Útil finalmente

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— Concordo com você, se conseguirmos chegar até Niedra sem levantar muitas suspeitas, poderemos partir para o próximo a ser liberto mais rápido.

Lúcia ficou em silêncio, ouvir isso era sempre dolorido. A expectativa de saber quem era o próximo torturava a todos e consequentemente a torturava também.

Agora apesar da curiosidade ela não fazia perguntas idiotas de por exemplo. "O que você sentiria se fosse o próximo". Já tinha uma noção de que perguntas assim eram cruéis e magoavam.

— Quanto tempo acha que vamos levar para chegar a Niedra Luthiron?

— Temos que voltar a Elcandor por outra parte da floresta, então vamos subir a montanha do Desalento. Passaremos por um vilarejo chamado Baji e de lá seguiremos para Niedra.

Ainda teremos uma floresta bem densa para atravessar, mas nenhum vilarejo pelo caminho, o que vai diminuir o perigo.

O problema é quando encontrarmos Niedra, todavia, enquanto não chegarmos teremos que nos concentrar no perigo que possa vir a surgir.

Lúcia ficou preocupada. — Achei que o perigo era até chegar até lá e não depois de chegarmos.

Luthiron balançou a cabeça. — Desconfio que estejam nos caçando. O que mais me preocupa é que os zargons viram que somos bons guerreiros, e isso pode interessar o espectro.

— Eu entendo, ele pode ficar preocupado de que sejamos um problema no futuro.

Luthiron assentiu. — Exatamente. O problema de termos ficado um tempo sem informações é que estamos no escuro, não sabemos se estamos sendo caçados ou ainda somos um perigo invisível ao espectro.

Caluto pousou nas costas de Luthiron, entrando na conversa. — De todo jeito, nós estamos esperando eles, isso é o que importa.

— Como anda as coisas na frente Caluto?

— Tudo tranquilo Luthiron. Ainda estamos seguros, não vi nenhuma movimentação em direção alguma.

As orelhas dele mexeram de um lado ao outro e Lúcia já sabia que isso era sinal de preocupação, ele falou pensativo. — Esse silêncio, essa calmaria. Preferia saber de mais coisas, com essa quietude eu fico preocupado.

— Eu também, voei o mais longe que pude e nem assim vi nada de impressionante.

— Que continue assim então, sem nenhum problema até chegarmos.

Luthiron voltou seu olhar ao nada como sempre. Lúcia decidiu deixa-lo quieto, isso fazia bem a ele.

Andaram por horas. Jahil era o mais apressado, quando alguém falava em parar ele lembrava que a refeição da manhã tinha sido muito caprichada e precisavam economizar, Linade sorria quando ele defendia em continuar a marcha, Luthiron balançava a cabeça.

— Mesmo que fiquemos a andar o dia inteiro e a noite Jahil, sabe que não chegaremos lá amanhã.

Linade interviu concordando. — Logo estaremos no vilarejo, teremos que tentar passar despercebidos ou dar a volta por ele. Será bom evitar olhos curiosos, por isso temos que parar mais cedo hoje ainda com a luz do sol, para todos saírem à procura de alimento.

Ádino falou meio sem graça, com receio de Jahil ficar chateado. — Não é por nada, mas temos somente duas porções e para quem está de jornada, o estômago iria estar sempre reclamando de maus tratos.

Todos concordaram divertidos com simples e preciso arremate de Ádino no assunto. Jahil estava ficando encurralado.

Jiron falou alto para todos ouvirem. — Então, como não quero que meu estômago brigue comigo, acho melhor caminharmos por mais uma hora e depois nos dedicarmos a aumentar os suprimentos, seja de água, ervas, frutos o que encontrarmos. Ainda não é necessário passarmos fome.

Enquanto saem à procura de comida, Caluto e eu vamos voar e ver se estamos seguros, tentaremos ser rápidos e ir o mais longe que pudermos, essa falta de informação me deixa preocupado.

Todos assentiram e caminharam em silêncio, as palavras de Jiron, afetou o animo de todos.

Deram mais valor ao silêncio e escutaram com mais atenção os sons da floresta. Seria a primeira vez que Lúcia iria sair para caçar com os outros, e estava ansiosa e nervosa com sua primeira vez, ficou na expectativa de Jiron levantar a asa e dizer que seria ali que passariam a noite.

Para tortura de Lúcia isso demorou mais do que uma hora. Depois de duas horas Linade achou um local que parecia seguro.

As árvores eram mais robustas e com folhagem mais densa deixando a mata mais fechada e segura para saírem à caça.

Assim que pararam, Ádino como costume saiu à cata de madeira para acender um fogo, Jahil o acompanhou, parecendo conformado com a derrota.

Luthiron saiu a galope. Caluto e Jiron saíram em voo alto. Balmac saiu para caçar e Lúcia em silencio saiu por outro lado.

Linade ficou olhando para ela, porém não disse palavra e adentrou o mato.

Lúcia ficou contente por Linade não a parar. Já era um começo e teria que fazer jus a essa confiança.

Andou em silêncio, observando as árvores e procurando algum sinal de pegadas no chão, com seus passos silenciosos conseguia ouvir os pequenos barulhos que a viva floresta fazia.

O vento tão suave tinha sua melodia enriquecida com o balanço das arvores e com essa brisa também veio um som característico, os barulhos de passadas macias a fez parar um momento.

Seguiu a direção do som caminhando devagar. Não queria espantar sua caça com uma pressa desnecessária, ao longe viu um javali enorme, seria um bom começo se ela conseguisse caçá-lo, já havia caçado vários deles nas terras de Carnuin.

Estava muito longe para tentar acertá-lo com uma flecha, poderia acertá-lo sem problemas, mas a flecha poderia perder a força com a distância, isso só torturaria o animal sem necessidade, tinha que se aproximar um pouco mais.

O animal não sentiu sua presença ou sequer escutou algum barulho que o pudesse deixar alerta.

Quando ela sentiu que estava a uma distância boa, mirou na direção do javali, lançou a flecha e em questão de segundos o imenso animal jazia quieto no chão.

Ao menos não sofreu pensou Lúcia, seus passos agora eram mais velozes, mas ainda assim silenciosos, carregou à presa e o colocou nos ombros, era pesado.

Concentrada em sua tarefa, não tinha percebido que a noite já começava a cair. O sol era apenas um arco de luz alaranjada no horizonte.

Apesar do peso tentou apressar o passo, teve a sensação desgostosa que se demorasse um pouco mais, daria de encontro com todos a sua procura.

Não queria que isso acontecesse, seria um mau começo, quando chegou ficou surpresa ao ver todos conversando animadamente em volta ao fogo.

Luthiron tinha voltado e trazido consigo muitas raízes e plantas. Ádino já tinha preparado o jantar. Luthiron olhou ansioso em sua direção quando ela se aproximou, estava preocupado,

Linade apesar de tentar disfarçar, não conseguiu esconder o alivio de vê-la bem, e seu olhar aliviado deu lugar a um olhar orgulhoso ao ver o animal. Ádino com sua simplicidade foi o mais claro em seus pensamentos.

— Não pensei que iria trazer um animal tão grande e briguento em sua primeira caçada.

Lúcia entendeu o olhar alegre de Balmac quando recebia elogios parecidos, era maravilhoso poder ser útil finalmente.

Depois de Ádino tirar o javali de seus ombros ela se sentiu agradecida por se livrar daquele peso, sua camisa estava suja do sangue.

— Se quiser se lavar tem um riacho aqui perto Lúcia.

Ela olhou para seu corpo falando distraída. — Obrigado Luthiron preciso mesmo lavar essa camisa.

Linade os observava em silencio, não fez nenhum comentário, mas quando Lúcia a olhou por cima do ombro ela ameaçou um sorriso e acenou com a cabeça. Não precisava palavras, aquele gesto era mais que suficiente para ela.

Oieee gente :D Ui mais um pedacinhooo espero que gostem *-* Beijoooo   

Crônicas Helenísticas- Niedra Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora