e por fim Jahil e no povo dele que nem devia imaginar o que os esperava no dia seguinte.
Lúcia tinha certeza que Jahil não iria dizer a eles para que não ficassem esperançosos e depois sofressem se caso não desse certo.
Novamente lhe vinha à mente um ou outro ferido, e chacoalhava a cabeça para tentar se livrar desses pensamentos.
Colocava um ou outro osso na fogueira enquanto tentava dormir, a inércia, a fome e a sede a estava deixando fraca, ela sentia isso.
O sono começava a chegar e Lúcia o recebia com alegria, iria conseguir dormir um pouco e deixar os pensamentos ruins para quando acordasse.
Dormiu um longo tempo até ser acordada por Dávolo para alimentar o fogo, colocou tudo o que conseguiu no fogo e voltou a dormir.
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O dia amanheceu nublado, o sol brigava com as nuvens por algum espaço.
Mas as nuvens venciam encobrindo tudo e deixando o sol apagado e opaco.
Ainda assim ele teimava em brilhar por trás delas, anunciando que em algum momento ele venceria, Jahil estava sonolento quando Jiron apareceu para trocar de guarda com ele.
— Eu descansei bastante meu amigo. — disse Jiron quando Jahil insistiu para que ele descansasse mais um pouco. — Agora pode deixar comigo que ficarei atento a qualquer movimentação, mesmo que eu não acredite que apareçam ainda pela manhã.
— Pode contar comigo também, estou renovada. — disse Caluto pousando com graça ao lado de Jiron.
Jahil parou de tentar dissuadir os dois de ficarem ali de vigia e seguiu para a direção da escada dizendo: — Bem então vou ver como estão às coisas no portão que os centauros arrumaram, pelo visto Érono não ficou muito satisfeito e pediu para que reforçassem o portão com toda a madeira que ficou largada por ai, dessa vez ele quer que seja mais demorada a entrada dos seguidores.
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Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1
FantasyEla não imaginava que viajaria pelas terras de Heleno acompanhada de tantas criaturas, ela não imaginava que muitos povos dependiam dela, muito menos sabia que teria missões a cumprir e que a cada missão concluída com sucesso, um povo seria libertad...