Carta de seu pai

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Acordou com os raios de sol entrando pelas frestas de seu quarto, levantou de sobressalto e acabou sorrindo. Era o sonho mais interessante que já havia tido e tendo certeza que encontraria apenas seus avós na cozinha trocou rapidamente a camisola pelo vestido e saiu do quarto.

Lá estava sua avó mexendo com o desjejum e como estava sozinha a certeza de Lúcia aumentou e ela começou a sentir uma alegria esquisita, era como se não fosse realmente o que queria e quando foi perguntar sobre isso Balmac entrou na cozinha com um ar alegre.

— Bom dia Linade, bom dia senhorita Lucastra dormiram bem?

Lúcia estava pasma não tinha sido sonho, havia sido bem real e aquele lobão alegre na sua frente provava isso, agora ele falava com ela.

— Senhorita Lucastra já comeu carne de veado?

Linade parou de sovar a massa e ficou olhando para ela que não sabia o que responder. Por fim se decidiu pela verdade. — Sim Balmac.

Viu decepção em seus olhos, porém ele não se deixou vencer. — Venha ver Lucastra, mas era assim uma carne de tanta qualidade quanto essa?

Ela saiu atrás dele para o quintal acompanhada da avó e viu o veado morto no chão, não sabia bem como responder, lembrou do que tinha prometido a si mesma na noite anterior, ganhar a confiança e com essa grande oportunidade decidiu arriscar e ver a reação dele.

— Já comi carne de veado Balmac, mas nunca um grande e gordo assim, o senhor sabe muito bem escolher uma boa caça.

Ele ficou visivelmente contente com o elogio e novamente contemplou seu troféu, Lúcia olhou para sua avó e ela lhe sorriu e fez um aceno singelo com a cabeça aprovando sua conduta, logo apareceu Ádino com seu jeitão desengonçado olhando o veado e dando um estranho sorriso.

— Uau! Balmac meu grande amigo, dessa vez você caprichou na caça, esse veado parece bastante suculento me deu até fome.

Balmac pareceu muito satisfeito. — Ádino fiz minha parte agora você faz a sua.

Olhou para Lúcia ao passar e ela teve a certeza que ele ia lhe dizer algo, mas ele passou direto depois de hesitar alguns segundos.

Lúcia sorriu amigável para Ádino e correu para a cozinha atrás de sua avó que lhe esperava na porta sorrindo.

— Gostei da maneira como agiu com Balmac, foi digno de sua parte reconhecer o trabalho dele, se bem o conheço agora ele vai andar pela floresta para procurar algo ainda mais apetitoso para o jantar, agora nada de chamar ele ou os outros de senhor.

— Esta bem vó. O que Balmac queria dizer quando falou para Ádino que havia feito sua parte e que agora era a parte dele?

— Ádino é o cozinheiro.

Não podia acreditar que aquela enorme e desajeitada criatura é quem cozinhava no grupo. — Mas vó ele é tão...

Linade se virou olhando sério para ela. — Desajeitado? Imenso? Parece sujo? É isso? Pois saiba que ele é desajeitado sim, mas apenas com outras coisas. Não olhe dessa forma como se fosse impossível, não sei se você reparou, mas ele é o único que tem mãos e não patas, asas ou garras, ou seja, o único que poderia cozinhar no grupo é ele, e para seu governo a comida dele é muito bem feita.

Não julgue as aparências Lúcia, se você olhar com os olhos do coração saberá julgar não a forma, mas o coração de quem quer que seja.

A vergonha se concentrou em seu rosto, isso seria sua segunda lição e meta, nunca ver com os olhos e sim com o coração.

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora